sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Cárcere emotivo


A resposta de Jesus, além de revelar o quanto João, naquele momento, estava preso em suas emoções, revelou também o quanto este cárcere seria nocivo para todo o Plano divino de redenção.

Matheus Viana

Ao ler os quatro primeiros capítulos do meu livro A parábola de um deficiente, minha esposa fez a seguinte observação: “É evidente, em sua narrativa, o quanto você foi uma criança insegura, presa em suas emoções”. Concordei de imediato. Se ainda não o fez, leia o livro e veja que ela tem razão. Mas a afirmação seguinte me deixou estarrecido: “Você ainda é assim”.

Não foi um “puxão de orelha”. Foi simples constatação. Certeira. Precisa. Cirúrgica. Confesso que, em um primeiro momento, quis contestar. Mas não tinha como. Atenciosa esposa que é, me desnudou por completo. O que mais me deixou intrigado, no entanto, foi a expressão ‘preso em suas emoções’. A insegurança é mero efeito colateral.

Sim, a alma tem o poder de nos encarcerar. Mais do que isso. Ela é capaz de determinar o êxito em outros fatores de nossas vidas. É por isso que o apóstolo João diz ao presbítero Gaio: “Amado, acima de tudo, faço votos por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera a tua alma”. (III João 2).

Naquele momento comecei a recordar de quantos insucessos experimentei por ser um indivíduo preso em minhas emoções que sempre me emitiram a mensagem de que não conseguiria. Calma! Não se trata de “pensamento positivo” nem qualquer outro clichê existencialista de autoajuda. Mas sim do necessário controle sobre as emoções.

Uma das narrativas que mais me impacta em todas as Escrituras é a de quando Jesus chega ao rio Jordão para ser batizado por João, o Batista. Ao ver Jesus, João declara sem pestanejar: “Eis o cordeiro que tira o pecado do mundo”. (Evangelho segundo Mateus 3:9). João sabia que estava diante do Deus encarnado. Sabia que Ele era a pessoa ao qual havia se referido quando afirmou: “Mas depois de mim virá aquele que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de desatar as correias de suas sandálias”. (Evangelho segundo Mateus 3:11).

Estarrecido, João indagou: “Eu careço de ser batizado por ti, e vens tu a mim?” (Evangelho segundo Mateus 3:14). A resposta de Jesus, além de revelar o quanto João, naquele momento, estava preso em suas emoções, revelou também o quanto este cárcere seria nocivo para todo o plano divino de redenção. “Jesus, porém, respondendo, disse-lhe: Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir toda a justiça. Então ele o permitiu.” (3:15).

Cumprir toda a justiça. Jesus não estava falando apenas da necessidade de ser batizado que a tradição judaica lhe imputava (Evangelho segundo Mateus 5:17). Mas de todo o processo para o cumprimento do plano que Ele, juntamente com Deus, traçou desde a eternidade. Lembre-se, Jesus é o cordeiro morto antes da fundação do mundo (Apocalipse 13:8). Ele sabia o que e como fazer. Portanto, se João fosse sucumbido pelas suas emoções de modo a não cumprir seu chamado de batizar Jesus, todo este maravilhoso plano seria comprometido. E a humanidade arcaria com tamanho prejuízo. (Não deixe de ler o texto Não desperdice seu talento).

O próprio Jesus enfrentou drama semelhante. Momentos antes de sua crucificação, no tenebroso jardim do Getsêmani, a turbulência instalada em suas emoções (Evangelho segundo Mateus 26:38) quase colocou tudo a perder. Por isso, fez a seguinte oração: “Pai, se possível, afasta de mim este cálice”. (Vs. 42). Jesus se referia ao cálice da salvação elucidado por Davi no Salmo 116:13-14, que era a cruz ao qual teria que passar. Para felicidade nossa, Jesus sabia, como ninguém, equilibrar suas emoções: “Mas não seja conforme quero, mas sim como tu queres”. (Vs. 42).

Esse é o controle que devemos exercer em nossas emoções: a alma deve se render, por mais árdua e impossível que pareça, à vontade de Deus. No final ela sempre redunda em vida abundante. Por isso Paulo de Tarso, um dos cristãos que mais sofreu por cumpri-la, a define como boa, perfeita e agradável (Romanos 12:2).

Jesus emitiu a seguinte profecia: “Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”. (Evangelho segundo João 8:36). É óbvio que estava se referindo a Ele mesmo. E esta liberdade inclui a alma. É nisto que consiste em O amarmos, segundo Ele orientou, de todo coração, de toda alma e de todo entendimento. (Evangelho segundo Mateus 22:37).

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