segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Níveis de conhecimento - Parte II

Matheus Viana

Sabemos que Deus não quer que O conheçamos apenas no nível da opinião, mas que possamos atingir o conhecimento oriundo da experiência. No entanto, no que ela consiste? Esta é a questão fundamental. O primeiro aspecto a ser analisado são os dois pontos nela envolvidos: o sujeito (o ser humano que busca o conhecimento) e o objeto (Deus, o ente a ser conhecido).

A experiência do ser humano com algo natural, chamada de fenômeno, pode ser descrita e explicada de acordo com a área em que ela ocorreu. Por exemplo, se é um fenômeno no corpo, ele é estudado a partir das premissas fenomenológicas das ciências que lidam com o corpo humano como biologia, ortopedia entre outras. Caso seja um fenômeno mental, será estudado a partir da neurociência, da psiquiatria e da psicologia. É neste mote, por exemplo, que August Comte teorizou a sociologia, também conhecida como ciências sociais, onde propôs a fenomenologia dos fatos sociais.

Contudo, conforme preconizou Edmund Husserl, considerado o pai da fenomenologia moderna, estas especificidades não são independentes, mas interdependentes. Ou seja, outros ramos da ciência são utilizados não apenas para descrever o fenômeno (o quê ocorreu), mas também para entendê-lo (por quê ocorreu). Um exemplo são as chamadas doenças psicossomáticas. Nestes casos, torna-se necessária uma fenomenologia que contemple os diferentes aspectos envolvidos no processo que desencadeou a enfermidade (fenômeno a ser estudado).

Mas sabemos que a obtenção da verdade – e também da descrição e explicação do fenômeno - apenas pelo método científico trata-se de um reducionismo. O Pe. Ednilson Turozi de Oliveira, doutor em Ciência e Filosofia da Religião, em seu livro Ensino Religioso: fundamentos epistemológicos (Intersaberes – 2012); cita uma breve síntese do pensamento dos especialistas em História e Ciência da religião, Giovanni Filoramo e Carlo Prandi, contido no livro As ciências das religiões. Elucidando sobre a chamada “autonomia do objeto”, Ednilson Oliveira afirma: “Para eles (Filoramo e Prandi), existe uma autonomia da experiência religiosa que escapa do campo da investigação empírica”.

Esta autonomia, a qual também podemos batizar de peculiaridade, dá-se pelo fato de que a experiência religiosa, cientificamente chamada de númeno, é uma relação do natural (sujeito) com o sobrenatural (objeto). Por isso, o critério fenomenológico da experiência religiosa abarca o ser humano integralmente pelo fato de ela compreender e considerar todas as áreas de sua vida. É por isso que Jesus, citando o Shemá (Deuteronômio 6:5), preconizou: “Amarás o Senhor teu Deus, de todo o coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento.” (Evangelho segundo Mateus 22:37).

Apenas ouvir sobre Deus não é o suficiente. Longe disso. Contudo, este fato não pode nos levar a desprezarmos a importância de ouvirmos. Ele é o ponto de partida, mas não o de chegada. Neste mote, o apóstolo Tiago adverte: “Não sejais apenas ouvintes, mas sim praticantes.” (Tiago 1:22). A prática da Palavra é produto de uma experiência com ela.

Conforme vimos no texto O processo de crescimento, a prática é o terceiro passo do processo da sabedoria. O primeiro é a informação (ouvir a Palavra) e o segundo é adquirir o conhecimento, ato que consiste em digerir a informação com a mente.  No caso do cristão, é renovar seu entendimento (Romanos 12:2) através da ação do Espírito Santo (Evangelho segundo João 14:26) que nos revela os pensamentos de Deus (I Coríntios 2:11-16).

A maioria dos estudiosos de ciência da religião não faz separação entre sujeito e objeto, mas considera que ambos são coesos e interligados. Isto talvez seja pelo fato de que Husserl, em sua fenomenologia científica, também não faça. Ele chega a afirmar que o sujeito doa sua consciência e inteligibilidade ao objeto. Na teoria da percepção religiosa, feita por William Alston, a experiência religiosa é condicionada por perspectivas históricas, religiosas e culturais. E, por isso, a descrição e a explicação da experiência levam em conta a interpretação pessoal do sujeito. Exemplo: a mesma experiência vivida por dois sujeitos diferentes, um cristão e outro budista, será por eles descrita e explicada de acordo com seus pressupostos.

É aqui que entra em cena a importância de “ouvirmos a Palavra de Deus”, ou melhor, do ensino teológico como base de nossos pressupostos históricos, culturais e religiosos. A teologia cristã, em sua amplitude, estuda quem o sujeito é e também quem o objeto é. É por isso que Calvino afirma em sua primeira instituta: "O verdadeiro conhecimento do ser humano é completamente dependente do verdadeiro conhecimento de Deus". E, a partir destes conhecimentos, podemos analisar, de forma completa, a experiência religiosa (nosso relacionamento com Deus). Por isso a ação de Deus no ser humano – através do Espírito Santo – é determinada pela Sua Palavra – escrita ou falada (Evangelho segundo João 14:26).

