segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A composição da moral

A razão humana passou a considerar a possibilidade de se fazer o bem à revelia da bondade divina. Ledo engano! A palavra “bom” que aparece em Gênesis no original hebraico é ‘tov’, a bondade suprema originada em Deus. Portanto, o “bem” humano nunca será, de fato, bom. Mas com a queda, ele surgiu.

Matheus Viana

Talvez o trecho do texto O contraponto da moral: As duas árvores existentes no Éden simbolizam as duas morais existentes: a divina – representada pela Árvore da Vida – e a humana – representada pela árvore do conhecimento do bem e do mal (Gênesis 2:9). E a imoralidade, ou a má moral? Essa é produto da corrupção da moral humana. tenha lhe gerado dúvida. Ela foi proposital. Instigar o pensamento é algo que Deus faz ao homem (Isaías 1:18).

A representação de algo é diferente do algo representado. A imagem de um vaso em um quadro, por exemplo, não é o vaso que ele representa. Vaso e sua imagem (representação) são coisas distintas. O mesmo princípio se aplica à representação da moral. Moral é composta de vontade e razão. O filósofo Arthur Schopenhauer, em seu livro Vontade e Representação, fala da coesão destes dois aspectos sobre o ser humano e sua interação com o mundo. Falaremos sobre isso em breve.

Quando afirmo que a árvore do conhecimento do bem e do mal era a representação da moral humana, falo da liberdade que Deus concedeu ao homem em relação à sua vontade e razão. Deus concedeu vontade (capacidade de desejar e direito de escolher) e razão (capacidade de pensar) ao ser humano. Ou seja, deu-lhe uma moral. Com isso, queria que a vontade e a razão do homem o conduzissem a realizar seus feitos segundo a moral divina, que a vontade do ser humano fosse a de fazer a vontade de Deus como consequência de pensar como Ele. Algo completamente diferente de manipulação, onde não existe vontade tampouco ato de pensar. Nietzsche denomina “vontade não livre” como mitologia.

Portanto, vimos que a moral humana, alinhada à divina, produz vida. Isso é diferente do fato de o ser humano ser amoral ou ser tolhido de seu direito de exercê-la. Mas a moral humana sem o fundamento da divina gera degradação e morte. Era exatamente isso que a árvore do conhecimento do bem e do mal representava.

Algo importante a ser salientado é a consciência do bem e do mal. O argumento da serpente foi direto: “Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês, como Deus, serão conhecedores do bem e do mal” (Gênesis 3:5). Esta é a consciência existencialista que tem influenciado a sociedade pós-moderna. Assim como Adão e Eva, muitos têm colhido tal engodo e comido do fruto da moral humana independente, também chamada de “livre”.

Como vimos, a moral que Deus concedeu ao ser humano era reflexo e desdobramento da divina. Contudo, nela não havia a consciência do bem e do mal. Por quê? Veremos que este “bem” é tão nocivo quanto o “mal”. A moral humana foi corrompida em virtude da obtenção deste conhecimento. A razão humana passou a considerar a possibilidade de se fazer o bem à revelia da bondade divina. Ledo engano! A palavra “bom” que aparece em Gênesis 1:31 no original hebraico é ‘tov’, que se refere à bondade suprema originada em Deus. Portanto, o “bem” humano - que aparece em Gênesis 2:17 e 3:5, cujo original hebraico é 'tav' - nunca será, de fato, bom (tov). Mas com a queda, ele surgiu.

É sobre este “bem” que o apóstolo Paulo elucida: “Mas o pecado, aproveitando a oportunidade dada pelo mandamento, produziu em mim todo tipo de desejo cobiçoso. Pois, sem a Lei, o pecado está morto”. (Romanos 7:8). Eva, ao ser informada de que ao comer do fruto ilícito seria conhecedora do bem e do mal, o cobiçou. Para ela, tal ciência era algo bom. Porém, um “bom” completamente destoante do bem divino. E por isso atraiu o mal.

