Matheus
Viana
Um
dos grandes dilemas da humanidade é a definição de “moral”. É consenso que seu
exercício é preponderante para a vida em sociedade. Mesmo assim, seu conceito é
alvo de severa relativização. Apesar das várias tentativas de conceituá-la, não
lograremos êxito se não evocarmos a origem de todas as coisas: Deus, a quem
Aristóteles denomina como “ato puro”. Caso seja você ateu, me desculpe. Terás
que encontrar o que é, em sua opinião, a origem de todas as coisas.
Talvez
seja hábil em diagnosticar moral na energia e na matéria que, segundo os
evolucionistas – contrariando a Lei da Termodinâmica –, existiam no espaço-tempo
- cujas origens são desconhecidas -, antes do evento chamado “Big Bang”. Talvez
na “Bóson de Higgs”, também chamada de “partícula de Deus”, ou no próprio evento
do "Big Bang". Boa sorte!
Eu
prefiro a via da razão e da coerência desprovidas da ideologia – ou seria
crença? – naturalista. Por isso, recorro àquele que existe antes de todas as
coisas, como afirma Paulo de Tarso: “Porque
nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e
invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam
potestades. Tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as
coisas, e todas as coisas subsistem por ele. (Colossenses 1:16-17).
Este
ser descrito por Paulo não é apenas um ente da física, mas o supremo personagem
do cosmo. Nele é impossível não detectarmos a moral. Conforme preconiza a Lei
da Termodinâmica, os processos naturais não são gerados de forma espontânea,
mas estão sujeitos às leis naturais. Ou seja, estas leis regem, com exímia
maestria, a orquestra chamada Universo. Portanto, por serem “leis”, foram
criadas e estabelecidas por alguém a quem a ciência chama de Designer Inteligente. Estas leis são
demonstrações da moral que há em Deus. Tal moral é explícita no relato da
Criação: “Disse Deus: “Haja luz!”, e houve
luz”. (Gênesis 1:3). A natureza obedece o comando de Seu Senhor. Obediência
é um elemento da moral. Desta forma, Deus criou todas as coisas naturais e viu
que tudo era bom (Gênesis 1:31).
A
formação do ser humano é repleta de moral. A essência do Criador lhe foi
imputada. E ela determinava sua maneira de pensar e agir (Gênesis 2:7). O Espírito
de Deus (Sua essência) foi o estabelecimento de Sua moral sobre o ser humano.
Mas esta moral é completamente diferente da conotação pejorativa que ela
carrega ao longo da história. A moral de
Deus gera liberdade. Ela está explícita na seguinte ordem: “... comerás de todas as árvores do jardim...” (Gênesis 2:16). Somente de uma árvore o ser humano não deveria se alimentar para sua eterna preservação (Gênesis 2:17). As
duas árvores existentes no Éden simbolizam as duas morais existentes: a divina –
representada pela Árvore da Vida – e a humana – representada pela árvore do
conhecimento do bem e do mal (Gênesis 2:9). E a imoralidade, ou a má moral?
Essa é produto da corrupção da moral humana.
Antes
da queda, as morais divina e humana andavam em plena harmonia, pois a humana
era determinada – e não forçadamente subjugada, em virtude da existência do livre-arbítrio
– à divina. Mas, no momento em que a moral humana se desvencilhou da divina, a
tragédia foi inevitável. A imoralidade veio à tona mesmo antes do ato da
desobediência. O abandono da moral divina gerou a imoralidade, que nada mais é
do que a ação da moral humana completamente independente, à revelia, da moral
divina.
Eva,
por ser convencida do engano do tentador, travestido de serpente, passou a ver
a moral divina como instrumento de repressão e de impedimento a uma suposta
liberdade. “Liberdade” pavimentada pela moral humana que culminou no maior de
todos os cárceres aplicados à vida: a morte (Romanos 5:12). O ser humano deixou
de ser quem era por perder sua substância: à imagem e semelhança do Criador. Foi
expulso de seu habitat: o Éden. Perdeu a eternidade, pois passou a ser
subjugado pela ‘tânatos’.
