quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A cruz da personalidade

O que levou Jesus à cruz? Seu amor e devoção à soberana vontade de Deus. Mas no âmbito social, foi condenado à cruz por um motivo específico: confessar sua identidade e viver de acordo com ela



Matheus Viana

As mãos pregadas no madeiro. Os braços esticados ao extremo acima da linha do ombro. Um pescoço fatigado que não conseguia manter a cabeça, bastante machucada, ereta. O pulmão comprimido que limitava, em demasia, sua respiração. Suas pernas, extenuantes após uma longa e árdua caminhada com uma pesada e maciça cruz sobre o dorso, pregadas e levemente dobradas. O sangue vertia através de suas muitas feridas. Seu corpo estava dilacerado pelos açoites romanos. A dor era inexprimível.

Mas a calamidade não era apenas física, era também emocional. Fora traído por um indivíduo que frequentava seu círculo de amigos. Seus discípulos o abandonaram. Preterido em lugar de um assassino. Crucificado como um criminoso maldito. O próprio Deus Pai o abandonou. Apesar da multidão que o acompanhava como um mero espetáculo de catarse, estava só.

Certamente você já se encontrou em situações deploráveis, físicas ou emocionais. Mas garanto que nenhuma é comparada com a que Jesus experimentou. Seu sacrifício foi único e perfeito, é verdade. No entanto, o cristianismo pleno consiste em passarmos por experiências semelhantes. Não é a toa que o próprio Jesus diz: “Aquele que quiser me seguir, negue-se a si mesmo, tome cada um a tua cruz e siga-me”. (Evangelho segundo Mateus 16:24).

O que levou Jesus à cruz? Seu amor e devoção à soberana vontade de Deus. Mas no âmbito social, foi condenado à cruz por um motivo específico: confessar sua identidade e viver de acordo com ela. Em meio ao controverso julgamento em Jerusalém, não se defendeu de nenhum dos disparates e calúnias que diziam ao seu respeito. Mas quando foi questionado sobre sua identidade, não titubeou: “... o sumo sacerdote lhe perguntou: “Você é o Cristo, o Filho do Deus Bendito?”. “Sou”, disse Jesus. “E vereis o Filho do Homem assentado à direita do Poderoso vindo com as nuvens do céu”. (Evangelho segundo Marcos 14:62).

Jesus sabia que a confiança sobre quem era determinaria o êxito da soberana vontade divina sobre sua vida. Não pode ser diferente conosco. Se a nossa identidade for desfigurada, o plano divino será comprometido. Por isso devemos ser cada vez mais seguros de quem verdadeiramente somos, independente das opiniões alheias. Não se trata de autoajuda barata. É questão de sã consciência. O exercício do genuíno cristianismo - e o consequente estabelecimento do Reino dos céus - depende disso. Contudo, se o seguirmos à risca, será impossível não termos algozes que colocarão nossa identidade em xeque e nos perseguirão de alguma forma.

Por toda sua vida, a identidade de Jesus foi, mais do que provada, colocada em xeque. Na primeira vez que ensinou na sinagoga em sua terra natal, apesar da admiração dos presentes ao modo como expunha as Escrituras, não acreditaram que era o cumprimento da profecia que elucidava (Evangelho segundo Lucas 4:16-30). Mais do que descrença, uma fúria súbita os tomou ao ponto de quererem jogá-lo de um precipício. Para eles, Jesus não poderia ser o Messias profetizado pelo profeta Isaías, pois não passava do “filho do carpinteiro”. No entanto, Jesus logrou êxito em sua missão por não permitir ser condicionado pelo que as pessoas diziam dEle, mas guiar sua vida por aquilo que, de fato, era. Repito: não é diferente conosco!

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