Salomão alertou: “Ensina a criança o caminho em que deve andar...” (Provérbios 22:6) e Esdras afirmou: “Guardo no meu coração as tuas palavras ...” (Salmos 119:11). Pois uma experiência religiosa fora da Palavra de Deus nos conduzirá para longe Dele e, consequentemente, para longe do conhecimento que Ele deseja que alcancemos. Em outras palavras: o objeto da experiência religiosa não será Deus.

Diferente de Husserl, David Hume, além de separar sujeito de objeto, divide o objeto em duas partes: o ser e a aparência do ser. No campo da religião, Wayne Proudfoot usa a dicotomia entre sujeito e objeto e foca sua fenomenologia no sujeito, levando em consideração a explicação histórica, cultural e religiosa que o levou a ter tal experiência. Em contrapartida, na tentativa de encontrar algo em comum que fundamente as diferentes experiências religiosas, Willian James, Walter Stace e Caroline Franks Davis afirmam, consensualmente, que existe um núcleo comum entre elas. Contudo, ele extrapola os pressupostos religiosos, históricos e culturais, que podem ser diferentes. 

Sim, este núcleo existe. Podemos afirmar que se refere à necessidade que o ser humano possui de conhecer algo além de si mesmo (Não deixe de ler o texto Perscrutando o imperscrutável). Ou melhor, de conhecer sua origem e também do mundo em que viveSendo assim, este núcleo comum é a necessidade de conhecer Aquele de onde tudo se originou. Você O conhece?

Referência bibliográfica

OLIVEIRA, Ednilson, Turozi de. Ensino Religioso - Fundamentos epistemológicos: Porto Alegre: Intersaberes, 2012.

Níveis de conhecimento - Parte I

Matheus Viana

Jó certa vez afirmou sobre sua relação com Deus: “Te conhecia de ouvir falar, mas agora meus olhos te vêem.” (Jó 42:5). Obviamente esta afirmação, ao ser lida, é classificada como uma experiência religiosa. E é sobre isso que quero me ater. Para isso, precisamos falar em fenomenologia. Calma! A palavra é extensa, mas o conceito não é difícil. Para entendermos, temos que evocar sua origem.

No auge do Iluminismo, no século XVIII, também conhecido como século das luzes por combater o obscurantismo da Igreja Católica que se posicionou frontalmente contra os avanços científicos que eclodiram nos séculos XVI e principalmente no XVII que minaram, de certa forma, sua autoridade; Immanuel Kant dividiu o conhecimento em duas partes: Cognoscível (fenômeno) e Incognoscível (númeno).

De acordo com esta divisão, os eventos que podem ser observados pelos sentidos e conhecidos pela mente humana (fenômenos/naturais) seriam alvos de estudo da ciência. Em contrapartida, tudo o que fosse relacionado a Deus (númeno/sobrenatural) deveria ser descartado. Ou seja, não deveria ser alvo de estudo, mas apenas objeto de fé para quem a possuísse.

Ao criar tal dicotomia, Kant ignorou o fato – óbvio, diga-se de passagem – de que toda fé possui um objeto. E que é crucial para o fiel conhecer o objeto onde deposita a sua fé. Não é em vão que Agostinho, um dos principais personagens da patrística, usava os atributos da filosofia para estudar os dogmas teológicos da Igreja. E desta conduta criou-se a máxima: “A razão (filosofia) é serva da fé (teologia dogmática)". O escritor da carta aos Hebreus elucida: “Tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé.” (Hebreus 12:2). O alvo da fé de um cristão é Jesus, o Cristo. Logo, a fé de um cristão só adquire sentido na medida em que O conhece.

Mas aqui temos um paradoxo. Neste trecho da carta, o escritor adverte sobre colocarmos os olhos no objeto de nossa fé. Contudo, em trechos anteriores, ele elucida sobre o conceito de fé: “Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos.” (Hebreus 11:1). Como podemos colocar os olhos no objeto de nossa fé se a definição de fé é justamente a certeza no que não podemos enxergar? Com tal afirmação, o escritor advertiu sobre o fato de que a experiência religiosa extrapola as razões pensante e empírica. Ou seja, não pode ser estudada apenas pelo método conhecido como científico, como um fenômeno natural pode.

Mas, apesar disto, a experiência religiosa, que redunda na fé, não anula a razão. Veja que o primeiro conceito que o escritor da carta aos hebreus aplica ao tema ‘fé’ é “certeza daquilo que esperamos”. Sim, nossa esperança está em Cristo, o objeto de nossa fé. Contudo, podemos enxergá-lo? Claro que não! Pelo fato de não podemos vê-lo, não é possível termos fé Nele? Sim, é possível. Pois, ainda que não O vejamos, podemos conhecê-Lo. Como? O próprio Jesus nos deu a resposta: “Examinai as Escrituras, pois elas de mim testificam.” (Evangelho segundo João 5:39). Este “examinai” envolve o exercício da razão, acredite você ou não.

Mas não apenas isso. Na afirmação de Jó, podemos ver dois níveis de conhecimento: o de “ouvir falar” e o da experiência empírica; “mas agora meus olhos te vêem.” Platão, em seu livro A república, elucidou sobre estes dois conhecimentos, os quais chamou de doxa e epísteme. Doxa é o conhecimento baseado na mera opinião, no ouvir falar. Já o Epísteme é o conhecimento científico, mas não segundo o conceito que conhecemos hoje, onde o conhecimento filosófico (subjetivo) e o científico (objetivo) são separados desde a revolução científica do século XVII. E sim no conhecimento profundo e completo que, de acordo com Platão, era adquirido apenas pelo indivíduo que se submetesse ao estudo filosófico oferecido pela Academia.

Portanto, vemos que Jó possuia sobre Deus apenas o conhecimento de “ouvir falar”. Ou seja, era mera opinião. Através do profeta Oséias, Deus expressa o desejo de que o nosso conhecimento sobre Ele extrapole este nível: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor...” (Oséias 6:3). Qual tem sido o seu conhecimento sobre Deus: opinião ou experiência? Reflita! Em breve analisaremos este tema sobre outra perspectiva.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Sinergia entre fé e razão


Matheus Viana

Me expresso constantemente sobre a relação entre fé e razão. Mesmo assim, quero refletir sobre um episódio vivido por Jesus. “O profeta não tem honra em sua própria casa.”, proferiu em determinada ocasião. Passado certo tempo, Ele voltou à Galileia. Aproveitando o ensejo, visitou a cidade de Caná, local onde transformara água em vinho. Quando ali chegou, foi, de súbito, abordado pelo oficial de um rei, cujo filho estava gravemente adoecido em Cafarnaum (Evangelho segundo João 4:46).

O oficial suplicou-lhe: “Senhor, vem, antes que meu filho morra!”. Jesus, porém, não foi. O quê? Ele não atendeu tal súplica? Ele que pregava sobre amor e compaixão? Isso mesmo. Ao invés de ir com o oficial, fez algo prático e eficaz. Disse-lhe: “Pode ir. Seu filho continuará vivo.” (Evangelho segundo João 4:50).

O primeiro aspecto evidente é o fato de que o oficial reconheceu Jesus como o Messias, por isso chamou-lhe de Senhor. Ele sabia que Jesus poderia reverter a drástica e dramática situação de seu filho. O segundo aspecto é o modo como Jesus agiu: simplesmente... falou.

Palavras. Elas podem mais do que imaginamos. Pela palavra Deus criou todas as coisas que o ser humano não é capaz de criar, Jesus venceu a tentação no deserto... Enfim, poderíamos discorrer sobre os muitos exemplos descritos nas Escrituras falando da importância e da crucialidade da palavra em suas diversas formas.

No entanto, há quem ainda a menospreze. Vociferam: - “A Bíblia diz que a palavra mata, mas o Espírito vivifica”. Tal argumento apenas evidencia a precariedade da exegese aplicada. Pois Paulo afirmou: “A palavra, por si só, mata, mas o Espírito vivifica.” (II Coríntios 3:6 – Ênfase acrescentada). São muitos os argumentos que refutam quem diz que a razão é inimiga da fé. No entanto, o propósito deste texto não é “dar tiro de calibre doze” em pernilongo.

O conhecimento que temos de Jesus, conforme Ele mesmo preconizou, dá-se através das Escrituras (Evangelho segundo João 5:39). Ou seja, da mensagem sobre o que Ele foi, é e será, seja através da palavra escrita ou falada. De acordo com o próprio Jesus, o Espírito Santo age de acordo com as Escrituras: “Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, vos ajudará, vos ensinará, e vos fará lembrar de tudo o que tenho dito.” (Evangelho segundo João 14:26 – Ênfase acrescentada).

Jesus apenas falou. Atitude mais do que suficiente. Além do fato de, como Deus, ser a Logos divina, conhecia, como homem, a Lei e os Profetas. Ele tinha permissão de ensinar nas sinagogas porque era um Rabi (mestre da Lei). Mas era muito mais do que um mero erudito. Ele era – e é – a Palavra que é Espírito e vida (Evangelho segundo João 6:63). Jesus é a plena convergência do natural (razão, sabedoria) com o sobrenatural (fé, poder). Este caráter é elucidado pelo apóstolo Paulo em sua carta aos coríntios: “Jesus é a sabedoria e o poder de Deus.” (I Coríntios 1:24).

Mas algo que chama a minha atenção neste episódio é o fator tempo. No exato momento em que Jesus emitiu uma palavra ao oficial, seu filho foi curado da enfermidade que o assolava. Simples assim. Não houve esperneio. Não houve tremor. Nada. Esta cura foi resultado do encontro sobrenatural entre o kairós (tempo de Deus, eternidade) e o chronos (tempo terreno). Toda palavra, cuja essência seja o Espírito Santo, tem esta capacidade.

