Antes de Jesus
realizar o milagre de ressuscitar Lázaro, era necessário ressuscitar a razão dos presentes, de modo que não pensassem de acordo com a razão
humana, mas segundo a razão divina (logos) que governa a humana.
Matheus
Viana
Era
o quarto dia desde a morte de Lázaro. O “defunto” fora velado e colocado em seu
devido lugar. Diferente de nossa cultura ocidental, os mortos eram colocados em
grutas. A gruta onde o cadáver de Lázaro se encontrava já estava lacrada por
uma pedra. Quando Jesus chegou, não havia mais o que fazer.
Esta
foi a interpretação que os presentes fizeram da situação. Principalmente Maria
e Marta, irmãs de Lázaro. A triste saudação de Marta a Jesus explicita tal fato:
“Senhor, se estivesses aqui meu irmão não
teria morrido.” (Evangelho segundo João 11:21). Semelhantemente, esta é a
interpretação que fazemos quando Deus não nos socorre no tempo que julgamos ser
necessário. Consequentemente, nossa fé se transforma em sombrios lamentos.
Apesar
de não responder da maneira que esperamos – refiro-me à prática -, a Palavra de
Deus está sempre ao nosso dispor. Não é a toa que Jesus disse que as Escrituras
testificam dEle (Evangelho segundo João 5:39). Ao contrário do que muitos
dizem, Deus não se silencia a nosso respeito. Através das Escrituras, Sua voz
reverbera em nossas mentes e corações (Evangelho segundo Mateus 28:20).
Foi
o que aconteceu neste episódio. Jesus respondeu ao lamento de Marta: “O seu irmão vai ressuscitar.”
(Evangelho segundo João 11:23). Uma promessa vigente e pertinente àquele
contexto. Não apenas isso. É necessário levarmos em consideração quem a estava
fazendo: o próprio Jesus! Enquanto que para Marta e os demais presentes era o
fim, para Jesus era apenas o começo. Contudo, quando nosso coração é atingido
pela desolação do lamento, até as promessas de Deus perdem o sentido.
Diante
da Palavra (logos) encarnada, Marta
tentou encontrar, com sua razão deturpada, um sentido diferente do que Jesus
estava lhe concedendo: “Eu sei que ele
vai ressuscitar na ressurreição do último dia”. (Vs. 24). Antes de Jesus
realizar o milagre de ressuscitar Lázaro, era necessário ressuscitar a razão de Marta, de modo que ela não pensasse de acordo com a razão humana, mas
segundo a razão divina (logos) que
governa a humana (Vs 25 e 26).
Fé
é ser governado pela logos de Deus. É
por isso que o apóstolo Paulo preconiza: “Transformai-vos
pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, perfeita
e agradável vontade de Deus”. (Romanos 12:2). Não há milagre sem fé. Não há
fé sem Logos. Não há Logos sem termos o nosso entendimento
tomado por ela. Por esta razão, Paulo ensina: “A fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra (logos) de Deus”. (Romanos 10:17).
A
saudação de Maria a Jesus foi idêntica a de Marta. Porém, sua postura foi
diferente. Jesus foi tomado de íntima compaixão e Seu espírito foi agitado. O
que teria gerado em Jesus tal sentimento? Não foi apenas o choro de Maria, mas também dos judeus ali presentes. O fato de Jesus ter
chorado é um dos mais impactantes de todas as Escrituras. Ele participou do
sofrimento humano e do divino ao mesmo tempo. Sentiu, como Deus, a dor da morte
do ser humano que não foi criado para morrer. Mas também sentiu, como homem, a
perda de um amigo.
Jesus
chora por sentir as nossas dores e padecer conosco. Nenhum de nossos
sofrimentos pode ser comparado com os que Ele sofreu por amor a nós. É esta compaixão que o impele a realizar o
milagre em nosso favor. Diante das lamúrias dos presentes, ordenou: “Tirem a pedra!”. A objeção foi
instantânea: “Senhor, já cheira mal, pois
já faz quatro dias”.
A
razão de Marta ainda não estava rendida à Logos.
Por isso raciocinava de tal forma. Marta teria que tirar a pedra que estava em
seu intelecto de modo a pensar como Jesus e crer em Seu poder. O que é
sobrenatural para nós, é natural para Jesus. Ao ressuscitar Lázaro, Jesus não
estava diante de um desafio, mas sim de uma dedução lógica. Aristóteles a
chamava de silogismo, por ser a
ligação de duas verdades para concluir outra verdade. Veja um exemplo de
silogismo – ou dedução lógica – abaixo:
Todo
homem é mortal.
Raimundo
é homem.
Logo,
Raimundo é mortal.
No
caso de Jesus diante do episódio de Lázaro, temos o seguinte silogismo:
Deus
é a origem e fonte da vida.
Jesus
é Deus.
Logo,
Jesus é a origem e fonte da vida.
Esta
era a dedução lógica a qual Jesus estava pavimentado. O milagre da ressurreição
seria mera consequência. Tanto que não orou pedindo para que Lázaro
ressuscitasse. Apenas agradeceu ao Pai por ouvi-lo, o que denotava a íntima
comunhão que exercia com o Todo-Poderoso. (Vs 41). A ordem foi simples e
direta: “Lázaro, venha para fora!”
(Vs. 44). O resultado não poderia ser diferente: depois de estar morto
há quatro dias, ressuscitou. A Palavra de Deus, que é Espírito e vida
(Evangelho segundo João 6:63), uma vez lançada e condicionada com a Sua razão (logos), surtirá o devido efeito, ainda
que não seja no tempo que queremos, a fim de cumprir o propósito que Ele
deseja.
Experimentamos
o poder da ressurreição de Cristo quando deixamos Sua Palavra permear a nossa
mente e o nosso coração de modo a crermos que Ele é o nosso Senhor e Salvador. Pois
estávamos mortos em nossos delitos e pecados (Efésios 2:1). Contudo, ainda nos
encontramos como Lázaro, com mãos e pés envoltos em faixas...
Jesus
emitiu, após ressuscitá-lo, a seguinte ordem: “Tirem as faixas dele e deixem-no ir!”. Elas impediam seu caminhar pleno. Não é diferente conosco. É por isso que o escritor da carta
aos Hebreus preconiza: “Portanto, nós
também que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos
todo o embaraço e o pecado que tão de perto nos assedia, e corramos com perseverança
a carreira que nos está proposta.” (Hebreus 12:1).
Qual é a “faixa” que lhe
impede de caminhar e desfrutar da plenitude da ressurreição que Jesus
conquistou? Mãos falam de atitudes, e pés de condutas. Lembremos que a maneira
de pensar determina o nosso comportamento, ou seja, ações e condutas. Quando
pensamos como Jesus, segundo a Sua razão (logos), o milagre acontece e isso
determina nosso procedimento em todas as áreas de nossas vidas. O milagre da
ressurreição é consequência, assim como o desatar das faixas de modo que o desfrutemos
em sua totalidade. Deus não deseja que vivamos menos que isso.
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