Os que se dispõem a serem agentes desta reforma intelectual são preteridos. Pois seus princípios, valores e objetivos não são atrativos e nem um pouco interessantes
Matheus Viana
Sei que esta espécie de clamor soará de forma solitária. Já estou conformado com isso! No entanto, sofro da “síndrome do articulista”. Mesmo ciente do risco que ele corre de ser malhado como um boneco de Judas em véspera da páscoa ao se pronunciar sobre algo, não resiste à “tentação” e escreve sua crônica, num comportamento meio que ‘Kami Kaze’.
Bom... Lá vou eu! Há tempos tenho estado desconfortável com o controle que o dinheiro causa no ser humano. Calma! Não sou contra a economia liberal – desde que não exceda os limites da coerência e do valor humano. Mas sou implacavelmente contrário à embriaguez causada por um fascínio excessivo que o capital causa no indivíduo.
Antes, porém, de divagar sobre esta confissão, preciso elucidar a causa dela. Definitivamente, fazer algo no Brasil que demande ao público-alvo o exercício, ainda que seja pequeno, do intelecto é estar disposto a viver uma vida medíocre. Ter o que comer e o que vestir são conquistas estrondosas.
Em contrapartida, o culto à futilidade está cada vez mais lucrativo. O número de pessoas enfeitiçadas por mecanismos de dinheiro fácil, mesmo que seja virtual, é alarmante e, por que não dizer, preocupante. Pois visam adquiri-lo sem, contudo, estarem fazendo algo prático e útil para a sociedade a qual pertencem.
Veja as imagens do professor e do pensador na sociedade brasileira. São consideradas caricaturais e alvos de constantes repúdios. Ter a imagem vinculada às celebridades é muito mais interessante do que a um intelectual. O próprio valor da palavra “intelectual” está gravemente degradado. Ao ouvirmos, ligamos, automaticamente, a uma pessoa insuportável que não garante, de maneira nenhuma, o divertimento e o prazer social.
Esquecem de que são alguns destes “insuportáveis” que lutam por uma educação de qualidade, por uma política que garanta cidadania digna para todos e por conceder ao brasileiro o desenvolvimento moral e intelectual para que não seja alvo de manipulações, quaisquer que sejam. Não! Estes não têm a mínima importância. Não são lucrativos. Pois tempo é dinheiro! Tempo para pensar e refletir é desperdício financeiro...
O apóstolo Paulo declara a verdade latente em nossos dias que diz: “A ardente expectativa da criação aguarda pela manifestação dos filhos de Deus”. (Romanos 8:19). Enquanto prosseguimos rumo ao alvo de nossos desejos e cobiças, a humanidade está submersa em uma política cada vez mais corrupta, em uma educação pública cada vez mais degradante, em preceitos morais completamente dilacerados e a cidadania digna cada vez mais carente. No entanto, Paulo nos adverte: “Mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis a boa, perfeita e agradável vontade de Deus”. (Romanos 12:2).
Os que se dispõem a serem agentes desta reforma intelectual são preteridos. Pois seus princípios, valores e objetivos não são atrativos e nem um pouco interessantes.
Muitos criticam a atitude do jovem rico narrada no livro bíblico de Lucas (Capítulo 18:18-30). Mas ela é apenas a demonstração comportamental da esmagadora maioria. Dar aos pobres consiste também em renunciar preceitos e valorizar aquilo que verdadeiramente possui valor. Infelizmente, no contexto de uma sociedade hedonista, estes agentes são considerados os “pobres”. Inaptos para aderirem ao “sistema”.
É conferida à ‘marca da Besta’ apenas uma conotação apocalíptica. Todavia, quando as Sagradas Escrituras dizem: “para que ninguém pudesse comprar nem vender, a não ser quem tivesse a marca...”. (Apocalipse 13:17), estão se referindo ao fato de que, quem não pensar de acordo com este mosaico de valores e prioridades será considerado carta fora do baralho. Pois não conseguirá seguir o ritmo frenético e tresloucado rumo à superficialidade de aparência embriagante. Tomado por um forte desalento, obedecerá ao início da elucidação do apóstolo Paulo: “Não vos conformeis com este século”. (Romanos 12:2) e também o conselho do apóstolo João: “Não ameis o mundo e nem o que nele há”. (I João 2:15).
Eu sou carta fora do baralho. E você?
Artigo publicado na edição 006 de Profecia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário