quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Sentidos consagrados


Purificar nossos lábios como Isaías e nossos olhos e mentes como Paulo. Olhar somente o que Deus quer que olhemos (Evangelho segundo Mateus 6:22). Pensar segundo o que Ele deseja que pensemos (I Coríntios 2:16). Falar somente o que Ele nos manda falar, sem pôr nem tirar.

Matheus Viana

Ao mesmo tempo em que os lábios do profeta Isaías eram impuros, sua boca era o instrumento para a manifestação da Palavra divina. Por isso é muito mais do que simbólica a purificação que experimentou (Isaías 6:6-7).

Apesar de usar, por vezes, a boca, o principal instrumento usado pelo apóstolo Paulo para a manifestação da vontade de Deus – ainda que o combustível fosse o Espírito Santo – era sua mente privilegiada. Ainda que seu corpo estivesse surrado por açoites e encarcerado, ela foi propícia para que o Evangelho alcançasse os cristãos através de suas epístolas. Até hoje desfrutamos de tamanho benefício.

Não é a toa que Paulo nos adverte sobre a transformação pela renovação da mente (Romanos 12:2). Antes, portanto, precisou ser acometido por uma cegueira plena. Ela foi determinante para que seu intelecto fosse, mais do que renovado, transformado. Uma coisa não aconteceria sem a outra. É por isso que Jesus preconiza: “A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz. Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!”. (Evangelho segundo Mateus 6:22-23).

Conforme relatei no texto Cegueira necessária: “Eis a má notícia: nossos olhos são maus. O apóstolo Paulo elucida que o pecado atingiu toda a humanidade por intermédio de uma pessoa (Romanos 5:12). Como? Isso mesmo: pelos olhos. 'Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu, e deu ao marido e ele comeu'. (Gênesis 3:6). O apóstolo Tiago, em sua carta à igreja de Jerusalém, descreve o ciclo do pecado: '... cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e o seduz. Então a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado”. (Tiago 1:15).'”. A cegueira que acometeu Paulo é a demonstração da necessidade de que a cobiça e toda sorte de sordidez e limitações instaladas em nossa visão devem ser extintas.

O cérebro comanda as ações do corpo. O neurocirurgião brasileiro, Miguel Nicolelis, realizou recentemente um estudo onde um sagui foi capaz de mover um braço mecânico sem que ele estivesse ligado ao seu corpo, através apenas das ondas cerebrais. Procedimento que integra o projeto de Nicolelis de construir uma roupagem que permite vítimas do Mal de Parkinson se movimentarem através de ondas cerebrais. Fantástico! Como diz o escritor norueguês Jostein Gardner: “Se nosso cérebro fosse tão simples a ponto de entendê-lo, seríamos tão tolos que continuaríamos sem entendê-lo”. Não deixe de ler o texto Perscrutando o imperscrutável.

Salomão foi o homem que nos deixou como herança muitos provérbios. Entretanto, sua admirável sabedoria foi fruto de uma experiência. Antes de assumir o trono, reconheceu sua total incapacidade, insuficiência intelectual e a miséria espiritual em que se encontrava - pois fora gerado por Bate-Seba, a mulher com que o rei Davi, seu pai, cometera adultério – e pediu sabedoria. Recebeu de pronto. Seu intelecto, naquele instante, foi consagrado.

Todavia, a partir do momento em que seus olhos começam a ser consumidos pela cobiça, seu coração passa a ser escravizado pela vaidade. Como consequência, seu intelecto foi contaminado. Por isso, começa a usar sua esplêndida sabedoria de forma equivocada. Passou a exercer o sórdido ofício de satisfazer somente o seu prazer.

Somos acometidos por este vírus. O hedonismo e o consequente pecado têm nos atingido em cheio. Fazemos a obra de Deus no intento de que nosso vil anseio de aceitação e louvor diante dos homens seja saciado. Submetemos nossos olhos, coração e mente a serviço dos desejos. Epidemia que compromete o desenvolvimento da Igreja Gloriosa (Efésios 5:27) que atenderá a ardente expectativa da humanidade (Romanos 8:19).

Precisamos consagrar nossos sentidos. Purificar nossos lábios como Isaías e nossos olhos e mentes como Paulo. Olhar somente o que Deus quer que olhemos (Evangelho segundo Mateus 6:22). Pensar segundo o que Ele deseja que pensemos (I Coríntios 2:16). Falar somente o que Ele nos manda falar, sem pôr nem tirar.

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