Precisamos diferenciar cobiça de necessidade. O fato de o ser humano querer muito algo o faz acreditar que tem necessidade de possuí-lo
Matheus Viana
A alma é uma fonte inesgotável de anseios, desejos e cobiças. Creio que, por conta de nosso coração ser enganoso e desesperadamente corrupto (Jeremias 17:9), a cobiça ocupa um lugar de destaque. Sabemos que o ser humano luta constantemente contra seus maus intentos (Romanos 7:19-20). C.S Lewis no livro ‘Cristianismo puro e simples’ elucida de forma admirável a Lei Moral – a qual nomeamos de consciência - que repousa sobre nós. Por mais que não queiramos, o conceito de certo e errado é latente em nossa psique.
Neste contexto, o pecado – ou qualquer outro nome que você dá a uma atitude errada – floresce. O apóstolo Tiago traz um ensino pertinente: “Então a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz ao pecado”. (Tiago 1:15).
Reflita sobre isso e veja que o motivo que o levou a fazer algo que, por mais que você não defina como errado, sua consciência mais íntima define como tal, é justamente a cobiça. O que leva um bandido a roubar algo? Você pode afirmar que é a necessidade. Mas a necessidade e a cobiça estão intimamente ligadas. Veja que, em muitas ocasiões, a cobiça extrema se transforma em necessidade. Este conceito é mais latente nas mulheres, mas os homens também são acometidos por esta espécie de síndrome. O fato de uma mulher querer muito (cobiçar) um sapato novo a faz acreditar que tem necessidade de possuí-lo. É claro que o fato de esta “necessidade” fazer alguém roubar o sapato é exceção. Mas ela não anula a regra de que a cobiça pode se transformar em necessidade.
Sou casado – e muito bem por sinal – mas já caí no pecado da pornografia e da imoralidade algumas vezes. Nunca traí minha mulher na concepção mais usual da palavra, mas já cobicei outras mulheres pela internet e pela televisão. E, conforme Jesus preconiza: “Aquele que olhar para uma mulher com intenção impura, em seu coração adulterou com ela”. (Evangelho segundo Mateus 5:28). O impulso que me levou ao pecado foi a cobiça extrema que me deu a sensação de necessidade de acessar sites pornográficos ou procurar filmes adultos de madrugada.
Esta é a questão. Precisamos diferenciar cobiça de necessidade. Deus exprime sua tristeza através do profeta Jeremias: “Porque o meu povo cometeu dois males: a mim deixou, o manancial de águas vivas, e cavou cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas”. (Jeremias 2:13).
Fazemos isso constantemente. Quando definimos cobiça como necessidade, não pensamos duas vezes em buscar medidas para supri-la. Com isso, o pecado vem à tona. Quando estamos em frente de uma tela de computador e surge a imagem de uma mulher atraente e insinuante que nos leva a cobiçá-la, surge, subitamente, a “necessidade” – que nada mais é do que um desejo aguçado – de clicar sobre ela.
No entanto, quando esta cobiça atinge seu estopim, não precisa aparecer imagem qualquer. Nós mesmos cavamos “cisternas” para saciar nossa sede. Mas, quando terminamos o processo, vemos que ela não foi saciada, pois as cisternas que cavamos não retêm as águas. O que isso significa? Que nunca seremos supridos pelo pecado. Por mais que nos arrependamos, o desejo por ele estará constantemente em nossa alma. É por isso que o apóstolo Paulo afirma: “Pois eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum; pois o querer o bem está em mim, não porém o efetuá-lo”. (Romanos 7:18)...
O que fez com que Lúcifer se tornasse a origem do mal? A cobiça. O profeta Isaías elucida: “E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei. Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo.”. (Isaías 14:13-14).
É isso mesmo! A origem do mal – independente do nome que você dê a ele - é a cobiça. Segundo as Sagradas Escrituras, Satanás - outrora Lúcifer -, travestido de serpente, induziu a mulher ao pecado e esta, consequentemente, o homem ao mesmo destino. Fato que fundamenta a afirmação do apóstolo Paulo: “Por um homem entrou o pecado, e pelo pecado a morte, e a morte passou a todos os homens”. (Romanos 5:12).
Foi por isso que se apresentou à mulher, no Éden, com o intento de subverter a vida abundante que Deus a concedeu. A estratégia foi a mesma: cobiçar o ilícito. Contudo, a abordagem foi ardilosa. Primeiro deturpou o mandamento divino no intento de relativizá-lo. Pintou a imagem de um Deus tirano que queria impedi-la de viver em plena liberdade.
A estratégia deu certo! A narrativa bíblica elucida três aspectos: “E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu.”. (Gênesis 3:6).
Jesus diz que os olhos são a candeia do corpo (Evangelho segundo Mateus 6:22-23). Ou seja, aquilo que vemos alimenta a nossa alma e determina o nosso comportamento. Vemos este ciclo no episódio de Eva. Ela “viu” que a árvore era boa para comer, “agradável” aos olhos e “desejável para dar entendimento”. Tais atributos a fizeram tomar do fruto e comer. O resultado? Conhecemos bem.
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