terça-feira, 2 de agosto de 2011

Um leproso

Matheus Viana


A multidão se apinhava seguindo Jesus, que descia do monte. Em meio a tal aglomeração, um leproso se aproximou dele. Um leproso. Essa é a identidade narrada nas Escrituras. Seu nome não é revelado. Tampouco sua nacionalidade ou religião. Nada. Leproso era o único atributo que o diferenciava dos demais.

A lepra era uma enfermidade que, além de terrível, causava ônus nos três aspectos que enredam a vida de um ser humano: social, físico e espiritual. Um leproso era considerado impuro em meio à sociedade hebraica. A lei dizia: “... se o pêlo na praga parecer mais profunda do que a pele da sua carne, é praga de lepra; o sacerdote o examinará e o declarará imundo.” (Levítico 13:3). O ônus social era inevitável: “Será imundo durante os dias em que a praga estiver nele; é imundo, habitará só: a sua habitação será fora do arraial.” (Levítico 13:46).

Um leproso era obrigado a viver à margem da sociedade, completamente solitário. Mas não era apenas isso que caracterizava seu sofrimento. Além disso, teria que conviver com a crescente degradação de seu físico, com a corrosão de sua pele. A narrativa bíblica é nua e crua: “Quando sarar a carne, em cuja pele houver uma úlcera, e no lugar da úlcera aparecer uma inchação branca (...) se ela parecer mais funda do que a pele, e o seu pêlo se tornou branco, o sacerdote o declarará imundo: é praga de lepra que brotou da úlcera”. (Levítico 13:18-20).

Posso ver você fazendo uma expressão de dor ao ler tal relato. Aquela “careta” peculiar e inevitável quando se depara com algo repugnante ou doloroso. Pois é. A lepra era repugnante e dolorosa. Repugnante em relação às pessoas e dolorosa em relação ao corpo.

Mas não é só isso (parece até chavão dos produtos PoliShop)! A lepra, assim como qualquer outra enfermidade, era um indício de que o indivíduo acometido por ela nascera sob a maldição do pecado. Certa vez os discípulos indagaram a Jesus sobre um cego de nascença: “Mestre, quem pecou, este ou seus pais para que nascesse cego?”. (Evangelho segundo João 9:2).

Repugnante, doloroso e maldito. Este era o currículo daquele leproso que se aproximou de Jesus. Imagine-se nesta situação! Ou melhor, lembre-se de todos os problemas que te afligem! Depois, visualize um encontro com Jesus! Fale a verdade! Seria a oportunidade imperdível de descarregar nEle todos os  descontentamentos e as lamúrias contidas em seu coração como um vulcão prestes a entrar em erupção. “Jesus, por que o Senhor permitiu isso na minha vida, na minha família, na minha casa, na minha parentela, no meu trabalho?”, e por aí vai...

Aquele leproso se deparou com esta oportunidade. Tinha todos os motivos do mundo para esbravejar seus disparates, não tinha? Quando se aproximou de Jesus ele... O adorou (Evangelho segundo Mateus 8:3). “O quê? Só pode ser brincadeira?”. Também fiquei indignado quando li este texto pela primeira vez.

Tal adoração é expressa em sua petição: “Senhor, se quiseres, podes purificar-me”. Que “tapa na cara”! Além de reconhecer o Senhorio de Jesus, não exigiu nada. Não reclamou de sua condição deplorável e não fez nenhuma reivindicação do tipo: “Senhor, eu cumpro a lei, tenho fé, observo seus mandamentos, mas mesmo assim eu vivo esta vida miserável. Onde estão as bênçãos e as recompensas que o Senhor promete?”.

Pelo contrário. O leproso submeteu seus desejos, anseios e necessidades ao Senhorio de Jesus. “Se quiseres”. O evangelho atual nos motiva a pedirmos com ousadia a fim de termos as nossas necessidades e desejos supridos. No entanto, não há maior ousadia do que esta: “Alegra-te do Senhor, e ele satisfará os desejos de seu coração” (Salmos 37:4).

Jesus entendia o drama do leproso. Ele sabia o que era solidão, pois ficou quarenta dias solitários no deserto. Sabia o que era carregar a maldição do pecado sobre si, pois como cordeiro morto antes da fundação do mundo (Apocalipse 13:8), estava destinado a carregar a maldição do pecado de toda a humanidade (Gálatas 3:13). E também sabia o que era ser rejeitado, pois quiseram jogar-lhe de um precipício (Evangelho segundo Lucas 4:29).

Aquele leproso se alegrou em seu Senhor, independente das circunstâncias as quais vivia. A maior expressão de contentamento para com Deus, independente do momento que enfrentamos, é a de nos submetermos, com alegria, à Sua soberana vontade. Ele fez isso e recebeu de Jesus, o Senhor, a seguinte sentença: “Quero, fica limpo! E imediatamente ficou limpo de sua lepra”. (Evangelho segundo Mateus 8:4).

Queira você ou não, somos leprosos em alguma área de nossas vidas. Nascemos sob um veredicto de pecado. O salmista afirma: “Em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe”. (Salmos 51:5). O apóstolo Paulo elucida: “Por um homem entrou o pecado, pelo pecado a morte, e a morte passou a todos os homens”. (Romanos 5:12). Temos alguma área que precisa de restauração. Ou melhor, uma lepra que precisa ser limpa. Faça como o leproso e seja limpo como ele foi.

Publicado na edição 008 da revista Profecia

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