sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Fazer e ensinar

Matheus Viana

Há quem discorde de mim, mas afirmo mesmo assim: o ofício de professor – ou mestre - é o mais importante na formação e no exercício de uma cidadania digna. Não me refiro apenas ao caráter pedagógico e acadêmico - apesar de seu papel fundamental -, mas a toda sua amplitude.

O legado de Jesus se resume em duas ações: fazer e ensinar. O nosso não deve ser diferente. Por isso Lucas, na introdução do livro de Atos, escreve: “Escrevi o primeiro relato, ó Teófilo, acerca de tudo quanto Jesus começou a fazer e ensinar.” (Atos 1:1). O fundamento de Sua Igreja, de acordo com a elucidação do apóstolo Paulo, é desdobramento de Seu ensino (Efésios 2:20) e também de Sua ação (Evangelho segundo Mateus 16:18).

Um de Seus principais ensinamentos foi o de fazer discípulos (Evangelho segundo Mateus 28:19). Discípulo é um aprendiz, ou seja, um aluno. Digo, portanto, que é muito mais do que um aluno, pois não apenas recebe os ensinamentos, mas segue os passos de seu mestre e faz tudo o que ele faz. O próprio Jesus só fez aquilo que viu o Pai fazer (Evangelho segundo João 5:19).

A Igreja se encontra distante do padrão de Jerusalém porque perdeu a disposição de ensinar. Está concentrada apenas no fazer: encher os templos. O tempo investido no ensino minucioso e completo do Evangelho – discipulado - é considerado por muitos como “teologismo inútil” ou “intelectualismo desnecessário”. Ignorando desta forma a advertência de Jesus aos saduceus: “Errais por não conhecerem as escrituras e nem o poder de Deus”. (Evangelho segundo Mateus 22:29).

Os saduceus eram peritos da Torah - Livro da Lei e dos profetas. Mas não conheciam o Logos, ou seja, o próprio Jesus que preconiza: “Examinais as escrituras, pois elas de mim testificam”. (Evangelho segundo João 5:39). Ele é o verbo encarnado (Evangelho segundo João 1:1 e 14). Por isso, não podemos desvencilhar o exercício de nossa intelectualidade baseada nas Escrituras, a fim de termos a mente de Cristo (I Coríntios 2:16), da manifestação de Seu poder mediante o Espírito Santo (Evangelho segundo João 1:12, Atos 1:8). Sim, é verdade que não podemos nos esquecer de, conforme adverte o apóstolo Paulo: “A palavra, por si só, mata, mas o espírito vivifica”. (II Coríntios 3:6). Contudo, a “demonstração de espírito e poder.” (I Coríntios 2:5) não pode anular a meditação e o ensino da Palavra para que nossa mente – isso mesmo, intelecto - seja transformada a fim de experimentarmos Sua boa, perfeita e agradável vontade (Romanos 12:2). 

Todavia, parece que nos esquecemos de que a Igreja de Jesus só foi estabelecida após três anos de um contundente discipulado. Pedro que o diga. Ao olharmos os Evangelhos de maneira acurada, vemos que Jesus apenas ensinou e colocou em prática seus ensinamentos. É exatamente isto que somos chamados a fazer. Isto é Cristianismo. Não há “técnica de evangelismo” mais eficaz do que esta. Não é a toa que o título ao qual Jesus foi reconhecido, na maioria das vezes durante seus 33 anos de vida terrena, foi o de ‘Mestre’.

As cartas de Paulo são nada mais, nada menos do que... ensinos. Por isso ele foi o principal evangelista do Novo Testamento. Seu êxito (II Timóteo 4:6) foi consequência de... Isso mesmo: fazer e ensinar. Muitos definem o termo ‘evangelismo’ como o anúncio das boas novas da salvação, o que não deixa de ser verdadeiro. Jesus nos ensinou a pregarmos o Evangelho a toda criatura (Evangelho segundo Marcos 16:16). E é neste quesito que há algo ainda não compreendido em sua plenitude.

Analisemos o caráter do Evangelho ao qual Jesus praticou. Veja o que Ele, em uma sinagoga – lugar onde os mestres ensinavam -, proclamou: “O Espírito do Senhor é sobre mim. Pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados de coração.” (Evangelho segundo Lucas 4:18).

No entanto, a pregação do Evangelho pleno consiste em serviço, pois Jesus ensinou: “Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal. (...) Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos.” (Evangelho segundo Mateus 20:26-28). Ou seja, trazer a “boa nova do evangelho” é suprir a necessidade de seu próximo e ser agente de transformação em todos os âmbitos de sua vida. Em outras palavras, fazer e ensinar.

Um comentário:

  1. Boa reflexão professor Matheus, a Igreja por meio do discipulado ensina o caminho do céu e também da terra, da honra e da digniidade.

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