Paulo preconiza este “bem” (tav) como a Lei e o mal como a cobiça e o consequente pecado. Por isso, podemos concluir que a consciência do “bem” opera sobre a possibilidade de sermos justificados pelas nossas “boas ações”. Paulo enfatiza este conceito quando diz: “Portanto, ninguém será declarado justo diante de Deus baseando-se na obediência à Lei, pois é mediante a Lei que nos tornamos plenamente conscientes do pecado”. (Romanos 3:20). Ou seja, é este “bem”, desprovido da ‘tov’ (bondade de Deus), que nos dá o pleno conhecimento do mal e nos leva a cobiçá-lo. C.S Lewis, em seu livro Cristianismo puro e simples, fala sobre a Lei moral que rege a consciência do ser humano sobre o certo e errado e o bem e mal.

Contudo, esta consciência ressalta a nossa incapacidade de sermos bons conforme a moral divina. O apóstolo Paulo reitera: “Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, este eu continuo fazendo” (Romanos 7:19). Sendo assim, o “bem” que fazemos, pavimentado unicamente pela moral humana, é semelhante ao mal diante da moral divina. Não é a toa que o profeta Isaías afirma que a justiça humana, perante a divina, é imunda como trapo de imundícia (Isaías 64:6).

Jesus disse que é do interior do homem que surge todo tipo de mal (Evangelho segundo Marcos 7:21-23). Agostinho, em seu livro Livre-arbítrio, afirma que o mal surgiu devido à escolha equivocada do ser humano, decorrente do livre-arbítrio que lhe foi outorgado por Deus. Exatamente! O ato indevido trouxe à tona a consciência mortal. E é ela que pavimenta a moral humana. O resultado não pode ser diferente, e ele foi descrito pelo sábio Salomão: “Há caminhos que ao homem parecem direitos, mas no fim são caminhos de morte” (Provérbios 16:25).

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O contraponto da moral

No momento em que a moral humana se desvencilhou da divina, a tragédia foi inevitável. A imoralidade veio à tona, mesmo antes do ato da desobediência. Ela nada mais é do que a ação da moral humana completamente independente, à revelia, da moral divina.

Matheus Viana

Um dos grandes dilemas da humanidade é a definição de “moral”. É consenso que seu exercício é preponderante para a vida em sociedade. Mesmo assim, seu conceito é alvo de severa relativização. Apesar das várias tentativas de conceituá-la, não lograremos êxito se não evocarmos a origem de todas as coisas: Deus, a quem Aristóteles denomina como “ato puro”. Caso seja você ateu, me desculpe. Terás que encontrar o que é, em sua opinião, a origem de todas as coisas.

Talvez seja hábil em diagnosticar moral na energia e na matéria que, segundo os evolucionistas – contrariando a Lei da Termodinâmica –, existiam no espaço-tempo - cujas origens são desconhecidas -, antes do evento chamado “Big Bang”. Talvez na “Bóson de Higgs”, também chamada de “partícula de Deus”, ou no próprio evento do "Big Bang". Boa sorte!

Eu prefiro a via da razão e da coerência desprovidas da ideologia – ou seria crença? – naturalista. Por isso, recorro àquele que existe antes de todas as coisas, como afirma Paulo de Tarso: “Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele. (Colossenses 1:16-17).

Este ser descrito por Paulo não é apenas um ente da física, mas o supremo personagem do cosmo. Nele é impossível não detectarmos a moral. Conforme preconiza a Lei da Termodinâmica, os processos naturais não são gerados de forma espontânea, mas estão sujeitos às leis naturais. Ou seja, estas leis regem, com exímia maestria, a orquestra chamada Universo. Portanto, por serem “leis”, foram criadas e estabelecidas por alguém a quem a ciência chama de Designer Inteligente. Estas leis são demonstrações da moral que há em Deus. Tal moral é explícita no relato da Criação: “Disse Deus: “Haja luz!”, e houve luz”. (Gênesis 1:3). A natureza obedece o comando de Seu Senhor. Obediência é um elemento da moral. Desta forma, Deus criou todas as coisas naturais e viu que tudo era bom (Gênesis 1:31).

