Matheus Viana
“Com o que compararemos o Reino de Deus?” (Evangelho segundo Marcos 4:30). A resposta a esta
indagação é crucial para entendermos todo o ensino de Jesus Cristo. Ele o iniciou
falando exatamente sobre o Reino de Deus
(Evangelho segundo Marcos 1:15). Não foi em vão que, ao ensinar Seus discípulos
a orar ao Pai, declarou: “Venha a nós o
Seu Reino, seja feita a Sua vontade, assim na terra como nos céus” (Evangelho
segundo Mateus 6:10). Também pudera! Antes de Sua concepção em forma humana, o
anjo disse à Maria: “Você ficará grávida
e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Jesus (...) e ele reinará para
sempre sobre o povo de Jacó; seu Reino jamais terá fim”. (Evangelho segundo
Lucas 1:33).
Seu
antecessor, João, o Batista, viveu pautado na mesma temática (Evangelho segundo
Mateus 3:2). Os profetas que profetizaram a vinda de Jesus, como Isaías, por
exemplo, declararam que Ele viria como o Rei que estabeleceria o Reino de Deus:
“Então, em amor será firmado um trono; em
fidelidade um homem se assentará nele na tenda de Davi: um juiz que busca a
justiça e se apressa em defender o que é justo” (Isaías 16:5).
O
fato de O Reino de Deus ser a
essência da vida de Jesus levou Seus discípulos, após Sua ressurreição, Lhe
perguntarem: “Senhor, é neste tempo que
vais restaurar o reino em Israel?” (Atos 1:6). Ao estabelecer sobre eles a
chamada grande comissão, lhes
afirmou: “Foi-me dada toda a autoridade
nos céus e na terra” (Evangelho segundo Mateus 28:18). Antes disso,
portanto, lhes advertiu: “E este evangelho do Reino será pregado em todo
o mundo...” (Evangelho segundo Mateus 24:14 – Ênfase acrescentada). É
impossível dissociar Reino de Deus do
Evangelho de Jesus Cristo, bem como de Sua pessoa.
A
primeira vez que apareceu o termo evangelho
nas Escrituras foi na carta do apóstolo Paulo aos romanos. Este era um
termo de caráter governamental utilizado pelo império romano. Conforme ensina o
professor Franklin Ferreira, quando uma nação era conquistada por Roma, era-lhe enviada uma comitiva de emissários para levar o evangelion. Isto era a mensagem de que aquela
nação tornara-se propriedade do império e que o César estava a caminho de sua parousia: a ida do imperador para
estabelecer nela seu governo.
Este
termo, em seu sentido literal, significa estar
presente. A doutrina apostólica cristã o utilizava para se referir à vinda
definitiva de Jesus Cristo à terra para julgá-la e reinar plenamente sobre ela.
Sendo assim, o evangelho é o Reino de
Deus estabelecido sobre o ser humano, e consequentemente sobre toda a terra,
para que o Rei, Jesus Cristo, venha (parousia)
e reine de maneira soberana.
Ao
utilizar o termo evangelho, Paulo quis
afirmar que o verdadeiro governante não era César, mas Jesus Cristo.
Por isso ele (Paulo) era um enviado do próprio Jesus Cristo para pregar o
verdadeiro evangelho: O Reino de Jesus Cristo. E foi exatamente este evangelho do Reino sobre o qual Jesus
elucidou, conforme registrou o evangelista Mateus, no versículo citado nas
linhas acima. Isto, portanto, não foi mero elemento do advento messiânico de Sua
encarnação, mas algo manifestado pelo Deus Trino desde a criação.
O
governo que o ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, exerceria sobre
a terra (Gênesis 1:28) seria o reflexo do governo que Deus exerce nos céus e
sobre o ser humano. Por isso, ribomba sobre nós a indagação feita por Jesus. Mas
antes de tentar responde-la, precisamos responder outra que lhe está
diretamente relacionada: O que é o Reino
de Deus?
Jesus
não respondeu esta questão de forma direta. Quanto mais estudamos as
Escrituras, fica mais claro que a resposta começa com o que não é o Reino de Deus. Jesus disse que ele não é físico nem visível: “O Reino de Deus não vem de modo visível,
nem se dirá: ‘Aqui está ele’, ou ‘Lá está’; porque o Reino de Deus está entre
vocês”. (Evangelho segundo Lucas 17:20-21). Ele também disse que o governo
que lhe é característico não é a tirania dos homens, mas consiste em servir
(Evangelho segundo Mateus 20:25-28). O apóstolo Paulo afirmou que ele não é
comida nem bebida, mas paz, justiça e alegria no Espírito Santo (Romanos
14:17).
Várias
definições de Reino de Deus podem
ser, como foram ao longo da história, construídas a partir das expectativas e
anseios das pessoas. Os judeus, após milênios sofrendo sob diferentes
cativeiros, aguardavam o Messias que estabeleceria um reino político e militar que
restauraria o trono de Davi e os libertaria do jugo do império romano. Quando
Jesus pergunta aos Seus ouvintes sobre com o que o Reino de Deus poderia ser comparado, um dos intentos era demonstrar
que ele era na contramão do clamor popular. Esta pergunta é pertinente a nós. A
definição de Reino de Deus é
concernente às nossas expectativas e anseios?
Em
meio a todas as características que mostram o que o Reino de Deus não é, há uma
que ajuda a definir o que ele é: “... o
Reino de Deus está entre vocês” (Evangelho segundo Lucas 17:21). Ele é uma pessoa: Jesus Cristo. Após indagar
sobre com o que o Reino de Deus poderia ser comparado, Jesus questiona sobre
como ele poderia ser descrito. Passa então, ao mesmo tempo, a compará-lo e a
descrevê-lo como um grão de mostarda (Evangelho
segundo Lucas 4:31). Por que grão de
mostarda? Por que Jesus usou como metáfora algo pequeno para elucidar sobre
algo magnífico? Um dos motivos é porque o grão de mostarda é a menor semente
que se planta na terra.
Plantar na terra. Longe de ser mera
característica, é fator essencial. Ele simboliza a encarnação de Deus em forma
humana (Evangelho segundo João 1:14). A semente de Deus plantada/cultivada no
ventre humano a fim de que o Deus Filho participasse da natureza humana para
redimi-la. O ser humano, feito do pó-da-terra, foi receptáculo da vida (fôlego)
de Deus (Gênesis 2:7) e, consequentemente, de Sua ética (Gênesis 1:28). Por
isso, a maneira que Deus instituiu ao homem para cultuá-Lo foi cultivar a
terra/solo do jardim onde habitava (Gênesis 2:15). O Reino de Deus começa com o plantio/cultivo na terra. Começa com culto racional.
Continua...
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