Matheus Viana
Ao
ler este título, os mais familiarizados com as Escrituras lembram-se,
subitamente, da passagem registrada por Lucas quando Paulo pregou o Evangelho
em Atenas (Atos 17:23). Para entendermos o teor desta mensagem, devemos
conhecer o conceito bíblico de Reino de
Deus.
Tal
conhecimento demanda uma análise do pensamento que fundamentava e alimentava a
expectativa dos judeus no tocante à Sua manifestação. O que não é possível sem
uma prévia análise sobre a monarquia em Israel. Ela substituiu o modelo dos
chamados juízes de Deus sobre o povo, que eram libertadores levantados por Ele para livrar Israel do opróbrio de seus inimigos
(Juízes 2:16).
As
Escrituras afirmam que a substituição dos juízes por um rei foi pedida pelo
povo (I Samuel 8:6). Para a entendermos, convém analisarmos por que Deus
instituiu juízes. O livro dos Juízes começa narrando a guerra de Israel contra
os cananeus e demais povos que habitavam Canaã, a terra que Deus concedeu a
Israel como cumprimento da profecia feita a Abraão. Contudo, algumas tribos não
expulsaram todos os povos que deveriam expulsar. Na contramão, fizeram acordos
para que eles continuassem habitando no meio deles. A maioria destes povos
serviam as tribos de Israel como escravos.
Jesus
- ainda não manifesto como homem e descrito na narrativa bíblica como O Anjo do SENHOR - apareceu ao povo e
disse: “Tirei vocês do Egito e lhes
trouxe à terra que prometi aos seus antepassados. Eu disse: Jamais quebrarei a
minha aliança com vocês. E vocês não farão acordo com o povo desta terra, mas
demolirão os seus altares. Por que vocês não me obedeceram? Portanto, agora
lhes digo que não os expulsarei da presença de vocês; eles serão seus
adversários; e os deuses deles serão uma armadilha para vocês.” (Juízes
2:1-3).
O
primeiro ponto é a conivência e convivência com a idolatria. O mandamento de Deus era de destruir todos os altares a
deuses estranhos e expulsar todos os povos que os cultuavam para que a terra
fosse redimida e a cultura – em seu aspecto integral – de Deus fosse
estabelecida através da Lei de Moisés. Mas não foi o que ocorreu. A cultura
pagã destes povos tornou-se a cultura do povo de Israel, representado por suas
tribos: “Abandonaram o SENHOR, o Deus de
seus antepassados, que os havia tirado do Egito, e seguiram e adoraram vários
deuses dos povos ao seu redor” (Juízes 2:12).
Realidade
que nos enreda, guardadas as devidas proporções e observados os aspectos
peculiares. Os traços e valores da cultura secular anticristã vigente são,
consciente e inconscientemente, o fundamento do pensamento de muitos que se
proclamam cristãos. Suas ações conflitantes com a Ética de Deus (Jesus Cristo
revelado pelas Escrituras) ao homem são meras consequências. A apostasia vivida
por Israel naquele contexto é completamente pertinente aos nossos dias: “Depois que aquela geração (de Josué) foi reunida aos seus antepassados, surgiu
uma nova geração que não conhecia o SENHOR e o que ele havia feito com Israel.
Então os israelitas fizeram o que o SENHOR reprova e prestaram culto aos
baalins.” (Juízes 2:10-11 – Ênfase acrescentada).
Esta
apostasia foi resultado de Josué e toda a geração que lhe foi contemporânea
morrerem. Eles não ensinaram a geração posterior guardar os preceitos de Deus,
a prestar-Lhe o culto racional. Na
esteira do historiador eclesiástico cristão Eusébio de Cesareia, Josué foi, em
seu tempo, uma tipificação de Jesus. No entanto, o fato de Jesus “ter morrido”
não se refere à Sua morte redentora, seguida da gloriosa e triunfante
ressurreição; mas ao fato de Ele não ocupar, no coração das pessoas, o lugar
que Lhe é devido. Além de ser simplesmente esquecido por muitos, Seu Evangelho
tem sido deturpado, o que corrobora na deturpação de Seu legado e de Sua
identidade. O não reconhecimento de quem Ele É resulta na não entronização do
Seu nome. Desta forma, a cultura padece.