Em sinergia com a palavra de Jesus, vemos o florescer da fé do oficial. Fatores determinantes que desencadearam a cura de seu filho. Uma não anda sem a outra. Conforme preconizou Agostinho, a razão é serva da fé. O fundamento da fé é a palavra. Por isso o apóstolo Paulo elucida: “A fé vem pelo ouvir, e o ouvir vem pela palavra.” (Romanos 10:17). No nosso caso, que cremos em Jesus, que é Deus, a nossa fé é pavimentada pela Palavra (logos) de Deus (Theos), que forma a sentença no grego Theologos, de onde deriva o termo teologia. Entendeu onde quero chegar? Sim, a teologia é aliada da fé. Jesus, no episódio aqui analisado, demonstrou e testificou tal verdade. 

“Assim também ocorre com a palavra que sai da minha boca: ela não voltará para mim vazia, mas fará o que desejo e atingirá o propósito para o qual a enviei.” (Isaías 55:11). Jesus conhecia tal sentença.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Andando na verdade

“Não tenho alegria maior do que ouvir que meus filhos estão andando na verdade.” (3 João 4).

Matheus Viana

Podemos evocar, baseados no relato acima, a necessidade que o ser humano possui de ter sua vida pautada em um padrão ético. Mesmo os relativistas ou anarquistas têm esta necessidade. Do contrário, não estipulariam tais alternativas como padrões de conduta para suas vidas. No entanto, a primeira questão que precisamos responder é o que é, de fato, esta “verdade”. Para um cristão, é Jesus, pois Ele mesmo afirmou: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim.” (Evangelho segundo João 14:6).

Sendo assim, para os cristãos, Jesus é o padrão ético de Deus ao ser humano (Romanos 8:29). Alguns podem achar que, com tal afirmação, estou reduzindo a pessoa de Cristo. Ledo engano. O conceito de ética é que está deturpado. No século XIX, na esteira do iluminismo, a teologia liberal, na pessoa de Albert Ritschl (1822-1889), afirmava que o cristianismo é, em essência, a ética do amor. Ou seja, por Jesus ser, na visão liberal, o homem que mais manifestou amor ao próximo (incluindo seus inimigos), o verdadeiro cristão deve amar como Ele amou. Apesar de ser verdade, o problema é que para Ritschl o cristianismo consistia apenas nisso.

O padrão ético que Jesus representa para os cristãos é muito mais do que amar ao próximo, embora este seja um ponto crucial. O apóstolo Paulo diz: “Sede meus imitadores como eu sou de Cristo.” (I Coríntios 11:1). Este “imitar” não se trata simplesmente de repetir uma ação ou atitude. Posso imitar alguém que, voluntariamente, ergueu seu braço direito ao erguer meu braço direito. Mas tal atitude não é resultado de eu pensar, sentir e muito menos ser como ela.

Em contrapartida, quando o apóstolo Paulo nos adverte a imitarmos a Jesus, tal atitude é resultante de pensarmos (I Coríntios 2:16) e sentirmos (Filipenses 2:5) como Ele. O agir é “mera” consequência. Este é o grande desafio. Aqui emana a questão pertinente e crucial: Por que Jesus é o padrão ético de Deus ao homem?

O apóstolo Paulo elucida: “Aos que escolheu, também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos.” (Romanos 8:29). Este propósito foi estabelecido antes mesmo de formar o ser humano. Por isso o criou à Sua imagem (essência) e conforme a Sua semelhança (comportamento). A partir disto, podemos definir o que chamo de trinomia humana. Antes do pecado, a trinomia humana consistia em ser-pensar-agir e, depois do pecado, em pensar-ser-agir.

Antes do pecado, o ser humano era à imagem de Deus. Ato que consistia no habitar do Espírito de Deus (fôlego de vida/ruach) em seu interior e Sua influência sobre ele. Por isso e também por não conhecer outra “verdade” contrária à divina, pensava como Deus e, consequentemente, agia como Ele por se comportar segundo Sua Palavra (vontade e preceitos). Mas o processo que desencadeou no ato do pecado alterou esta trinomia.

Ao ouvir a ardilosa proposta da serpente e suas conseqüências, completamente contrárias à verdade de Deus, o modo de pensar (razão) do ser humano foi deturpado. Não é em vão que o apóstolo Paulo preconiza: “O deus deste século cegou o entendimento das pessoas para não lhes resplandecer a luz do evangelho.” (II Coríntios 4:4). E também: “Transformai-vos pela renovação da vossa mente para que experimenteis qual seja a boa, perfeita e agradável vontade de Deus.” (Romanos 12:2). Este modo de pensar equivocado levou o ser humano a desejar o ilícito. O ato da desobediência foi mera consequência. Para entendermos melhor este círculo vicioso, usaremos o princípio aristotélico do ato/potência.

