quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Pentecostalismo x intelectualismo


Intelecto sem a ação do Espírito é intelectualismo (II Coríntios 3:6). Mas Espírito sem intelecto é pentecostalismo. Deus é Espírito (Evangelho segundo João 4:24). Contudo, Ele deseja que o adoremos em Espírito e em verdade. Ou seja, a ação do Espírito não pode anular o exercício do intelecto e vice-versa.

Matheus Viana

“E não vos conformeis com este mundo, mas sejam transformados pela renovação da vossa mente para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.”. (Epístola do apóstolo Paulo aos romanos 12:2).

Mente. Apontada como sede da razão. O exercício intelectual é, de certa forma, rechaçado em meio aos cristãos. Razão e fé. Para muitos, elementos incompatíveis. Distintos e insolúveis como a água e o óleo. Em outras palavras, o intelecto é visto como algoz da fé. (Não deixe de ler o texto ‘A razão sobrenatural’).

Será? Ao meditarmos nas Sagradas Escrituras percebemos que não é assim. A advertência de Paulo, citada acima, testifica tal fato. Mas ela não é a única. Jesus, citando um mandamento da Lei de Moisés, nos exorta a amarmos a Deus de todo o coração, de toda alma e de todo o entendimento (Evangelho segundo Mateus 22:37). Ou seja, o intelecto é peça fundamental deste mosaico por ser parte integrante de nosso ser. Não há como fugir disto.

Em sua epístola aos cristãos na cidade de Corinto, o apóstolo Paulo salienta: “Porque o deus deste século cegou o entendimento das pessoas para não lhes resplandecer a luz do evangelho.” (II Coríntios 4:4). A serpente abordou Eva com o intento primário de deturpar seu entendimento (Gênesis 3:1-4). Ou seja, sua forma de pensar até então pavimentada pela vontade de Deus. Com o intelecto contaminado, ela fez com que sua cobiça viesse à tona. A desobediência e o surgimento da maldição chamada ‘pecado’ foram inevitáveis. 

A estratégia não mudou. Enquanto rechaçamos, equivocadamente, o exercício intelectual – e tudo que seja oriundo dele – de nossa prática de fé, Satanás o alveja. E, como com Eva no Éden, tem logrado êxito conosco. Pois a maneira de pensarmos determina o nosso comportamento. Descartes dizia: “Penso, logo existo”. Sim, ele preconizava que o ato de pensar é a prova cabal de nossa existência. No entanto, vemos claramente que o pensar não comprova apenas a nossa existência, mas determina quem, de fato, somos. Em outras palavras, o intelecto determina nossa identidade e, consequentemente, nossas ações. (Não deixe de ler o texto ‘O ser determina o fazer’).

Tomaremos a Cruz que Cristo nos comissiona (Evangelho segundo Mateus 16:24), por exemplo, quando nos conscientizarmos, pelo Espírito (Evangelho segundo João 16:8), da necessidade que temos de sermos justificados por Ela. Por isso o intento de Deus, evidente em toda a Escritura, é alcançar o nosso coração, nossa alma e nosso intelecto.

Coração simboliza os nossos sentimentos. O apóstolo Paulo orienta: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus.” (Filipenses 2:5). Alma fala da capacidade que possuímos de desejar e escolher. Vemos no relato de Gênesis que Deus, ao soprar sobre as narinas do homem de Seu próprio fôlego de vida, faz dele ‘alma vivente’ (Gênesis 2:7). Um ser capaz de desejar e escolher cuja conduta de vida seria pautada por tal atributo. No entanto, o segundo Adão, conforme Paulo ensina, não veio como ‘alma vivente’, mas como ‘Espírito vivificante’ (I Coríntios 15:45). Sua conduta não foi pautada pelos seus desejos e escolhas, mas pelos desejos e escolhas do Espírito Santo de Deus sobre sua vida. Contudo, isso é pauta para uma análise futura.

No capítulo 2 de sua carta aos coríntios, Paulo elucida sobre o fato de recebermos a sabedoria de Deus por intermédio de Seu Espírito. Pois a mente humana não é capaz de compreendê-la (Não deixe de ler o texto 'Perscrutando o imperscrutável'). Por isso iremos rechaçá-la? Claro que não! O próprio Paulo nos emite a resposta: “Porque, quem conheceu a mente do SENHOR, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo”. (I Corintios 2:16). Ou seja, submetermos a razão humana à razão divina.

Mente. Entendimento. Intelecto. Várias expressões. Significado único: capacidade de pensar. Por que as Sagradas Escrituras são tão enfáticas nelas. Por que temos que passar por uma renovação de mente para experimentarmos a boa, perfeita e agradável vontade de Deus? Por que o deus deste século cega o entendimento das pessoas? Por que Paulo nos adverte a termos a mente de Cristo? Por que Lucas evidenciou o fato de que Jesus cresceu em sabedoria (alma/mente), estatura (corpo) e graça (Espírito) diante de Deus e dos homens (Evangelho segundo Lucas 2:52)?

Aquele que, segundo a profecia de Jesus, fora enviado para nos ajudar, para nos ensinar, e nos fazer lembrar todas as coisas que Ele disse (Evangelho segundo João 14:26) nos emitirá, por meio das Escrituras, as respostas para cada indagação. Veja que interessante: o Espírito Santo nos ensina e nos faz lembrar. Atitudes ligadas à... Isso mesmo: atividade intelectual.

A resposta de Jesus aos saduceus: “Errais por não conhecerem as escrituras nem o poder de Deus.” (Evangelho segundo Mateus 22:29) é completa. Apesar de serem peritos na Lei, eles não tinham a capacidade de pensar segundo a mente de Cristo. Ou seja, seus intelectos não agiam de acordo com a chamada razão sobrenatural. Por isso, não reconheceram o próprio Deus a quem diziam servir envolto em um simples judeu. Para piorar, também não conheciam o poder de Deus. Ou seja, a mesma ação do Espírito Santo que chancelava, por exemplo, a pregação e o ministério de Paulo (I Coríntios 2:4-5).

Intelecto sem Espírito é intelectualismo (II Coríntios 3:6). Mas Espírito sem intelecto é pentecostalismo - misticismo desprovido de caráter bíblico. Comum, infelizmente, em nossos dias. Deus é Espírito (Evangelho segundo João 4:24). Contudo, Ele deseja que o adoremos em Espírito e em verdade. A ação do Espírito não pode anular o exercício do intelecto e vice-versa.

Que aprendamos a lição!

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