A formação do ser humano é repleta de moral. A essência do Criador lhe foi imputada. E ela determinava sua maneira de pensar e agir (Gênesis 2:7). O Espírito de Deus (Sua essência) foi o estabelecimento de Sua moral sobre o ser humano. Mas esta moral é completamente diferente da conotação pejorativa que ela carrega ao longo da história.  A moral de Deus gera liberdade. Ela está explícita na seguinte ordem: “... comerás de todas as árvores do jardim...” (Gênesis 2:16). Somente de uma árvore o ser humano não deveria se alimentar para sua eterna preservação (Gênesis 2:17). As duas árvores existentes no Éden simbolizam as duas morais existentes: a divina – representada pela Árvore da Vida – e a humana – representada pela árvore do conhecimento do bem e do mal (Gênesis 2:9). E a imoralidade, ou a má moral? Essa é produto da corrupção da moral humana.

Antes da queda, as morais divina e humana andavam em plena harmonia, pois a humana era determinada – e não forçadamente subjugada, em virtude da existência do livre-arbítrio – à divina. Mas, no momento em que a moral humana se desvencilhou da divina, a tragédia foi inevitável. A imoralidade veio à tona mesmo antes do ato da desobediência. O abandono da moral divina gerou a imoralidade, que nada mais é do que a ação da moral humana completamente independente, à revelia, da moral divina.

Eva, por ser convencida do engano do tentador, travestido de serpente, passou a ver a moral divina como instrumento de repressão e de impedimento a uma suposta liberdade. “Liberdade” pavimentada pela moral humana que culminou no maior de todos os cárceres aplicados à vida: a morte (Romanos 5:12). O ser humano deixou de ser quem era por perder sua substância: à imagem e semelhança do Criador. Foi expulso de seu habitat: o Éden. Perdeu a eternidade, pois passou a ser subjugado pela ‘tânatos’.

Por isso, a partir de então, passou a conviver com a brevidade de seus dias de existência sobre a terra. Mediante tudo isso, reflitamos: a moral humana compensa? Ela realmente traz liberdade? A história da humanidade é a prova cabal do sonoro ‘não’ para ambas as questões. Lembrando que o uso da “moral divina” a serviço das aberrações humanas, como a busca frenética por prestígio e poder, a exemplo do que ocorreu em vários episódios, como as Cruzadas e que ainda é presente em nossos dias; não tem o mínimo teor da moral divina. Nada mais é do que o pus gerado pela ambição humana através  da religião...

Mas acredite, há quem pense o contrário. E não são poucos. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), em seu livro A genealogia da moral, diz: “A redenção do gênero humano (...) está bem encaminhada; tudo se judaíza, cristianiza... A marcha desse envenenamento através do corpo inteiro da humanidade parece irresistível...”. Como um autêntico existencialista, Nietzsche critica e ataca tudo o que, em seu entendimento, impede o ser humano de agir segundo a plenitude de seus instintos. Dissertando sobre o conceito de “bom”, faz a seguinte provocação: “E se no “bom” houvesse um sintoma regressivo, como um perigo; uma sedução, um veneno, um narcótico, mediante o qual o presente vivesse como que às expensas do futuro?”. Para um existencialista, o sentido de sua existência resume-se ao presente. Pois não pode estar preso ao passado nem alienado, de forma letárgica, a um futuro desconhecido, onde não é capaz de prever sua existência.

