É impressionante detectar como o episódio
vivido por Jesus, há milênios, seja atual: “Nesse
meio tempo, tendo-se juntado uma grande multidão de milhares de pessoas, ao
ponto de se atropelarem umas às outras, Jesus começou a falar primeiramente aos
seus discípulos, dizendo: ‘Tenham cuidado com o fermento dos fariseus, que é a
hipocrisia’” (Evangelho segundo Lucas 12:1).
Ao nos depararmos com o termo hipocrisia, surge em nosso interior uma súbita rejeição. Isso, portanto, é fruto de um entendimento raso, e por vezes equivocado, do termo. Uma análise mais profunda é suficiente para vermos que, apesar de rejeitarmos a expressão, somos hipócritas em alguma área de nossas vidas. Mas, antes de tal análise, convém nos atentarmos ao contexto em que Jesus fez tal advertência.
Ao nos depararmos com o termo hipocrisia, surge em nosso interior uma súbita rejeição. Isso, portanto, é fruto de um entendimento raso, e por vezes equivocado, do termo. Uma análise mais profunda é suficiente para vermos que, apesar de rejeitarmos a expressão, somos hipócritas em alguma área de nossas vidas. Mas, antes de tal análise, convém nos atentarmos ao contexto em que Jesus fez tal advertência.
Ele estava cercado de uma grande
aglutinação de pessoas que queriam ver Seus milagres. Atualmente, não é
diferente. Além de ser um país majoritariamente cristão, nas últimas quatro
décadas o Brasil viveu – e ainda vive - um crescimento vertiginoso no número de
cristãos, principalmente de confissões evangélicas/pentecostais e neopentecostais.
De acordo com o mais recente censo demográfico feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgado em 2012, o número de evangélicos cresceu em 61,45% no período de 10 anos (2000 a 2010). Conforme afirma o IBGE, em 1980 o número de evangélicos no Brasil era de 6,6% da população. Em 1991, foi para 9%. Em 2000, 15,4% da população afirmavam ser cristãos evangélicos. Em 2010, este número subiu para 22,2%.
De acordo com pesquisa realizada pelo DataFolha, nos dias 5 e 6 de dezembro de 2019, dos 80% dos brasileiros que confessam ser cristãos, 31% afirmam ser evangélicos. Ou seja, os evangélicos-protestantes, atualmente, são uma porcentagem bastante expressiva em um país de colonização católica.
De acordo com o mais recente censo demográfico feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgado em 2012, o número de evangélicos cresceu em 61,45% no período de 10 anos (2000 a 2010). Conforme afirma o IBGE, em 1980 o número de evangélicos no Brasil era de 6,6% da população. Em 1991, foi para 9%. Em 2000, 15,4% da população afirmavam ser cristãos evangélicos. Em 2010, este número subiu para 22,2%.
De acordo com pesquisa realizada pelo DataFolha, nos dias 5 e 6 de dezembro de 2019, dos 80% dos brasileiros que confessam ser cristãos, 31% afirmam ser evangélicos. Ou seja, os evangélicos-protestantes, atualmente, são uma porcentagem bastante expressiva em um país de colonização católica.
Contudo, esta multidão, em sua
esmagadora maioria, não é formada por discípulos.
Conforme Lucas registrou, Jesus preteriu a multidão e falou, de forma exclusiva,
com os discípulos. Qualquer semelhança com a realidade contemporânea não é mera
coincidência. Não faço esta afirmação a esmo, desprovido de fatos que a
sustentem. Por isso, apresento-os de agora em diante.
Assim como na época de Jesus, os pertencentes
à multidão buscam Seus milagres e a plena satisfação de suas necessidades, não
fazendo questão de Seu ensino. Ao ler este texto, surge em minha mente a
lembrança de alguns templos repletos de pessoas buscando o milagre de cada dia. Se você for sincero, reconhecerá que em sua
mente também. Toda a liturgia do culto neles exercida é voltada para que o
participante possa fazer a sua súplica. Uma espécie de “mercado dos milagres”.
A gritaria histérica que eclode dos púlpitos, e concomitantemente entre os participantes,
lembra o frenesi de uma bolsa de valores em operação.
Não há ensino da Escritura. Apenas o
entoar de canções curtas e repetitivas, semelhantes a um mantra, regadas a
orações repletas da sentença: “Eu
determino, em nome de Jesus”. Há ainda aqueles que não querem nem o milagre
da manifestação sobrenatural, mas apenas receber roupa, alimento e dinheiro. Ou
seja, pessoas que frequentam tais denominações com o entendimento de que Igreja
é nada mais, nada menos do que uma instituição de assistência social. Assim, veem
o cristianismo (ou melhor, uma séria distorção dele) como um assistencialismo. Ao
fazer uma clara dicotomia entre Graça preciosa e graça barata, Dietrich
Bonhoeffer afirmou:
“De acordo com a
palavra de Jesus, há somente dois sentimentos em relação a Deus: devoção ou
desprezo. Se não amarmos a Deus, o odiaremos. Não existe meio-termo. Deus é
assim, e por isso mesmo Ele é Deus; só pode ser amado ou odiado. Existe somente
esta opção: amarmos a Deus ou os bens do mundo”.[1]
A mensagem de Jesus aos discípulos foi
sucinta: “Tenham cuidado com o fermento
dos fariseus, que é a hipocrisia”. Ele não utilizou a analogia do fermento em vão. Por ser um mestre
judeu, estava evocando o princípio estabelecido na Lei, contido na festa dos
pães asmos (Êxodo 23:14-15). Esta celebração tinha como intento relembrar a
libertação do povo hebreu da escravidão do Egito.
Na primeira Páscoa da história, o cordeiro sacrificado, cujo sangue seria vertido nos umbrais das casas para que seus moradores não fossem atingidos pelo anjo da morte, seria comido pelas famílias com pão sem fermento (Êxodo 12:8). Os discípulos, assim como o pão asmo, que tipifica Cristo (Evangelho segundo João 6:51)[2], devem ser sem fermento. Foi baseado neste princípio que o apóstolo Paulo advertiu aos coríntios: “... vocês não sabem que um pouco de fermento faz toda a massa ficar fermentada? Livrem-se do fermento velho, para que sejam massa nova e sem fermento, como realmente são. Pois Cristo, nosso cordeiro pascal, foi sacrificado” (I Coríntios 5:6-7).
Na primeira Páscoa da história, o cordeiro sacrificado, cujo sangue seria vertido nos umbrais das casas para que seus moradores não fossem atingidos pelo anjo da morte, seria comido pelas famílias com pão sem fermento (Êxodo 12:8). Os discípulos, assim como o pão asmo, que tipifica Cristo (Evangelho segundo João 6:51)[2], devem ser sem fermento. Foi baseado neste princípio que o apóstolo Paulo advertiu aos coríntios: “... vocês não sabem que um pouco de fermento faz toda a massa ficar fermentada? Livrem-se do fermento velho, para que sejam massa nova e sem fermento, como realmente são. Pois Cristo, nosso cordeiro pascal, foi sacrificado” (I Coríntios 5:6-7).
Uma breve autoanálise é suficiente para diagnosticarmos
o fato de que há muitos fermentos em nós. O apóstolo João advertiu: “Aquele que diz não ter pecado, a si mesmo
se engana, e a verdade não está nele” (I João 1:8). Este fermento reside em
nossa mente (Romanos 12:2, II Coríntios 10:5) e em nosso coração (Jeremias
17:9, Evangelho segundo Marcos 7:21-23, Tiago 4:3). O coração do homem foi
contaminado como consequência do fermento da serpente corromper primeiramente
sua mente (Gênesis 3:1-6). Este foi o fato sobre o qual o apóstolo Paulo
fundamentou sua exortação:
“O que receio, e quero evitar,
é que assim como a serpente enganou Eva com astúcia, a mente de vocês seja
corrompida e se desvie de sua sincera e pura devoção a Cristo. Pois se alguém
vem pregando um Jesus que não é aquele que pregamos, ou se vocês acolhem um
espírito diferente do que acolheram ou um evangelho diferente do que aceitaram,
vocês o toleram com facilidade”.
(II
Coríntios 11:3-4)
Como podemos ver, a estratégia do inimigo
não muda. O primeiro ponto em que ele visa nos contaminar com o seu ardiloso
fermento é a nossa mente. Contudo, o intento é alcançar o nosso coração de modo
a perverter a nossa devoção. Por isso o apóstolo Paulo preconizou que, para
vivermos a boa, perfeita e agradável vontade de Deus, temos que renovar a nossa
mente. Ou seja, tirarmos dela todo tipo
de pensamento que não seja condizente com a Soberana Palavra de Deus. Esta
renovação de mente, no entanto, consiste primeiramente em não nos conformarmos
com o sistema secular vigente (Cf. Romanos 12:2) em quaisquer de seus âmbitos.
Eis o desafio.
Atuo
na área da educação - pedagógica e teológica. O número de professores cristãos contaminados
pelo fermento do materialismo histórico/dialético - que sustenta as teologias liberal e da libertação -, do existencialismo e de várias outras filosofias destoantes
das Escrituras é assustador. O pior é que, para as sustentarem, usam textos
bíblicos completamente amputados de seus contextos históricos, gramaticais e
semânticos. Praticam, exaustivamente, uma hermenêutica equivocada, recheada de anacronismos e fundamentada
no método histórico-crítico. Estão contaminados pelo fermento do secularismo,
mas não têm consciência disto. Ignoram a advertência do apóstolo Pedro:
“Antes de mais nada,
saibam que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois
jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de
Deus, impelidos pelo Espírito Santo”.
(II
Pedro 1:20)
Como resultado de suas mentes terem sido
capturadas por pressupostos seculares, seus corações foram por eles cooptados,
fazendo com que se tornem a base para suas devoções. O próprio Jesus afirmou: “Onde está o seu tesouro, ali está o seu
coração” (Evangelho segundo Mateus 6:21). Tal afirmação foi feita na
esteira da elucidação de Salomão: “De
todas as coisas que deves guardar, guarde o coração, pois dele procedem as
fontes da vida” (Provérbios 4:23) e também da declaração do salmista: “Guardo as tuas palavras no meu coração,
para que eu não peque contra Ti” (Salmo 119:11). O que está em nosso
coração passa, primeiramente, pela nossa mente. O que tem passado por ela? Não
seja contaminado por nenhum fermento!
Ao advertir os discípulos, Jesus falou de
um fermento específico: o dos fariseus.
Por quê? Havia naquele contexto uma dicotomia clara no tocante à Lei de Deus: a
interpretação feita pelo movimento rabínico, conhecida como tradição oral, cuja classe dos fariseus
fazia parte dela; e a interpretação feita por Jesus e ensinada aos Seus discípulos (Evangelho segundo Mateus 5:1-20).
Vemos este confronto no Evangelho segundo Marcos 7:1-13. Jesus e Seus
discípulos não observavam os costumes guardados pela tradição oral, que era uma
interpretação rabínica da Torah. A análise de Jesus no tocante a ela foi
precisa:
“Bem profetizou Isaías
acerca de vocês, hipócritas; como está escrito: ‘Este povo me honra com os
lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão me adoram; seus
ensinamentos não passam de regras ensinadas por homens’. Vocês negligenciam os
mandamentos de Deus e se apegam às tradições dos homens”.
(Evangelho
segundo Marcos 7:7-8)
[1] BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. São Paulo: Mundo Cristão,
2016. p. 138.
[2] Neste episódio, Jesus fez referência de
Sua vida como pão de forma análoga ao
maná, o pão (espécie de cereal) que
Deus derramava do céu para que o povo dele se alimentasse (Êxodo 16:4-16). Mas
este texto, embora se refira ao maná, também
fala do corpo de Cristo como sacrifício, fazendo desta forma alusão ao
sacrifício pascal.
Uma triste realidade.Que o Senhor encontre em nós um coração dispisto a obedecer sua voz, cumprir com humildade e temor sua Santa Palavra.
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