quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Síndrome de ‘caramujo’


 “Por isso, pela graça que me foi dada digo a vocês: Ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que deve ter; mas, ao contrário, tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida de fé que Deus lhe concedeu”. (Apóstolo Paulo - Romanos 12:3).

Matheus Viana

Quem me conhece sabe que sou portador de uma severa cifose torácica. Deformidade que acomete também minha coluna e que limita meu corpo em demasia.

Por conta disso, confesso: por muitas vezes me intimido. Ao longo dos treze anos em que esta anomalia me escraviza, enclausuro-me na falta de autoconfiança. Todavia, passei também a ser acometido, consequentemente, pela ‘síndrome do caramujo’.

Como editor da revista Profecia sou alvo de constantes ataques. Apesar de ser um deficiente físico, sei discernir, e bem, a abismal diferença entre livre expressão e afronta.

Ao recebê-los, a síndrome se manifesta. Penso duas vezes em respondê-los. O que me faz pensar? O fato de ser um deficiente físico. Mas... Espere! Sou deficiente físico e não mental. Posso muito bem exercitar meu intelecto de modo a desvanecer as trevas que enegrecem a consciência e a lógica de alguns remetentes. Conforme a Bíblia afirma, a Palavra de Deus é a luz para os nossos caminhos (Salmos 119:105).

Assim que os respondo, tomado por este ímpeto repentino, a síndrome vem à tona provocando um abrupto arrefecimento. O que eles vão pensar de mim? Que sou uma pessoa soberba? Antipática? Inflexível? Enfim, muitas coisas surgem em minha mente aflita. Além de tudo isso, sou constantemente lembrado de que não passo de um deficiente físico. As dores insuportáveis que castigam o meu corpo frágil não me deixam esquecer este fato.

Contudo, Deus me confiou algo mesmo sendo eu imperfeito em todos os sentidos. Preciso cumprir o meu chamado independente do que as pessoas pensem de mim. Ser humilde, algo que as Sagradas Escrituras salientam (Evangelho segundo Mateus 11:29, Tiago 4:7), não significa anular os conhecimentos e as experiências adquiridas ao longo da vida.

Não foi em vão que Deus permitiu que eu, com tenros seis anos, gostasse de copiar trechos da Bíblia em um caderno brochura cedido pela minha avó para conter o meu excesso de energia infantil. Não foi em vão que dos sete aos dez anos eu era fascinado em escrever histórias. Não foi em vão que comecei a estudar a Bíblia com 12 anos. Não foi em vão que a partir dos 17 anos decidi me dedicar à arte da escrita, algo em que insisto até hoje, estando eu próximo das 30 primaveras...

Não foi em vão que permaneci, por alguns anos, sentado naquele insólito e opressor corredor 09 da ortopedia do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto por quase nove horas seguidas. E, enquanto aguardava atendimento, minha alma era alimentada por trechos das Sagradas Escrituras. Não foi em vão a severa limitação ao qual sou acometido. Não! Quando a síndrome se manifesta, ela é acompanhada de dores imensuráveis que castigam minhas costas me lembrando quem sou. Não apenas de ser um deficiente físico, mas de ser a pessoa que Deus me transformou em todos estes anos e através de todas estas adversidades.

Não posso viver sob o jugo desta síndrome. Não posso viver sob o cárcere das avaliações e opiniões alheias. Não importa o que pensem de mim. O que importa, de fato, é o que Deus deseja que eu seja. Ele não permitiu todas estas experiências sem propósito (Romanos 8:28).

Por isso eu quero cumpri-lo de maneira plena e ser liberto do ‘caramujo’ que me enreda. Ou seja, observar o ensinamento do apóstolo Paulo: “Por isso, pela graça que me foi dada digo a vocês: Ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que deve ter; mas, ao contrário, tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida de fé que Deus lhe concedeu”. (Romanos 12:3).

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Mais que leitura gostosa. Um texto relativamente longo para mim que não tenho o costume de ler. Parabéns. Peço que continue na prática dessa iluminada arte de se expressar por palavras escritas. Fique com Deus, irmão.

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