quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O efeito gangorra


Matheus Viana

Quando estamos em uma gangorra, obviamente com uma pessoa do outro lado, nosso esforço consiste em nos abaixarmos para que ela seja erguida. Quanto mais nos abaixamos, mais alto ela será levantada. A recíproca também é verdadeira.

João, o Batista, evidenciou este efeito em sua vida, e consequentemente em seu ministério, quando declarou: “É necessário que ele cresça e que eu diminua.” (Evangelho segundo João 3:30). Ele quem? Veja pelas palavras do próprio João Batista: “No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: 'Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo'". (Evangelho segundo João 1:29).

Somos chamados a viver o efeito gangorra. Jesus profetizou que todas as coisas serão restauradas pelo ministério, chamado por ele de ‘Elias’ (Evangelho segundo Mateus 17:11), confiado aos Seus seguidores do presente, mas baseado no de João Batista (Evangelho segundo Mateus 17:12).

O apóstolo Paulo preconiza: “Aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória.” (Colossenses 1:27). Cristo em nós é a esperança da glória. Uma parceria infalível. Mas, para o pleno êxito, cada um deve funcionar no seu devido lugar. Ou seja, para que esta esperança atenda a ardente expectativa da humanidade (Romanos 8:19), precisamos nos abaixar o máximo que pudermos para que Cristo seja erguido. Caso contrário, nada feito.

Esse é o grande desafio. A parte que nos cabe é apenas uma: permanecer na parte de baixo da gangorra. Contudo, manter Cristo erguido é algo extremamente difícil. O coração humano tem necessidade de estar no alto. Não é a toa que Jeremias o chama de enganoso e desesperadamente corrupto (Jeremias 17:9). Enganoso por nos transmitir a sensação de que o sentido de nossa vida está em permanecermos na parte alta da gangorra. Temos visto, desde a queda no Éden, as catástrofes oriundas do homem cobiçar e ocupar este lugar. E corrupto porque ele fará de tudo para permanecer no alto.

Fico perplexo ao notar o quanto o triunfalismo tem usado, ilicitamente, a roupagem do Evangelho e permeado o coração dos cristãos. Um pseudoevangelho que não profere o quebrantamento e a humildade, mas apenas a “vitória em Cristo” de que seremos cabeça e nunca cauda. Na contramão, Jesus declara: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”. (Evangelho segundo Mateus 11:29). A vitória de Jesus foi pavimentada por estes dois atributos. (Filipenses 2:6-9). Prometo que, em breve, meditaremos neles. No presente momento, estou em processo de experiência e aprendizagem, por isso não estou gabaritado para tal empreitada. Confesso que o desejo de permanecer no alto da gangorra ainda reside em mim.

É interessante quando analisamos, de forma mais acurada, parte da oração que Jesus ensinou aos Seus discípulos: “Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o seu nome, venha a nós o Seu Reino, seja feita a sua vontade, assim na terra como nos céus”. (Evangelho segundo Mateus 6:10). Como já afirmei anteriormente, por várias vezes, esta oração nada mais é do que a verbalização do clamor divino. A exemplo da escrita hebraica, comecemos a análise de modo inverso.

O propósito de Deus consiste em que Sua vontade seja feita na terra assim como nos céus. Isso desde o Éden. Mas algo, no início, comprometeu todo o plano: ela mesma... a vontade humana contrária à divina. A medida restauradora foi a Cruz de Cristo (Apocalipse 13:8). Pois a vontade divina só será, de fato, exercida na terra – como é nos céus -  na medida em que nos submetermos à ela (Evangelho segundo Mateus 16:24).

É nisto que consiste o Reino dos céus: a vontade de Deus sendo estabelecida sobre toda a terra. Não será manifesto como um regime tirano e totalitário. Mas mediante a renovação da nossa mente a fim de que conheçamos e vivamos Sua “boa, perfeita e agradável vontade” (Romanos 12:2). É questão de sã consciência pura e simples.

Mas veja o restante da oração. Jesus declara: “santificado seja o seu nome”. Lembra dos serafins da visão de Isaías (Isaías 6:1-8) e dos quatro seres viventes da visão de João, na ilha de Patmos (Apocalipse 4:4-8)? Seres celestiais que proclamavam “Santo, santo, santo”. Ou seja, santificavam o nome do Senhor ininterruptamente. Onde? Ao redor do Trono. Por isso diziam: “Santo, santo, santo é o Senhor”.

A verdadeira santificação de Deus consiste em Sua entronização. O exercício da santidade divina em nós é consequência do fato dEle ocupar o Trono chamado ‘ego’. O problema é que o cobiçamos e fazemos de tudo para assumirmos o controle. Queremos permanecer na parte alta da gangorra. Conforme Jesus orou, o Pai que está nos céus só virá a nós quando construirmos um Trono para Ele a fim de que Seu nome seja santificado. Em outras palavras, nos esforçarmos o máximo que pudermos para que permaneçamos na parte de baixo. Jesus disse certa vez: “O Reino de Deus é tomado por esforço”. (Evangelho segundo Mateus 11:12). Este é o esforço que atrairá o Reino dos céus em nossas vidas a fim de que Ele encha toda a terra.

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