terça-feira, 13 de setembro de 2011

A razão sobrenatural


O que é sobrenatural para a razão humana é natural para a divina. A fé é o instrumento que faz com que a razão humana se converta à divina. Por isso afirmar que a fé ignora o exercício intelectual é prova cabal de carência... Isso mesmo: intelectual.


Matheus Viana

Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade. (Filipenses 2:13).

Uma realização exitosa passa antes pelo querer. O desejo determina o sucesso de nossos feitos. Ainda que ele não seja suficiente, é fator fundamental. O querer é baseado em dois atributos: sentimento e intelecto. O que fez Eva preterir a vontade de Deus e subverter a natureza humana (Romanos 5:12, Colossensses 3:5) foi o fato de submeter seu intelecto a um discurso contrário e, consequentemente, desejar algo ilícito.

Jesus disse que o primeiro dos dois grandes mandamentos é: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento.” (Evangelho segundo Mateus 22:37). Pois ele pavimenta a realização do mandamento posterior: “Amarás o seu próximo como a si mesmo.” (Evangelho segundo Mateus 22:39) que redunda em altruísmo.

Nosso desejo, ainda que pautado pela alma (sentimento), deve estar fundamentado por uma consciência e racionalidade sã (razão). Sentimento (ou emoção) desprovido de razão produz realizações e resultados nocivos e até fatais. Por outro lado, razão sem emoção é evasiva. Por isso o apóstolo Paulo preconiza que só experimentaremos a boa, perfeita e agradável vontade de Deus quando nos submetermos ao processo transformador de renovação de mente (Romanos 12:2).

Uma questão é bastante pertinente: o que determina o comportamento humano? Sua maneira de pensar. Nossa maneira de pensar, no entanto, deve estar pautada pelos nossos sentimentos. “Deus ‘amou’ o mundo de tal maneira que ‘deu’ seu Filho unigênito para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Evangelho segundo João 3:16). Ele ‘amou’ (sentiu) e agiu visando um propósito, o que implica em raciocínio. Portanto, razão e sentimento são fatores complementares para o êxito de uma realização.

Nossa razão (pensamento) deve ser submetida à mente de Cristo (I Coríntios 2:16, Colossensses 3:1-2). Ou seja, devemos pensar segundo aquilo que é chamado de ‘viés ideológico’ dEle. Contudo, só conseguiremos vencer este desafio quando observarmos a seguinte exortação de Paulo: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus”. (Filipenses 2:5).

A fé extrapola a razão humana, mas não a anula. Pedro teve fé para andar sobre as águas do mar revolto, ou seja, extrapolou sua razão diante do fato de que iria afundar. No entanto, seu querer (desejo e intelecto) estava fundamentado na Palavra de Jesus que é viva e eficaz (Hebreus 4:12) e Espírito e vida (Evangelho segundo João 6:63). A razão divina é diferente da humana. O que é sobrenatural para a razão humana é natural para a divina. A fé é o instrumento que faz com que a razão humana se converta à divina. Por isso afirmar que a fé ignora o exercício intelectual é prova cabal de carência... Isso mesmo: intelectual.

O apóstolo João afirma que as Palavras proferidas por Jesus (Seu evangelho) são Espírito e vida, conforme foi citado anteriormente. No grego há três expressões usadas para traduzir a expressão ‘vida’: bios, psique e zoe. Bios é a vida física, psique é comumente relacionado à alma e zoe ao espírito, ou seja, a vida em seu significado pleno, também relacionado à vida de Deus concedida ao homem (Gênesis 2:7).

De acordo com a terapeuta Patrícia Viana, especialista em saúde mental, o termo psique aborda tanto a alma quanto o intelecto do indivíduo. Apesar de serem dois atributos distintos, são coesos. Não há como desvencilhar sentimento e pensamento. Um delírio psicótico, por exemplo, é executado por um intelecto adoecido. “O delírio é a fuga – inconsciente - do indivíduo para não entrar em contato com a realidade que fere seus sentimentos lhe causando dor”, afirma Viana.

A vida que Jesus nos convida a viver é pautada pelo Seu sobrenatural. Mas, ainda que seja algo acima da racionalidade humana, não possui contornos de delírio. No entanto, há muitos que vivem um cristianismo delirante que produz uma “fé” irresponsável.

Cristianismo sem o exercício pleno de nossa psique (pensamentos e sentimentos) fundamentado em Seu evangelho é delírio. É Ele – e somente Ele – que efetua tanto o querer quanto o realizar. O que isto significa? Que se Ele nos pediu algo que para nós é impossível, creia (submissão de razões e sentimentos) que é possível. Ele não é homem para que minta (Números 23:19). O impossível será possível na medida em que a nossa ‘nous’ (mente, modo de pensar) for substituída pela “nous” de Cristo. Ou seja, quando desejarmos a Sua boa, perfeita e agradável vontade de todo nosso coração, de toda nossa alma e de todo nosso pensamento.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário