terça-feira, 2 de agosto de 2011

Feche os olhos

Matheus Viana


Feche os olhos! Este foi o comando emitido ao meu coração e que subitamente atingiu meu intelecto enquanto pedalava uma ergométrica. Regularmente, pedalo durante trinta minutos. Período estafante. Mas no dia 17 de maio de 2011 foi diferente. Me submeti a esta espécie de mandamento. Fechei os olhos e comecei a pedalar. Os músculos das minhas pernas eram exercitados e doíam como das outras vezes. Mas continuei. Por várias vezes fui tentado a olhar o relógio para ver se os trinta minutos diários se expiraram. Porém, fui impelido a continuar, mesmo com as dores e o cansaço.

No entanto, um certo medo começou a se apoderar de mim: “Não posso fazer mais do que trinta minutos de exercício. Minha capacidade respiratória e os batimentos cardíacos não permitem.”, dizia para mim mesmo. Teimoso, persisti pedalando com os olhos fechados.

O suor escorria pelo meu corpo. As pedaladas ficavam cada vez mais pesadas e extenuantes. A dor e a fadiga beiravam o extremo. Quando não aguentei mais, abri os olhos e olhei para o relógio. Mais de quarenta minutos haviam se passado. Para ser mais exato, pedalei durante quarenta e dois minutos.

Fui além dos diagnósticos que pautam minha vida. Superei minhas expectativas. Rompi os meus limites. Apesar de serem constatações com aparência de autoajuda, acredite, não são. Isto apenas confirma a veracidade do que o apóstolo Paulo preconiza: “Andamos por fé, e não por vista”. (II Coríntios 5:7).

Sim, a fé é cega! Ela é a certeza das coisas que não se veem (Hebreus 11:1). Toda vez que pedalava olhando para o relógio conseguia, com muita dificuldade, a “façanha” de trinta minutos. Almejava pelo momento em que o ponteiro atinge o algarismo ‘6’.   Quando acontecia, eu parava, instantaneamente, de pedalar e me considerava vitorioso por cumprir o que propus para mim mesmo.

No entanto, aquele que nos adverte a fecharmos os olhos é o que propõe algo muito maior às nossas vidas. O profeta Isaías emite o veredicto divino: “Porque os seus caminhos não são os meus caminhos, nem os seus pensamentos os meus pensamentos. Pois assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos que os seus caminhos e os meus pensamentos mais altos que os seus pensamentos”. (Isaías 55:8-9).
       
Paulo de Tarso é considerado o apóstolo cristão de maior expressão e influência, mesmo não tendo pertencido ao seleto grupo dos doze. No entanto, ele só conseguiu este notável êxito porque teve sua personalidade transformada: de um fariseu devoto que perseguia cristãos para um cristão perseguido. Tal metamorfose foi devida à cegueira que lhe acometeu (Atos 9:8).

Quando se dirigia para Damasco teve um encontro com Jesus. Caiu do animal que o transportava e ficou cego. Um cristão chamado Ananias recebeu a incumbência divina: “Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios e dos reis e dos filhos de Israel.”. (Atos 9:15).

Este homem notável partiu de Jerusalém como Saulo e com um objetivo: prender cristãos. Mas retornou como Paulo e com uma vocação: proclamar o Evangelho do Reino dos céus. Sabemos que o nome do indivíduo, no contexto bíblico, fala de seu caráter. O nome Saulo – derivado de Saul – significa ‘aclamado’. Já Paulo significa ‘pequeno’. Seu orgulho de ser um erudito da Lei mosaica precisou ser abatido a fim de ver quem realmente era: um ser pequeno diante da magnitude de Seu Criador. Só depois disto é que pôde, de fato, viver segundo os preceitos da soberana vontade divina. Antes da restauração há a cegueira!

Todos nós temos áreas que nos impedem de viver a soberana vontade de Deus e por isso estamos muito aquém daquilo que Ele deseja para nós. Alguns nutrem uma visão além daquilo que verdadeiramente são, outros, aquém. Este mesmo Paulo adverte: “Porque pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um”. (Romanos 12:3).

Enquanto Deus deseja que pedalemos durante mais de quarenta minutos, nos conformamos em pedalar, com muito custo, os trinta diários. Em uma bicicleta comum, isso significa ir mais longe.        O apóstolo Paulo disse certa vez: “Prossigo para o alvo para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”. (Filipenses 3:14). É fato: os intentos de Deus a nós são humanamente impossíveis de serem alcançados. Não conseguiremos cumprir o que Ele nos propõe se fitarmos os olhos nas dificuldades e nos obstáculos que nos cercam. A solução para isso é “simples”: não olhe os resultados ou metas humanas. Não olhe as adversidades. Não contemple suas limitações. Apenas feche os olhos e pedale...

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