quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A caminho de Emaús


A saga da humanidade

Matheus Viana

No lusco-fusco da madrugada, em pleno curso da aurora, algumas mulheres foram ao sepulcro de um homem oriundo de Nazaré da Galileia que fora morto, dois dias antes, em Jerusalém pelos romanos por ter sido considerado criminoso pelos judeus. Depararam com algo inusitado. A pedra usada para fechar o lugar onde colocaram o corpo estava removida. O sepulcro estava vazio. O fato aparentemente inexplicável encontrava pouso no explicável cumprimento da profecia que dizia: “É necessário que o Filho do homem (...) seja crucificado e ressuscite no terceiro dia”. (Evangelho segundo Lucas 24:7)

Há muito a se falar sobre os desdobramentos desta profecia e da inefável experiência vivida por estas mulheres. No entanto, contenho-me a falar sobre a conduta de dois jovens que, no “frigir dos ovos”, é a mesma da humanidade.

Dirigiam-se para uma pequena cidade chamada Emaús, situada à cerca de onze quilômetros de Jerusalém. No caminho – convenhamos, uma distância considerável já que as viagens eram feitas a pé, a cavalo ou na corcova de camelos – conversavam sobre os fatos ocorridos na grande capital. A morte daquele galileu causou grande repercussão. O dia se transformou em trevas. O templo se fendeu e o véu foi rasgado de alto a baixo. A cidade foi totalmente tomada pelo alvoroço. Enfim, havia muitas coisas para confabularem...

Entretanto, em meio às numerosas análises e reflexões, surge um elemento estranho. Um homem se aproximou deles, os acompanhou pelo caminho em que seguiam e indagou: “Sobre o que vocês estão discutindo?”. (Evangelho segundo Lucas 24:17).

Seria ele um repórter do ‘Folha de Jerusalém’? Se existisse imprensa naquela época, com certeza o fato comentado por aqueles jovens teria sido a principal manchete. Matéria de capa. Pauta especial. Ambos não ficaram surpresos nem tampouco encabulados com a pergunta. Mas o que me chama atenção, quando leio este relato verídico, é que eles pararam com os rostos entristecidos. Perplexos, indagaram ao estranho: “Você é o único visitante em Jerusalém que não sabe das coisas que ali aconteceram nestes dias?”. Ou seja, que sujeito “desantenado” do mundo é este! Para piorar, o indivíduo ainda lhes pergunta: “Que coisas?”.

Antes de aprofundarmos nesta questão, quero refletir sobre o enredo que envolve a humanidade. Somos surpreendidos com os fatos que ribombam, de forma avassaladora e com uma velocidade cada vez mais implacável, na mídia e, quer seja direta ou indiretamente, afetam o nosso cotidiano. No entanto, em meio a este emaranhado escolhemos os nossos próprios caminhos. Ou seja, à margem do centro destes “grandes acontecimentos” sempre utilizamos como escape nossas “Emaús”. Para alguns a “Emaús” é a religião. Para outros, a política, a filosofia, a ciência, o ateísmo, a insanidade... Enfim, cada um se refugia em sua própria clausura.

Bem ao nosso lado está este “estranho” desejoso em nos acompanhar nesta tresloucada jornada, nos oferecendo uma via que, longe de ser alternativa ou se tratar de um mero e enganoso atalho, nos conduz ao horizonte da lucidez, do entendimento, da verdade e da vida (Evangelho segundo João 14:6). Contudo, o tratamos como um desinformado, que não compreende a nossa tristeza por não conhecer nossos infortúnios e sofrimentos. Tão alienado ao apuro alheio que, como perguntou aos dois jovens, nos pergunta: Quais coisas? Quais aflições? Quais sofrimentos?

Desfecho. Os dois jovens resolvem informar o até então “desinformado”. Após elucidarem todos os fatos juntamente com suas frustrações, começaram a ouvir, atentamente, o que o estranho começou a lhes dizer: “Como vocês custam a entender e como demoram a crer em tudo o que os profetas falaram! (...) E começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele nas Escrituras”. (Evangelho segundo Lucas 24:27).

Ambos começaram a compreender os fatos: toda aquela aparente catástrofe fora prevista pelos profetas e pelo próprio Galileu crucificado como cumprimento das profecias. Depois de elucidar os desdobramentos aos dois jovens, aquele estranho os convidou para seguirem adiante, mas eles não quiseram. Preferiram ficar em Emaús. E foi ali, quando convidaram aquele estranho a entrar e cear com eles, é que descobriram que era o próprio Jesus. “Não estava queimando o nosso coração, enquanto nos falava no caminho e nos expunha as escrituras?”, questionavam.

Muitas vezes temos a mesma atitude destes dois jovens. Ao invés de enfrentarmos os fatos, mesmo que sejam catastróficos e aparentemente irreversíveis, preferimos sair do epicentro do “terremoto” e refugiarmos em nossas “Emaús”. Por isso, nos encontramos a quilômetros de distância do caminho que nos fora divinamente predestinado (Salmos 139:16, Romanos 8:29). Além disso, culpamos Deus por permitir tais infortúnios e, segundo nossa perspectiva equivocada, achamos que Ele se comporta como um alienado no tocante às nossas lutas e dores.

Mas não nos enganemos! Ele sempre estará caminhando ao nosso lado nos fazendo o seguinte convite: “Eis que estou à porta e bato, aquele que abrir eu entrarei e cearei com ele”. (Apocalipse 3:20). Problemas? Quais problemas? Ele conhece cada uma de nossas lutas, mas naquela cruz do calvário venceu todas elas. E por isso possui toda autoridade para nos garantir: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”. (Evangelho segundo João 16:33). E, baseado neste ultimato, o apóstolo Paulo nos transmite o seguinte ensinamento: “Mas em todas as coisas somos mais do que vencedores, por meio daquele que nos amou”. (Romanos 8:37).

Publicado anteriormente na edição 002 de Profecia

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