Segundo este princípio, tudo o que existe na natureza é o ato daquilo que era em potência. Exemplo: uma árvore é o ato da potência que havia na semente. Aplicando-o à conduta humana, o ser humano teve sua razão corrompida, cujo modo de pensar o levou a desejar o ilícito. E o “simples” desejar come-lo fez dele um desobediente em potencial, cuja potência desencadeou no ato da desobediência. É por isso que o apóstolo Tiago adverte: “Cada um é tentado pela sua própria cobiça, sendo por este arrastado e seduzido. Então este desejo, tendo concebido, dá à luz ao pecado, e o pecado, após ter consumado, gera a morte.” (Tiago 1:14-15).

O primeiro passo do processo degradante que enredou o ser humano, no entanto, foi ele se apartar do padrão ético de Deus – Jesus, o Logos divino – e se apegar em uma “verdade” contrária, que nada mais é do que mentira. Desde então, nos deparamos com outras “verdades” que pautam o comportamento humano, sejam elas de cunho religioso, filosófico ou “científico”. Talvez você ache estranho o fato de eu colocar o termo científico entre aspas. Foi proposital, pois os argumentos científicos sempre são utilizados com uma cosmovisão definida que funciona como fundamento. Na maioria das vezes é o ateísmo com suas diversas variantes. Por isso devemos refletir sobre como obteremos o conhecimento desta Verdade para que possamos nela andar...

sábado, 10 de agosto de 2013

A importância em conhecer História da Igreja

Felipe Ramos*

Na noite de segunda-feira (05/08/2013) os seminaristas do Curso Ministerial do Instituto Metodista Renovada de Ensino Teológico apresentaram interessantes palestras sobre as diversas vertentes cristãs que se desenvolveram ao longo destes dois mil anos de Cristianismo.

Sínteses foram apresentadas acerca do Catolicismo Romano, Reforma Protestante, Metodismo, dentre outros temas. Além disso, algumas importantes tendências teológicas foram explanadas pelos seminaristas, como Liberalismo Teológico, Fundamentalismo Teológico e Pentecostalismo.

Havia alguns objetivos a serem alcançados nesta noite: a) consolidar a seriedade do IMRET e capacidade de aprendizado proporcionada ao aluno dedicado; b) estimular os seminaristas a buscar um aprofundamento do tema de seu trabalho; c) provocar nos convidados presentes curiosidade e interesse em conhecer mais sobre os temas discutidos. Possivelmente todos os propósitos foram alcançados e, sem dúvida, este foi o primeiro de muitos eventos deste porte que virão.

A Igreja Metodista Renovada já possui um histórico de organização de palestras, debates e seminários que contribuem para a edificação dos cristãos. Esses eventos não só dão base de fé sólida para seus membros como também os capacitam para a missão de evangelizar por meio do discipulado consistente. O Chá Teológico objetivou seguir a linha de formação de liderança que possui a igreja liderada pelo respeitado Bispo Inaldo Barreto.

A “História da Igreja” é uma disciplina estimulante na qual constatamos que o Cristianismo não nasceu ontem, muito menos na fundação de nossa denominação. Não. O Cristianismo é a história do povo de Deus que por dois mil anos tem testemunhado sua fé. Estudar a História da Igreja não é tão simples como pode parecer, afinal o entendimento teológico vai se formando ao longo do tempo; as práticas de fé, de culto e de evangelização vão se diversificando com o passar dos anos. Além disso, heresias e desvios de ensinamento sempre estiveram perturbando a tranquilidade da Igreja, assim como ensinamentos que levaram a certos abusos dentro do corpo de fieis.

Estudar História da Igreja também nos dá identidade, como foi dito pelo pastor Luiz Henrique. É lícito que tenhamos sempre vivo à memória o testemunho de fé daqueles que nos precederam e lutaram o bom combate, seja com seus livros, seu cuidado com as ovelhas, sua apologia da fé, suas missões e evangelizações, suas exortações e, por fim, com suas próprias vidas.

Contudo, há aqueles que criticam a utilização de rótulos e o apego à uma tradição teológica específica alegando que isso não passaria de “doutrina de homens”. Muitos desses, pensando estar vivendo um cristianismo “puro”, acabam por ter uma identidade velada e desconhecida por si próprios. Ou seja, há um lugar e época de origem na História da Igreja onde determinada doutrina e/ou prática surgiu. Dessa forma, os que não concordam com a adesão a alguma identidade teológica são os que mais possuem apegos teológicos e, pior, não sabem de onde surgiram e nem o porquê de existirem outros cristãos que vivem a fé de maneira diferente da que vivem. Além disso, essas pessoas geralmente possuem teologia ruim e infrutífera – é o prêmio recebido por ignorar tão importante estudo.

Portanto, tendo em mente o que foi dito acima, São Paulo nos alertou: “Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo” (I Coríntios 1:12 em diante). Há sempre o risco de existir divisão entre os cristãos por diferentes posições e tendências teológicas. O versículo acima mostra a constatação do apóstolo Paulo sobre este acontecimento na igreja de Corinto. Devemos ter cuidado para não causar divisão desnecessária, por questões teológicas secundárias. Mas o versículo nos mostra mais um perigo que reside no outro extremo, qual seja, de se achar seguidor “apenas de Cristo”, não tendo nenhuma autoridade acima de si mesmo, a não ser Cristo.