Juntamente
com a “morte de Jesus”, temos a “morte” da doutrina apostólica. Assim como a
geração de Josué pereceu, os legados dos apóstolos e dos chamados pais da Igreja – ou pais apostólicos -, registrados por eles para a manutenção do
cristianismo e seu ensino às gerações posteriores, não são considerados. O
estudo da chamada História da Igreja
foi reduzido ao patamar da “intelectualidade inútil” ou “teologismo frio”, bem
como todo arcabouço teológico, oriundo dos profetas, dos apóstolos e dos pais
que ajudou a construir a ortodoxia cristã, necessária para que a Igreja
permanecesse vencedora nos seus primeiros séculos de existência.
É
claro que devemos considerar a abordagem da teologia liberal que reduz Jesus a
um mero personagem histórico por analisa-Lo segundo o método histórico/crítico,
baseado na dialética hegeliana, mas com um caráter materialista. Na tentativa
de eliminar este erro elementar, comete-se outro erro: o de ignorar o estudo
dos contextos históricos que enredam as Escrituras. Desta forma, o Jesus
histórico passa a ser um Jesus meramente místico, mágico. Semelhante a um gênio
da lâmpada que existe apenas para cumprir os nossos desejos que, conforme
advoga a perniciosa “teologia” da prosperidade, “temos direito de recebê-los
através do Sangue de Cristo”. A afirmação “eu determino em nome de Jesus” surge
a roldão. Assim, Seu nome Santo e Soberano é, consequentemente, reduzido ao
patamar de elemento de um chavão pronunciado com intentos mágicos. “Em nome de
Jesus” é declarado com o mesmo caráter da expressão “Abracadabra”. Heresia pura
e simples. Tudo isso fruto do não conhecimento de quem Ele, de fato, é.
O
resultado não poderia ser diferente. À semelhança do povo hebreu quando
construiu o bezerro de ouro, por ser o modelo de culto que ele aprendeu no
Egito em 400 anos de escravidão, há denominações chamadas evangélicas que usam
como adereços de culto fantasias de super-heróis, de dinossauros entre outros.
Demonstrações evidentes de que os aspectos culturais seculares, chamados de cultura pop ou pop arte, - não apenas na forma (estética e linguagem), mas também
na essência - permeiam seus corações de modo a determinar seus pensamentos,
sentimentos e atitudes. Não podemos dizer que a intenção seja equivocada. O
motivo é que não conhecem Jesus Cristo.
Pois o “Cristo” que eles conhecem é completamente moldado pela cultura vigente,
idólatra em sua essência. Em outras palavras, o Cristo que eles cultuam é um
criado à imagem e semelhança dos anseios humanos. O nome disto é? Idolatria.
Os
povos não expulsos da terra pelos israelitas tornaram-se seus inimigos,
instrumentos de opróbrio. Quando não somos governados por Deus, somos
governados pelos nossos maus desejos. Aquilo que transformamos em objeto de
culto torna-se nosso dominador. O povo de Israel rejeitou a vontade de Deus,
fruto de Seu governo, para se conformar às culturas das civilizações idólatras
e, por isso, foi por elas dominado. O que governa o nosso coração? A resposta
está em nossa forma de pensar, de sentir e de agir. Expressa em nossa forma de
culto. Algumas denominações ditas evangélicas estão enredadas e dominadas pelas
teias do Homem-Aranha, literalmente. Outras estão no cativeiro da história
antiga, cujos “sacerdotes” são dinossauros. Quem ler, entenda! Que a verdadeira
Igreja de Jesus seja despertada, a fim de que Cristo, Filho do Deus vivo, O
Soberano SENHOR, seja cultuado!