sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Respeitando fatores


Preguemos o Evangelho em caráter de urgência, mas respeitando os fatores salientados pelas Sagradas Escrituras. Tempo e livre arbítrio são dois deles

Matheus Viana

O sábio Salomão ensina: “Tudo tem seu tempo determinado. Há tempo para todo propósito debaixo dos céus”. (Eclesiastes 3:1). Apesar de óbvio, este conceito tem sido, além de banalizado, mitigado da sociedade pós-moderna.

Não é de hoje que vivemos os desdobramentos da geração fast food. A dinâmica da vida tem determinado resultados urgentes. Em nosso cotidiano cada vez mais turbulento, respeitar o fator tempo é visto como algo pejorativo. Caso não geramos os frutos que nosso contexto exige no tempo devido, corremos um grande risco de sermos preteridos.

Este padrão tresloucado tem ditado o ritmo da Igreja atual. Muitos baseiam-se nas palavras de Jesus: “Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Eis que eu vos digo: Levantai os vossos olhos, e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa. (Evangelho segundo João 4:35).

Não precisa ser teólogo para saber que com tais palavras, Jesus estava transmitindo aos discípulos a mensagem de que em todo o tempo é oportuno para pregarmos o Evangelho do Reino a fim de que Ele seja estabelecido no coração dos ouvintes. Ou seja, a terra – o coração humano – está pronta para receber esta preciosa semente. Contudo, o “agora” relatado nas Escrituras não anula os diferentes “terrenos” elucidados pelo próprio Jesus na Parábola do Semeador (Evangelho segundo Mateus 13:1-22) nem tampouco o princípio do livre arbítrio estabelecido por Deus ao homem.

Baseado neste princípio, o apóstolo Paulo exorta: “pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina”. (II Timóteo 4:2). A urgência contida nas ordenanças de Jesus também não anula o fator tempo. Tanto que Ele sempre usou elucidações ligadas ao fruto da terra. Como sabemos, há um determinado tempo entre o semear e o colher. E isso, infelizmente, não tem sido respeitado na Igreja atual.

Há uma certa distância entre pregar o Evangelho e as pessoas se converterem. Jesus nos comissiona a sermos frutíferos como produto da disseminação do Evangelho do Reino dos Céus através de nós. Exigir a conversão de vidas gera um fardo que nem o próprio Jesus exige. Pelo contrário, Ele disse: “Porque o meu fardo é leve e meu jugo é suave”. (Evangelho segundo Mateus 11:30).

O apóstolo Paulo explicita o comissionamento que Jesus espera de nós, Seus discípulos: “Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho! (I Corintios 9:16). Isso é um jugo? Uma condenação? Claro que não! É questão de consciência. A humanidade aguarda pela manifestação dos filhos de Deus (Romanos 8:19). Por isso, nossa parte é pregar o Evangelho do Reino de todas as formas possíveis e utilizando os dons e talentos que Deus, em Sua multiforme e sabedoria, nos concedeu visando um fim proveitoso (I Coríntios 12:7).

Fazer com que vidas se convertam, apesar de ser o nosso latente desejo, não cabe a nós. O próprio Cristo está à porta e bate (Apocalipse 3:20). Ou seja, Ele, que morreu na cruz por cada ser humano, respeita a decisão da pessoa de rejeitar Seu Evangelho. Por isso, Ele mesmo nos adverte: “Pois é o Espírito que convence o homem do pecado, da justiça e do juízo”. (Evangelho segundo João 16:8). Não é a toa que quando um pecador se arrepende há festa nos céus!

Jesus, sábio e soberano como é, respeita, além da decisão, o fator tempo. Ele protagonizou episódios de conversões instantâneas, como a da mulher samaritana. Porém, aquele sobre quem profetizou que a Igreja seria estabelecida, Pedro (Evangelho segundo Mateus 16:18), se converteu após três anos andando próximo a Ele. Viu Seus milagres, testemunhou Seu poder, Sua sabedoria, recebeu a revelação de que Ele era o Cristo, filho do Deus vivo (Evangelho segundo Mateus 16:16)... Mas só se converteu após Jesus aparecer para ele, depois de ressuscitado, no mar de Tiberíades. É! A semente do próprio Jesus levou um tempo considerável para gerar um fruto excelente, não é verdade?

É óbvio que a nossa pregação deve ser fomentada pelo nosso desejo de que vidas se convertam. Mas isso, repito, não depende de nós. Nossa parte é pregar o Evangelho com intrepidez (Efésios 6:19) e em demonstração de espírito e poder (I Coríntios 2:5). Exigir algo além disto, como por exemplo, não apenas que vidas se convertam, mas estipular tempo para que isso aconteça, não é concernente ao Cristianismo proposto por Jesus.

Preguemos o Evangelho em caráter de urgência, mas respeitando os fatores salientados pelas Sagradas Escrituras. Tempo e livre arbítrio são dois deles.

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