Matheus Viana
“Se a
intelectualidade cristã não nos fazer voltar os olhos para a soberania de Deus
no poder do Espírito, pela fé na graça de Cristo, ela será tão vã quanto
qualquer outra filosofia materialista”.
Esta
frase foi publicada, recentemente, em uma rede social. O autor acredita – pois o
próprio ato de publicar atesta tal fato – que realizou uma apologética cristã, fruto de uma devoção de mesmo caráter.
Mas esta frase não é uma apologética porque é desprovida de elementos lógicos
básicos. Caso clássico de técnica do
espantalho.
Uma “intelectualidade
cristã” que não faça o que o referido autor citou não pode ser considerada
cristã. Ela sequer existe. É questão ontológica pura e simples. Seria o mesmo
que afirmar que uma porção de água que não seja composta de moléculas formadas
por átomos de hidrogênio e de oxigênio não pode ser considerada uma porção de água.
Sem tais moléculas, o elemento água
simplesmente não existe.
Ao
ler a afirmação aqui analisada, notei, de súbito, que estava diante de uma
afirmação que apregoa e analisa o que não existe como se existisse. É o mesmo equívoco
que fundamenta a mentalidade daqueles que acham possível viver um cristianismo
sem Cristo. Toda crítica a um cristianismo sem Cristo não tem sentido por pretender
criticar o que não existe. O que temos visto em atividade em muitas denominações
é uma caricatura, simulacro, qualquer outra coisa, menos cristianismo.
Vemos
aqui um caso semelhante ao que Jesus certa vez enfrentou (Evangelho segundo
Marcos 7:1-7). Os fariseus tratavam a ética criada pelo movimento rabínico que
interpretava a Lei mosaica ao seu modo como se fossem a Lei de Deus. Seguiam
algo que não era como se fosse. A Lei de Deus, manipulada e deturpada por
homens, deixa de ser de Deus. Foi o que Jesus disse (Evangelho segundo Marcos
7:6-7).
Um
exemplo marcante é a expressão milagre. Alguns
aplicam a ela um significado reduzido. Pois consideram milagre apenas a ocorrência de sinais
e prodígios. Esquecem de que milagre, de acordo com o que as
Escrituras ensinam, é toda e qualquer – o pleonasmo é proposital – ação de Deus
sobre a criação.
Certa
vez ouvi uma pessoa dizendo que milagre é
Deus operando fora das leis naturais. Não, não é. Explico por quê. Todas as
leis foram estabelecidas por Deus. O homem e mesmo o diabo não têm poder de criar leis. O máximo que eles podem é
deturpar as Leis de Deus. Deturpar não é criar. Se todas as leis foram criadas
e estabelecidas por Deus, mesmo as que foram corrompidas como consequência do
pecado do homem (Cf. Gênesis 3:17), Lhe são naturais. Todavia,
embora um milagre seja considerado um
acontecimento sobrenatural, ele é completamente natural para Deus.
Assim,
toda ação de Deus é um milagre. Logo,
não existe ação de Deus que não seja milagrosa. A criação - incluindo eu e você
– é resultado da ação de Deus. Jesus ensinava e realizava sinais e prodígios.
Resumindo, fazia milagres. O ato de ensinar era tão milagroso quanto as outras
obras espetaculares que Ele realizou. Em Marcos 2, quando curou um paralítico,
Jesus realizou dois milagres: perdoou os pecados do homem e restaurou suas
pernas. Não é o perdão de Deus sobre nossos pecados um milagre? Tanto é que os
próprios fariseus consideravam tal fato como sendo de competência exclusiva de
Deus (Evangelho segundo Marcos 2:8-11).
Mas
alguns, por não entenderem este princípio elementar, cometem o erro primário de
classificar as ações de Deus como milagrosas e não milagrosas. O
fato de acordarmos todas as manhãs é tão milagroso quanto ver um morto
ressuscitado ou alguém curado, instantaneamente, de uma enfermidade grave. A
racionalidade que nos foi concedida para entendermos as Escrituras que
testificam de Jesus (Evangelho segundo João 5:39), para que possamos conhecê-Lo
e imitá-Lo, é tão milagroso quanto. Assim, há quem diga que a racionalidade
humana não é um milagre. Eis o mesmo princípio. O fato de um ser humano, criado
por Deus, pensar é um milagre. A questão é o que fazemos com ele.
A
Igreja moderna, como consequência de não se atentar a este caráter da expressão
milagre, valoriza apenas o “extraordinário”. Com isso, o ensino da
doutrina cristã, visando uma conduta ortodoxa, é deixada de lado. São cada
vez mais comuns cultos onde não há pregação da Palavra, mas apenas
orações pelos milagres sobrenaturais. Isto não é cristianismo.
Há
muito mais a ser dito. Mas paro por aqui, antes que eu seja acusado - ainda mais do que já sou – de “racionalista antimilagreiro”. Quem faz tal
acusação, contudo, ignora o fato de ser um milagre
o fato de eu ter escrito este texto. Na verdade, o simples fato de estar
vivo é um... milagre. Se você leu e
entendeu este texto, acredite, foi um milagre.
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