Este erro é típico dos “desigrejados” que, não sendo subordinados a nenhuma autoridade espiritual terrena e não sendo filiado a nenhuma congregação específica (portanto não participando plenamente do corpo de Cristo), se dizem “seguidores de Cristo” – e o que passar disto é “doutrina de homens”. Os tais também tiveram uma repreensão por parte do apóstolo. Ele reconhece que a autoridade máxima e absoluta é Cristo, mas que essa autoridade passa pela Igreja; e a Igreja não está morta, não é estática, ela continuamente está se desenvolvendo ao longo da história.

O estudo da História da Igreja nos faz conhecer os pais da fé, os reformadores da fé, os avivalistas da fé, enfim, os heróis da fé; ignorar a importância da História da Igreja é jogar o legado de homens de Deus no lixo, como se estivéssemos dizendo que a fé que possuímos hoje não passou pela vida dos cristãos do passado, pelas penas dos cristãos do passado, pelas lutas dos cristãos do passado; como se estivéssemos dizendo “sou apenas de Cristo”, não preciso de mais ninguém.

Concluo, portanto, fazendo um convite aos estimados leitores: o de levarem em conta o estudo teológico (que é vivo e produz frutos) para crescimento pessoal e edificação da Igreja de Cristo, da sua congregação, dos seus liderados e discípulos. A História da Igreja proporciona estas bênçãos para aqueles que a ela se dedicam. O IMRET, com a sua boa grade curricular, está pronto para preparar teologicamente cristãos para enfrentar os desafios de nossa época – afinal, a História da Igreja ainda está sendo escrita com nossas vidas e é mister que estejamos preparados para toda obra, armados com o pleno conhecimento da Verdade.

*Felipe Ramos é professor de Filosofia, Sociologia e Informática no IAVEC (Instituto Avançado Vida de Ensino Cristã) e de História da Igreja da turma ministerial no Seminário Teológico IMRET.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Aprendendo “na prática”

Matheus Viana

A expressão “aprender na prática” é entoada como uma espécie de mantra desde a existência humana. E não é para menos, pois faz parte do processo de nosso desenvolvimento. O intrigante é que ela não ignora a importância da teoria. Por exemplo, meu pai aprendeu a fazer muitas coisas “na prática”, ou seja, mediante a observação de algumas ações realizadas por outro indivíduo. Mas esta observação é considerada teórica, pois, ainda que não foi a livros ou à prédica de alguém, foi algo passivo que se tornou algo prático.

Jesus certa vez disse: “Na verdade, na verdade vos digo que o Filho por si mesmo não pode fazer coisa alguma se não ver fazer o Pai; porque tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente.” (Evangelho segundo João 5:19). Sim, Jesus fazia somente o que via o Pai fazer. Suas ações eram resultantes de observação. É neste mote que o apóstolo Paulo advertiu: “Sede meus imitadores como sou de Cristo Jesus.” (I Coríntios 11:1). Em outras palavras, olhem para as minhas ações e, assim como eu busco ser, sejam (Romanos 8:29), pensem (I Coríntios 2:16), sintam (Filipenses 2:5) e ajam como Jesus Cristo.

Esta observação elucidada por Jesus e por Paulo não é mera observação. Paradoxal? Claro que é. Explico. Jesus fez, além daquilo que viu seu Pai fazer, o que estava descrito na Lei e nos profetas. Conforme afirmou, Ele não veio para abolir a Lei de Moisés, mas para cumpri-la (Evangelho segundo Mateus 5:17). Toda sua obra foi o cumprimento do que Deus, através dos profetas, tinha dito ao povo. Não é em vão que, ao expirar na cruz, sentenciou: “Está consumado!” (Evangelho segundo João 19:30).

Entender este aparente paradoxo é crucial para a nossa fé e o desenvolvimento de nossa salvação (Filipenses 2:12). Certa vez, em uma aula no ensino médio, perguntei aos alunos se eles concordavam com a afirmação: a teologia é inimiga da fé. Apenas um não concordou e outro ficou indeciso. O restante concordou. Fiquei chocado.

Esta afirmação contraria o caráter do próprio Deus, pois Ele se revela através de Sua Palavra. Jesus, conforme Ele mesmo afirmou, se faz conhecer através das Escrituras (Evangelho segundo João 5:39). Ou seja, observar o que Jesus faz, a fim de O imitarmos, sem o conhecimento das Escrituras (teologia) é impossível. A fé torna-se inviável.