Por isso, para ele, a moral é um empecilho à vida. E deve ser abatida a qualquer preço (a dissertação sobre “moral” de Nietzsche é bem mais ampla e profunda, mas captaremos aqui uma breve síntese por ser pertinente ao tema abordado). E, pelo fato de ser Deus o autor da moral, o ataca de forma impiedosa. Eis o principal sintoma da insanidade humana.

Além de atacar Deus, Nietzsche coloca em xeque os valores e atribuições de Sua moral. Para ele, a humildade evocada na moral cristã e o amor ao próximo não passam de desdobramentos de covardia oriunda de um medo incontido. Segundo esta perspectiva, moral é o nome que se dá para, além de impedir o ser humano de desfrutar da plenitude de sua existência, a incapacidade de responder aos ressentimentos - que, para ele, geram o ódio e desejo pelo poder – que a vida causa no ser humano.

Esta foi a cosmovisão que o tentador quis impor a Jesus no deserto ao lhe fazer a proposta: “(...) lança-te de aqui abaixo; porque está escrito: Que aos seus anjos dará ordens a teu respeito, E tomar-te-ão nas mãos, Para que nunca tropeces em alguma pedra.” (Evangelho segundo Mateus 4:6). Em outras palavras: “Desfrute de sua existência. Extravaze!”. Jesus, ao contrário de Eva e de grande parte da humanidade, não “mordeu a isca”. Pois era pautado pela moral divina. Por isso, o tentador perdeu e a humanidade ganhou. Jesus venceu a tentação e abriu o caminho para Seu triunfo na cruz, três anos mais tarde.

Nietzsche, ao longo do livro, comete outro equívoco. Afirma que a “moral dos escravos nasce da ‘Não’ ação.". Ou seja, o indivíduo ressentido não realiza nenhum ato de vingança ao seu oponente ou à situação que o aflige. Vejamos:

Jesus, na tentação do deserto, não realizou nenhuma atitude que lhe foi proposta. Contudo, no Getsêmani, horas antes da crucificação, Jesus refletiu sobre o cumprimento de Sua missão: “(...) Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres.” (Evangelho segundo Mateus 26:39). Ou seja, a moral divina o impeliu a obedecer a vontade do Pai e realizar o plano da redenção para a humanidade. E mais. Tal atitude, ainda que contrária ao “ressentimento” de Jesus/homem, fez com que Ele vivesse de acordo com o que era de fato: o cordeiro morto antes da fundação do mundo (Apocalipse 13:8).


Portanto, a moral divina não existe para anular a vivência de nossa existência. Pelo contrário! Existe para restaurar nossa verdadeira identidade: formados à imagem e semelhança de Cristo Jesus, a imagem do Deus invisível (Colossenses 1:15), o varão perfeito (Efésios 4:13).

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Síndrome de Lázaro – Parte II


Antes de Jesus realizar o milagre de ressuscitar Lázaro, era necessário ressuscitar a razão dos presentes, de modo que não pensassem de acordo com a razão humana, mas segundo a razão divina (logos) que governa a humana.

Matheus Viana

Era o quarto dia desde a morte de Lázaro. O “defunto” fora velado e colocado em seu devido lugar. Diferente de nossa cultura ocidental, os mortos eram colocados em grutas. A gruta onde o cadáver de Lázaro se encontrava já estava lacrada por uma pedra. Quando Jesus chegou, não havia mais o que fazer.

Esta foi a interpretação que os presentes fizeram da situação. Principalmente Maria e Marta, irmãs de Lázaro. A triste saudação de Marta a Jesus explicita tal fato: “Senhor, se estivesses aqui meu irmão não teria morrido.” (Evangelho segundo João 11:21). Semelhantemente, esta é a interpretação que fazemos quando Deus não nos socorre no tempo que julgamos ser necessário. Consequentemente, nossa fé se transforma em sombrios lamentos.

Apesar de não responder da maneira que esperamos – refiro-me à prática -, a Palavra de Deus está sempre ao nosso dispor. Não é a toa que Jesus disse que as Escrituras testificam dEle (Evangelho segundo João 5:39). Ao contrário do que muitos dizem, Deus não se silencia a nosso respeito. Através das Escrituras, Sua voz reverbera em nossas mentes e corações (Evangelho segundo Mateus 28:20).

Foi o que aconteceu neste episódio. Jesus respondeu ao lamento de Marta: “O seu irmão vai ressuscitar.” (Evangelho segundo João 11:23). Uma promessa vigente e pertinente àquele contexto. Não apenas isso. É necessário levarmos em consideração quem a estava fazendo: o próprio Jesus! Enquanto que para Marta e os demais presentes era o fim, para Jesus era apenas o começo. Contudo, quando nosso coração é atingido pela desolação do lamento, até as promessas de Deus perdem o sentido.

Diante da Palavra (logos) encarnada, Marta tentou encontrar, com sua razão deturpada, um sentido diferente do que Jesus estava lhe concedendo: “Eu sei que ele vai ressuscitar na ressurreição do último dia”. (Vs. 24). Antes de Jesus realizar o milagre de ressuscitar Lázaro, era necessário ressuscitar a razão de Marta, de modo que ela não pensasse de acordo com a razão humana, mas segundo a razão divina (logos) que governa a humana (Vs 25 e 26).

Fé é ser governado pela logos de Deus. É por isso que o apóstolo Paulo preconiza: “Transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, perfeita e agradável vontade de Deus”. (Romanos 12:2). Não há milagre sem fé. Não há fé sem Logos. Não há Logos sem termos o nosso entendimento tomado por ela. Por esta razão, Paulo ensina: “A fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra (logos) de Deus”. (Romanos 10:17).

A saudação de Maria a Jesus foi idêntica a de Marta. Porém, sua postura foi diferente. Jesus foi tomado de íntima compaixão e Seu espírito foi agitado. O que teria gerado em Jesus tal sentimento? Não foi apenas o choro de Maria, mas também dos judeus ali presentes. O fato de Jesus ter chorado é um dos mais impactantes de todas as Escrituras. Ele participou do sofrimento humano e do divino ao mesmo tempo. Sentiu, como Deus, a dor da morte do ser humano que não foi criado para morrer. Mas também sentiu, como homem, a perda de um amigo.

Jesus chora por sentir as nossas dores e padecer conosco. Nenhum de nossos sofrimentos pode ser comparado com os que Ele sofreu por amor a nós. É esta compaixão que o impele a realizar o milagre em nosso favor. Diante das lamúrias dos presentes, ordenou: “Tirem a pedra!”. A objeção foi instantânea: “Senhor, já cheira mal, pois já faz quatro dias”.

A razão de Marta ainda não estava rendida à Logos. Por isso raciocinava de tal forma. Marta teria que tirar a pedra que estava em seu intelecto de modo a pensar como Jesus e crer em Seu poder. O que é sobrenatural para nós, é natural para Jesus. Ao ressuscitar Lázaro, Jesus não estava diante de um desafio, mas sim de uma dedução lógica. Aristóteles a chamava de silogismo, por ser a ligação de duas verdades para concluir outra verdade. Veja um exemplo de silogismo – ou dedução lógica – abaixo:

Todo homem é mortal.
Raimundo é homem.
Logo, Raimundo é mortal.

No caso de Jesus diante do episódio de Lázaro, temos o seguinte silogismo:

Deus é a origem e fonte da vida.
Jesus é Deus.
Logo, Jesus é a origem e fonte da vida.


Esta era a dedução lógica a qual Jesus estava pavimentado. O milagre da ressurreição seria mera consequência. Tanto que não orou pedindo para que Lázaro ressuscitasse. Apenas agradeceu ao Pai por ouvi-lo, o que denotava a íntima comunhão que exercia com o Todo-Poderoso. (Vs 41). A ordem foi simples e direta: “Lázaro, venha para fora!” (Vs. 44). O resultado não poderia ser diferente: depois de estar morto há quatro dias, ressuscitou. A Palavra de Deus, que é Espírito e vida (Evangelho segundo João 6:63), uma vez lançada e condicionada com a Sua razão (logos), surtirá o devido efeito, ainda que não seja no tempo que queremos, a fim de cumprir o propósito que Ele deseja.

Experimentamos o poder da ressurreição de Cristo quando deixamos Sua Palavra permear a nossa mente e o nosso coração de modo a crermos que Ele é o nosso Senhor e Salvador. Pois estávamos mortos em nossos delitos e pecados (Efésios 2:1). Contudo, ainda nos encontramos como Lázaro, com mãos e pés envoltos em faixas...

Jesus emitiu, após ressuscitá-lo, a seguinte ordem: “Tirem as faixas dele e deixem-no ir!”. Elas impediam seu caminhar pleno. Não é diferente conosco. É por isso que o escritor da carta aos Hebreus preconiza: “Portanto, nós também que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço e o pecado que tão de perto nos assedia, e corramos com perseverança a carreira que nos está proposta.” (Hebreus 12:1).


Qual é a “faixa” que lhe impede de caminhar e desfrutar da plenitude da ressurreição que Jesus conquistou? Mãos falam de atitudes, e pés de condutas. Lembremos que a maneira de pensar determina o nosso comportamento, ou seja, ações e condutas. Quando pensamos como Jesus, segundo a Sua razão (logos), o milagre acontece e isso determina nosso procedimento em todas as áreas de nossas vidas. O milagre da ressurreição é consequência, assim como o desatar das faixas de modo que o desfrutemos em sua totalidade. Deus não deseja que vivamos menos que isso.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Síndrome de Lázaro


Parte I - Por vezes, somos acometidos pela síndrome de Lázaro. Vemo-nos enredados por enfermidades ou situações de desalentos, e Deus as usa para glorificar Seu nome. Sarcasmo? De modo algum! É mera soberania. Privilegiados são aqueles que sofrem pelo Seu nome (Evangelho segundo Mateus 5:10) em qualquer esfera.

Matheus Viana

Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus (Romanos 8:28). Verdade explícita no episódio narrado no capítulo 11 do Evangelho segundo João: o adoecimento, morte e ressurreição de Lázaro.

O versículo 4 diz: “E Jesus, ouvindo isto, disse: Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela”. Relato intrigante! Um homem, amado por Jesus, adoeceu para que a glória de Deus fosse manifesta? Isso mesmo! Ao contrário do que afirmam os triunfalistas, cristãos, conforme o próprio Jesus preconizou, passam por situações difíceis (Evangelho segundo João 16:33). A vida abundante que Ele nos concede (Evangelho segundo João 10:10) não nos isenta de lutas nem tampouco de enfermidades. Mas nos garante, em toda e qualquer situação, a vitória (Romanos 8:37) segundo o conceito divino. Pois o que é vitória para Deus nem sempre é para nós. A recíproca também é verdadeira.

Por vezes, somos acometidos pela síndrome de Lázaro. Vemo-nos enredados por enfermidades ou situações de desalentos, e Deus as usa para glorificar Seu nome. Sarcasmo? De modo algum! É mera soberania. Privilegiados são aqueles que sofrem pelo Seu nome (Evangelho segundo Mateus 5:10) em qualquer esfera. Eu que o diga! Há 14 anos sofro de uma severa deformidade óssea que compromete órgãos vitais como pulmão e coração. Glória a Deus por isso.

É interessante a atitude de Jesus ao ouvir sobre o fato. Permaneceu onde estava por mais dois dias. Desconsideração? Claro que não! Mesmo à distância, Ele tinha controle da situação, pois, apesar de ser homem, era Deus. Jesus não apenas deixou de ir ao encontro das irmãs de Lázaro no tempo solicitado, mas pegou um caminho contrário. Ao invés de ir para Betânia, onde era aguardado, foi para a Judeia, lugar onde os judeus tentaram apedrejá-lo (Evangelho segundo João 11:8).

Questionado pelos Seus discípulos sobre esta decisão inusitada, respondeu: “... Não há doze horas no dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo.” (Evangelho segundo João 11:9). Andar de dia. Uma metáfora espiritual que determina nossa atitude natural. Jesus é a estrela da manhã (Apocalipse 22:16). O resplandecente sol de onde emana a luz que ilumina os nossos caminhos (Salmos 119:105). Caminhar de dia implica em andar sob a égide de Sua Palavra. De Sua logos (razão) que é Espírito e vida (Evangelho segundo João 6:63) de modo que os Seus caminhos sejam os nossos (Isaías 55:8-9).

Contudo, Lázaro morre (Evangelho segundo João 11:11). Como? Jesus afirmou que a enfermidade que o acometia não era para morte. Jesus mentiu? Não! Dolo algum foi encontrado em Sua boca (Hebreus 4:15, I Pedro 2:22). O conceito de morte para Jesus é diferente do que é para nós. Por isso disse em relação à filha de Jairo: “Retirai-vos, que a menina não está morta, mas dorme. E riam-se dele.” (Evangelho segundo Mateus 9:24).

Para que a vida de Deus se manifeste a nós – e através de nós -, precisamos morrer. Seu fôlego de vida, o Espírito Santo (Pneumatos), só pode agir onde não há vida. Foi assim com o ser humano no princípio (Gênesis 2:7). Foi assim com Jesus (Romanos 8:11). Não é diferente conosco. Quando Jesus aparece aos discípulos após ressuscitar, e sopra sobre eles o Espírito Santo, fez pelo fato de terem renunciado suas vidas de modo a atender o conclamar do Mestre (Evangelho segundo João 20:19-23). Nossa vontade própria precisa morrer (Romanos 8:13, Colossenses 3:5). Pois é ela que nos conduz aos feitos da carne que nos leva ao pecado (Tiago 1:14). Morte em Deus produz vida (Evangelho segundo Mateus 10:39).

Neste contexto, vemos a participação ativa e relevante de um dos discípulos de Jesus: Tomé, chamado Dídimo (Evangelho segundo João 11:16). E ele propõe: “... Vamos também para morrermos com ele”. Assim como Lázaro morreu, precisamos mortificar os feitos de nossa carne para, assim como ele ressuscitou e foi usado como instrumento para a manifestação da glória de Deus aos homens, venhamos a ser. Mas não é só isso o que a atitude de Tomé transmite.

Os nomes Tomé, no aramaico, e Dídimo, no grego, significam “gêmeo”. A mensagem explícita, portanto, é a de que o propósito de Deus a nós é a de que sejamos restaurados à imagem de Jesus (Romanos 8:29, Efésios 4:13). O homem, no princípio, era “gêmeo” (à imagem - também conhecida como imago Dei) de Jesus. Pois fora formado, ou seja, feito conforme um modelo. E este modelo era Jesus, a imagem do Deus invisível (Colossenses 1:15), e que se fez homem (Evangelho segundo João 1:14). Não é em vão que o apóstolo Paulo elucida: “O primeiro Adão foi feito alma vivente, já o segundo Adão (Jesus), espírito vivificante.” (I Coríntios 15:45). Esta restauração, contudo, se dará na medida em que nossa “velha criatura” morrer para que a "nova criatura" (II Coríntios 5:17), originária no Espírito Santo, manifeste. Esta é a implicação da ressurreição que Jesus operou em Lázaro às nossas vidas (Evangelho segundo João 11:23).

Há mais a falar sobre este episódio impactante. Mas o meu tempo e a sua paciência se esgotaram. Continuamos na próxima parte!