Por
isso, a partir de então, passou a conviver com a brevidade de seus dias de
existência sobre a terra. Mediante tudo isso, reflitamos: a moral humana
compensa? Ela realmente traz liberdade? A história da humanidade é a prova
cabal do sonoro ‘não’ para ambas as questões. Lembrando que o uso da “moral
divina” a serviço das aberrações humanas, como a busca frenética por prestígio
e poder, a exemplo do que ocorreu em vários episódios, como as Cruzadas e que ainda é presente em nossos dias; não
tem o mínimo teor da moral divina. Nada mais é do que o pus gerado pela
ambição humana através da religião...
Mas
acredite, há quem pense o contrário. E não são poucos. O filósofo alemão
Friedrich Nietzsche (1844-1900), em seu livro A genealogia da moral, diz: “A redenção do gênero humano (...) está
bem encaminhada; tudo se judaíza, cristianiza... A marcha desse envenenamento
através do corpo inteiro da humanidade parece irresistível...”. Como um
autêntico existencialista, Nietzsche critica e ataca tudo o que, em seu
entendimento, impede o ser humano de agir segundo a plenitude de seus
instintos. Dissertando sobre o conceito de “bom”, faz a seguinte provocação: “E
se no “bom” houvesse um sintoma regressivo, como um perigo; uma sedução, um
veneno, um narcótico, mediante o qual o presente vivesse como que às expensas do
futuro?”. Para um existencialista, o sentido de sua existência resume-se ao
presente. Pois não pode estar preso ao passado nem alienado, de forma
letárgica, a um futuro desconhecido, onde não é capaz de prever sua
existência.
Por
isso, para ele, a moral é um empecilho à vida. E deve ser abatida a
qualquer preço (a dissertação sobre “moral” de Nietzsche é bem mais ampla e
profunda, mas captaremos aqui uma breve síntese por ser pertinente ao tema
abordado). E, pelo fato de ser Deus o autor da moral, o ataca de forma
impiedosa. Eis o principal sintoma da insanidade humana.
Além
de atacar Deus, Nietzsche coloca em xeque os valores e atribuições de Sua
moral. Para ele, a humildade evocada na moral cristã e o amor ao próximo não
passam de desdobramentos de covardia oriunda de um medo incontido. Segundo esta
perspectiva, moral é o nome que se dá para, além de impedir o ser humano de
desfrutar da plenitude de sua existência, a incapacidade de responder aos
ressentimentos - que, para ele, geram o ódio e desejo pelo poder – que a vida
causa no ser humano.
Esta
foi a cosmovisão que o tentador quis impor a Jesus no deserto ao lhe fazer a
proposta: “(...) lança-te de aqui abaixo;
porque está escrito: Que aos seus anjos dará ordens a teu respeito, E
tomar-te-ão nas mãos, Para que nunca tropeces em alguma pedra.” (Evangelho
segundo Mateus 4:6). Em outras palavras: “Desfrute de sua existência.
Extravaze!”. Jesus, ao contrário de Eva e de grande parte da humanidade, não “mordeu
a isca”. Pois era pautado pela moral divina. Por isso, o tentador perdeu e a
humanidade ganhou. Jesus venceu a tentação e abriu o caminho para Seu triunfo
na cruz, três anos mais tarde.
Nietzsche,
ao longo do livro, comete outro equívoco. Afirma que a “moral dos escravos
nasce da ‘Não’ ação.". Ou seja, o indivíduo ressentido não realiza nenhum ato de
vingança ao seu oponente ou à situação que o aflige. Vejamos:
Jesus,
na tentação do deserto, não realizou nenhuma atitude que lhe foi proposta.
Contudo, no Getsêmani, horas antes da crucificação, Jesus refletiu sobre o
cumprimento de Sua missão: “(...) Meu
Pai, se é possível, passe de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero,
mas como tu queres.” (Evangelho segundo Mateus 26:39). Ou seja, a moral
divina o impeliu a obedecer a vontade do Pai e realizar o plano da redenção
para a humanidade. E mais. Tal atitude, ainda que contrária ao “ressentimento”
de Jesus/homem, fez com que Ele vivesse de acordo com o que era de fato: o
cordeiro morto antes da fundação do mundo (Apocalipse 13:8).
Portanto, a moral divina
não existe para anular a vivência de nossa existência. Pelo contrário! Existe
para restaurar nossa verdadeira identidade: formados à imagem e semelhança de
Cristo Jesus, a imagem do Deus invisível (Colossenses 1:15), o varão perfeito
(Efésios 4:13).
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