Você nutre fé em alguém que não conhece? Eu não. Seja sincero, você também não. Como podemos crer em Jesus se não O conhecemos, ou no mínimo ouvimos falar Dele? Quem afirma que a teologia é inimiga da fé, afirma que é possível ter fé em Jesus sem conhece-Lo por intermédio de ouvir ou ler acerca Dele. Além disso, Paulo elucida, em sua carta aos romanos, que a fé é dependente da teologia. Contrariado? Então leia: “A fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus”. (Romanos 10:17). Ou seja, a fé vem pelo compartilhar da Palavra, seja ela oral ou visual. Em outras palavras, a fé vem pela teologia.

Afinal, o que é teologia? O significado é óbvio: Theos (Deus) – Logos (palavra/razão) = estudo sobre Deus. Mas Deus não é algo que pode ser estudado. Conforme preconizou Immanuel Kant, Deus e Seus atributos são incognoscíveis. No entanto, Jesus é a encarnação (Evangelho segundo João 1:12) e a imagem (Colossenses 1:15) de Deus para que Seu conhecimento seja possível a fim de crermos Nele. (Não deixe de ler o texto: Reducionismo proposital).

O próprio Jesus disse que O conheceremos ao examinarmos as Escrituras (graphás) (Evangelho segundo João 5:39). É exatamente este exame que recebe o nome de teologia. Há quem diga que teologia é o conjunto de matérias que consideram apenas o exercício da razão. Isso não é teologia, é ciência da religião.

O apóstolo Paulo diz que é o Espírito de Deus quem nos revela o conhecimento de Deus (I Coríntios 2:11). Mas esta revelação é mediante a Palavra. Observe o ensinamento de Jesus: “Mas o consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, vos ajudará, vos ensinará, e vos fará lembrar de tudo o que tenho dito”. (Evangelho segundo João 14:26).

A revelação do Espírito Santo é determinada pelos ensinamentos de Jesus registrados pelos apóstolos e demais escribas, como por exemplo, João Marcos, autor do Evangelho segundo Marcos, e Lucas, autor do Evangelho segundo Lucas e do livro de Atos. Em suma, na medida em que conhecemos a Jesus através da revelação que o Espírito Santo de Deus nos concede mediante Sua Palavra (ensinos, doutrinas e decretos = teologia), nossa fé se desenvolve. 

Sendo assim, aprenderemos na prática a viver conforme Deus deseja que vivamos quando observarmos as Escrituras que testificam de Cristo. Exerceremos a teologia e teremos a nossa fé renovada a cada dia até atingirmos, conforme o apóstolo Paulo preconiza, a estatura do varão perfeito: Jesus Cristo (Efésios 4:13).

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Ensaios sobre o pensamento

Matheus Viana

A racionalidade, segundo a Ciência, é o que diferencia o ser humano dos outros seres vivos. Sendo assim, a capacidade e o exercício do pensamento são características essenciais do ser humano. O físico e filósofo francês René Descartes, em seu livro O discurso do método, preconizou: “penso, logo existo”. Em seu cogito, ele dizia que o ato de pensar, – oriundo do ser pensante que, segundo ele, é o “eu” humano – se desdobra em sua existência física. Ou seja, o pensamento não é mero efeito da existência física, mas a causa.

Portanto, é pertinente refletirmos – olha ele aí de novo – sobre a origem do pensamento. O escritor e pensador britânico C.S Lewis elucidou: “Supondo que não haja uma inteligência criadora por trás do universo, então ninguém planejou o meu cérebro para o propósito de pensar. O que acontece é apenas que, quando os átomos dentro do meu crânio, por razões físicas ou químicas, se arranjam de certa maneira, isso me dá, como um resultado, a sensação que eu chamo de pensamento. Mas, se é pensamento, como posso confiar que meu próprio pensamento é verdadeiro? É como virar uma jarra de leite e esperar que a forma como o leite se espalha lhe apresente um mapa de Londres. Mas, se não posso confiar em meu próprio pensamento, certamente não posso acreditar nos argumentos que levam ao ateísmo. Por isso, não tenho nenhuma razão para ser um ateu ou qualquer coisa semelhante. Se eu não creio em Deus, não posso crer no pensamento. Portanto, não posso usar o pensamento para não crer em Deus”.

Complexo! Assim como todo o processo que envolve o pensamento. Vamos analisar a elucidação de Lewis, dividindo-a em três partes, para que possamos compreendê-lo.

1 - Supondo que não haja uma inteligência criadora por trás do universo, então ninguém planejou o meu cérebro para o propósito de pensar.

Devemos evocar os argumentos teleológico, defendido por Willian Paley, e o cosmológico, defendido por Tomás de Aquino. A síntese de ambos preconiza que tudo o que existe na natureza possui um propósito e, por isso, há um ser que a rege. O evolucionismo – em grande parte pautado pela ideologia ateísta - parte do pressuposto de que tudo na natureza é proveniente do “acaso”. Se tudo na natureza passou a existir por acaso, então não há propósito. Sem propósito, o pensamento não possui sentido.

2 - O que acontece é apenas que, quando os átomos dentro do meu crânio, por razões físicas ou químicas, se arranjam de certa maneira, isso me dá, como um resultado, a sensação que eu chamo de pensamento.

