quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Culto ao Deus desconhecido

Matheus Viana

Ao ler este título, os mais familiarizados com as Escrituras lembram-se, subitamente, da passagem registrada por Lucas quando Paulo pregou o Evangelho em Atenas (Atos 17:23). Para entendermos o teor desta mensagem, devemos conhecer o conceito bíblico de Reino de Deus.

Tal conhecimento demanda uma análise do pensamento que fundamentava e alimentava a expectativa dos judeus no tocante à Sua manifestação. O que não é possível sem uma prévia análise sobre a monarquia em Israel. Ela substituiu o modelo dos chamados juízes de Deus sobre o povo, que eram libertadores levantados por Ele para livrar Israel do opróbrio de seus inimigos (Juízes 2:16).
    
As Escrituras afirmam que a substituição dos juízes por um rei foi pedida pelo povo (I Samuel 8:6). Para a entendermos, convém analisarmos por que Deus instituiu juízes. O livro dos Juízes começa narrando a guerra de Israel contra os cananeus e demais povos que habitavam Canaã, a terra que Deus concedeu a Israel como cumprimento da profecia feita a Abraão. Contudo, algumas tribos não expulsaram todos os povos que deveriam expulsar. Na contramão, fizeram acordos para que eles continuassem habitando no meio deles. A maioria destes povos serviam as tribos de Israel como escravos.
    
Jesus - ainda não manifesto como homem e descrito na narrativa bíblica como O Anjo do SENHOR - apareceu ao povo e disse: “Tirei vocês do Egito e lhes trouxe à terra que prometi aos seus antepassados. Eu disse: Jamais quebrarei a minha aliança com vocês. E vocês não farão acordo com o povo desta terra, mas demolirão os seus altares. Por que vocês não me obedeceram? Portanto, agora lhes digo que não os expulsarei da presença de vocês; eles serão seus adversários; e os deuses deles serão uma armadilha para vocês.” (Juízes 2:1-3).
    
O primeiro ponto é a conivência e convivência com a idolatria. O mandamento de Deus era de destruir todos os altares a deuses estranhos e expulsar todos os povos que os cultuavam para que a terra fosse redimida e a cultura – em seu aspecto integral – de Deus fosse estabelecida através da Lei de Moisés. Mas não foi o que ocorreu. A cultura pagã destes povos tornou-se a cultura do povo de Israel, representado por suas tribos: “Abandonaram o SENHOR, o Deus de seus antepassados, que os havia tirado do Egito, e seguiram e adoraram vários deuses dos povos ao seu redor” (Juízes 2:12).
    
Realidade que nos enreda, guardadas as devidas proporções e observados os aspectos peculiares. Os traços e valores da cultura secular anticristã vigente são, consciente e inconscientemente, o fundamento do pensamento de muitos que se proclamam cristãos. Suas ações conflitantes com a Ética de Deus (Jesus Cristo revelado pelas Escrituras) ao homem são meras consequências. A apostasia vivida por Israel naquele contexto é completamente pertinente aos nossos dias: “Depois que aquela geração (de Josué) foi reunida aos seus antepassados, surgiu uma nova geração que não conhecia o SENHOR e o que ele havia feito com Israel. Então os israelitas fizeram o que o SENHOR reprova e prestaram culto aos baalins.” (Juízes 2:10-11 – Ênfase acrescentada).
    
Esta apostasia foi resultado de Josué e toda a geração que lhe foi contemporânea morrerem. Eles não ensinaram a geração posterior guardar os preceitos de Deus, a prestar-Lhe o culto racional. Na esteira do historiador eclesiástico cristão Eusébio de Cesareia, Josué foi, em seu tempo, uma tipificação de Jesus. No entanto, o fato de Jesus “ter morrido” não se refere à Sua morte redentora, seguida da gloriosa e triunfante ressurreição; mas ao fato de Ele não ocupar, no coração das pessoas, o lugar que Lhe é devido. Além de ser simplesmente esquecido por muitos, Seu Evangelho tem sido deturpado, o que corrobora na deturpação de Seu legado e de Sua identidade. O não reconhecimento de quem Ele É resulta na não entronização do Seu nome. Desta forma, a cultura padece.
    
