sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Necessidade de regredir


O cárcere de José foi a plataforma para o cumprimento do sonho que Deus lhe deu. Na perspectiva humana, José estava regredindo. Mas na de Deus, estava galgando a escada rumo à plenitude da “boa, perfeita e agradável vontade de Deus”. (Romanos 12:2).

Matheus Viana

Regredir nem sempre é um sinal de derrota. C. S Lewis (1898-1963) em seu livro ‘Cristianismo Puro e Simples’ ilustra esta verdade dizendo que o fato de uma pessoa que trilha uma rota equivocada parar e regressar indica progresso. Pois tal ato demonstra que ela converteu seus passos rumo ao alvo correto. Ou seja, seu regresso é completamente necessário para alcançá-lo. Quanto antes acontecer, mais rápido o alcançará.

Por muitas vezes temos a impressão de regredirmos em alguma situação turbulenta que nos acomete. Quando enfrentamos uma enfermidade, por exemplo, ao sentirmos os sintomas que apontam que estamos sucumbindo, temos a tendência de entregar os pontos. No entanto, precisamos nos lembrar que a aparente derrota de Jesus foi, na verdade, a maior de Suas vitórias. Apesar de todos os milagres que realizou, Sua morte na cruz foi o artifício único que nos garante a vida abundante que veio nos dar em todos os quesitos (Evangelho segundo João 10:10).

Isto não significa que estaremos extintos de aflições. Jesus também disse que as enfrentaríamos, mas, mediante Sua vida abundante, as venceríamos (Evangelho segundo João 16:33). Não é a toa que o apostolo Paulo preconiza: “Porque em tudo somos mais do que vencedores por meio daquele que nos amou.” (Romanos 8:37).

Contudo, esta vitória consiste em um processo, na maioria das vezes, bastante árduo. Afirmo por experiência própria. Há mais de 12 anos convivo com uma severa deformidade óssea. Partes vitais, como coração e pulmão, estão comprometidas em virtude das latentes curvaturas torácicas e vertebrais. Meu coração funciona de forma equivocada e minha respiração não chega a 20%. Tenho, constantemente, a impressão – além de sentir as dores que beiram o insuportável – de que a curvatura está avançando. O que indica que meu corpo está sucumbindo.

Sim, sou tentado a regredir em minha fé. Mas, subitamente, me lembro de que, apesar da respiração precária, não uso nenhum tipo de auxílio, como por exemplo, um tubo de oxigênio. Há anos vários pneumologistas me informaram da necessidade. No entanto, ela nunca se consumou. Respiro com limitações, é verdade, mas de forma completamente natural. Ou melhor, sobrenatural. Pois é o fôlego de vida, o mesmo que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, que habita em mim (Romanos 8:11). E, por isso, continuo nutrindo minha fé de que o restante da profecia de Paulo se cumprirá em minha vida: “... e vivificará os vossos corpos mortais”.

A morte de Lázaro foi o palco para a manifestação do poder de Deus através de Jesus (Evangelho segundo João 11:40). A queda e a cegueira de Paulo foram o início de uma jornada exitosa (Atos 9:15). O fato de João Batista não ter acesso ao suntuoso Templo em Jerusalém para pregar no causticante e árido deserto da Judéia foi determinante para cumprir o propósito divino (Evangelho segundo Mateus 3:1-2).

José, como servo de Potifar, fez o que era certo e, por isso, foi lançado no cárcere. Não parece injusto? Contudo, o cárcere foi a plataforma para o cumprimento do sonho que Deus lhe deu. Na perspectiva humana, José estava regredindo. Mas na de Deus, estava galgando a escada rumo à plenitude da “boa, perfeita e agradável vontade de Deus”. (Romanos 12:2).

Por várias vezes indaguei: Deus, o Senhor não poderia fazer a obra que tens feito em minha vida sem eu precisar passar por todo o sofrimento que esta deformidade tem me causado? Ele nunca me respondeu... da maneira que eu quis ouvir. Mas Seu Espírito Santo tem ministrado em mim a consciência de que, se eu não passasse por isso, nunca me debruçaria nas Escrituras como tenho feito ao longo destes anos. Nunca ouviria a voz de Deus me dizendo o que fazer e ensinar nem tampouco me submeteria à sua boa, perfeita e agradável vontade. Ou seja, estava trilhando uma rota completamente equivocada. A enfermidade foi a maneira que Deus usou para me mostrar a necessidade que eu tinha de parar e regredir.

Entretanto, este aparente regresso é que tem me conduzido, conforme Paulo preconiza, ao alvo da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus (Filipenses 3:14). Foi a abrupta queda e a consequente cegueira que fizeram com que Paulo regredisse em sua rota equivocada. De perseguidor de cristãos, passou a ser um cristão perseguido. Os gentios - não judeus -, inclusos eu e você, conheceram o Evangelho de Cristo, em grande parte, graças à sua abnegação. O que parecia um regresso redundou na salvação dos gentios. Se Paulo não “regredisse” em seu caminho, a magnífica e soberana obra de Cristo não surtiria efeito. 

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