O ato do pensamento, segundo a ciência, – especificamente a neurociência - é resultado de processos físicos, químicos e biológicos que ocorrem no cérebro. Conforme a própria fenomenologia científica preconiza, todo processo natural está sujeito a leis. De acordo com um dos princípios da Lei da Termodinâmica, estas leis não surgem de forma espontânea, mas são estabelecidas. Se são estabelecidas, possuem um propósito. Se há propósito, há algo ou alguém que as estabeleceu.

3 - Mas, se é pensamento, como posso confiar que meu próprio pensamento é verdadeiro? Mas, se não posso confiar em meu próprio pensamento, certamente não posso acreditar nos argumentos que levam ao ateísmo. Por isso, não tenho nenhuma razão para ser um ateu ou qualquer coisa semelhante. Se eu não creio em Deus, não posso crer no pensamento. Portanto, não posso usar o pensamento para não crer em Deus”.

Só podemos ter este tipo de dúvida se tivermos consciência da existência da verdade. Sem esta consciência, a própria dúvida não existiria. Por isso, precisamos primeiramente obter a verdade que nos sirva de parâmetro. A obtenção da verdade científica é baseada no método cartesiano que influenciou Francis Bacon a criar o método científico utilizado até os dias atuais. O método teorizado por René Descartes consistia, em primeiro lugar, na dúvida; ou seja, em questionar tudo o que recebeu como verdade. Em segundo lugar, usava as leis da lógica, da álgebra e da geometria. Se as leis são usadas para a obtenção da verdade, elas existem porque foram estabelecidas por algo ou alguém.

Se digo que as leis surgiram por acaso, não há propósito. Sem propósito, o pensamento não tem sentido e, consequentemente, não tenho a capacidade de discernir se ele é verdadeiro ou falso, já que não tenho um sentido que me sirva de base.

Precisamos também saber da importância do senso moral (de certo e errado). Só sei o que é errado porque existe o certo, e vice-versa. O certo e o errado só existem por causa das leis. Sem leis, não há ordem, não há senso moral, não há verdade ou mentira. Sem verdade, não há como saber se meu pensamento é verdadeiro ou falso, já que não tenho nenhuma referência.

Por que pensamos?

Esta resposta pode ser dada através de dois pontos de vista: o teológico e o científico. Há também o filosófico, mas não o elucidarei aqui para que o texto não fique exaustivo. O teológico afirma que o ser humano, ao ser criado por Deus, tornou-se alma vivente e, por isso, recebeu a capacidade de pensar, sentir, desejar e escolher (Gênesis 2:7). Já o científico afirma que o pensamento é fruto de processos químicos, físicos e biológicos ocorridos no cérebro. Ambos apontam para a existência de um Criador.

O teológico diz que o ser humano recebeu a capacidade de pensar após receber o fôlego de vida deste Criador. Fato que vai de encontro ao princípio científico da Lei da Biogênese, teorizado por Louis Pasteur. O científico diz que o pensamento é fruto de um processo complexo. Contudo, todo processo na natureza, conforme vimos anteriormente, está submetido a leis. Leis não surgem de forma espontânea, mas são estabelecidas - princípio da Lei da termodinâmica. O físico e matemático Adauto Lourenço afirma: “A Ciência demonstra que todas as coisas foram criadas. Mas o cristianismo revela quem é o Criador”. (LOURENÇO, Adauto – A Igreja e o Criacionismo – Editora Fiel, São José dos Campos, 2009).

Como posso saber se meu pensamento é verdadeiro?

Preciso, primeiramente, ter o conhecimento da verdade que me sirva de referência. Ou seja, se meu pensamento está ou não de acordo com a verdade que conheço.

Como posso saber se a verdade que conheço é, de fato, a verdadeira?

Todo ser humano tem necessidade de uma verdade que lhe sirva de referência. De acordo com C.S Lewis, esta necessidade é indício da existência de uma verdade soberana e primária. E a verdade soberana e primária é a que Deus estabeleceu sobre o ser humano quando o criou.

A origem do pensamento 

Segundo Descartes, a dúvida é o sintoma da imperfeição. A ciência só é possível por causa das dúvidas que acometem o ser humano. Logo, a ciência não pode ser, por si só, perfeita. Descartes deduziu que se ele duvida, é porque é imperfeito. Por ser imperfeito, o ser humano não pode pensar, por si mesmo, em algo perfeito. Se temos a ideia de um ser perfeito, este pensamento não vem de nós, mas de alguém que é perfeito. Este alguém perfeito, segundo Descartes – considerado o pai do racionalismo e cuja obra influenciou a Revolução científica do século XVII – é Deus. O apóstolo Paulo, milênios antes, elucidou: “Quem conheceu a mente do Senhor para que possa instruí-lo? Ninguém conhece os pensamentos de Deus, a não ser o Espírito de Deus.” (I Coríntios 2:16, 11).

Logo, se pensamos, é porque Deus existe.