Juntamente com a “morte de Jesus”, temos a “morte” da doutrina apostólica. Assim como a geração de Josué pereceu, os legados dos apóstolos e dos chamados pais da Igreja – ou pais apostólicos -, registrados por eles para a manutenção do cristianismo e seu ensino às gerações posteriores, não são considerados. O estudo da chamada História da Igreja foi reduzido ao patamar da “intelectualidade inútil” ou “teologismo frio”, bem como todo arcabouço teológico, oriundo dos profetas, dos apóstolos e dos pais que ajudou a construir a ortodoxia cristã, necessária para que a Igreja permanecesse vencedora nos seus primeiros séculos de existência.
    
É claro que devemos considerar a abordagem da teologia liberal que reduz Jesus a um mero personagem histórico por analisa-Lo segundo o método histórico/crítico, baseado na dialética hegeliana, mas com um caráter materialista. Na tentativa de eliminar este erro elementar, comete-se outro erro: o de ignorar o estudo dos contextos históricos que enredam as Escrituras. Desta forma, o Jesus histórico passa a ser um Jesus meramente místico, mágico. Semelhante a um gênio da lâmpada que existe apenas para cumprir os nossos desejos que, conforme advoga a perniciosa “teologia” da prosperidade, “temos direito de recebê-los através do Sangue de Cristo”. A afirmação “eu determino em nome de Jesus” surge a roldão. Assim, Seu nome Santo e Soberano é, consequentemente, reduzido ao patamar de elemento de um chavão pronunciado com intentos mágicos. “Em nome de Jesus” é declarado com o mesmo caráter da expressão “Abracadabra”. Heresia pura e simples. Tudo isso fruto do não conhecimento de quem Ele, de fato, é.
    
O resultado não poderia ser diferente. À semelhança do povo hebreu quando construiu o bezerro de ouro, por ser o modelo de culto que ele aprendeu no Egito em 400 anos de escravidão, há denominações chamadas evangélicas que usam como adereços de culto fantasias de super-heróis, de dinossauros entre outros. Demonstrações evidentes de que os aspectos culturais seculares, chamados de cultura pop ou pop arte, - não apenas na forma (estética e linguagem), mas também na essência - permeiam seus corações de modo a determinar seus pensamentos, sentimentos e atitudes. Não podemos dizer que a intenção seja equivocada. O motivo é que não conhecem Jesus Cristo. Pois o “Cristo” que eles conhecem é completamente moldado pela cultura vigente, idólatra em sua essência. Em outras palavras, o Cristo que eles cultuam é um criado à imagem e semelhança dos anseios humanos. O nome disto é? Idolatria.    

Os povos não expulsos da terra pelos israelitas tornaram-se seus inimigos, instrumentos de opróbrio. Quando não somos governados por Deus, somos governados pelos nossos maus desejos. Aquilo que transformamos em objeto de culto torna-se nosso dominador. O povo de Israel rejeitou a vontade de Deus, fruto de Seu governo, para se conformar às culturas das civilizações idólatras e, por isso, foi por elas dominado. O que governa o nosso coração? A resposta está em nossa forma de pensar, de sentir e de agir. Expressa em nossa forma de culto. Algumas denominações ditas evangélicas estão enredadas e dominadas pelas teias do Homem-Aranha, literalmente. Outras estão no cativeiro da história antiga, cujos “sacerdotes” são dinossauros. Quem ler, entenda! Que a verdadeira Igreja de Jesus seja despertada, a fim de que Cristo, Filho do Deus vivo, O Soberano SENHOR, seja cultuado!

Nenhum comentário:

Postar um comentário