Matheus
Viana
Talvez
o trecho do texto O contraponto da moral: “As duas árvores existentes no Éden simbolizam as duas
morais existentes: a divina – representada pela Árvore da Vida – e a humana –
representada pela árvore do conhecimento do bem e do mal (Gênesis 2:9). E a
imoralidade, ou a má moral? Essa é produto da corrupção da moral humana.” tenha lhe gerado dúvida. Ela foi proposital. Instigar
o pensamento é algo que Deus faz ao homem (Isaías 1:18).
A
representação de algo é diferente do algo representado. A imagem de um vaso em
um quadro, por exemplo, não é o vaso que ele representa. Vaso e sua imagem
(representação) são coisas distintas. O mesmo princípio se aplica à
representação da moral. Moral é composta de vontade e razão. O filósofo Arthur Schopenhauer, em seu livro Vontade
e Representação, fala da coesão destes dois aspectos sobre o ser humano e
sua interação com o mundo. Falaremos sobre isso em breve.
Quando
afirmo que a árvore do conhecimento do bem e do mal era a representação da
moral humana, falo da liberdade que Deus concedeu ao homem em relação à sua vontade
e razão. Deus concedeu vontade (capacidade de desejar e direito de escolher) e razão
(capacidade de pensar) ao ser humano. Ou seja, deu-lhe uma moral. Com isso,
queria que a vontade e a razão do homem o conduzissem a realizar seus feitos segundo
a moral divina, que a vontade do ser humano fosse a de fazer a vontade de Deus
como consequência de pensar como Ele. Algo completamente diferente de
manipulação, onde não existe vontade tampouco ato de pensar. Nietzsche denomina
“vontade não livre” como mitologia.
Portanto,
vimos que a moral humana, alinhada à divina, produz vida. Isso é diferente do
fato de o ser humano ser amoral ou ser tolhido de seu direito de exercê-la. Mas
a moral humana sem o fundamento da divina gera degradação e morte. Era
exatamente isso que a árvore do conhecimento do bem e do mal representava.
Algo
importante a ser salientado é a consciência do bem e do mal. O argumento da
serpente foi direto: “Deus sabe que, no
dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês, como Deus, serão
conhecedores do bem e do mal” (Gênesis 3:5). Esta é a consciência
existencialista que tem influenciado a sociedade pós-moderna. Assim como Adão e
Eva, muitos têm colhido tal engodo e comido do fruto da moral humana
independente, também chamada de “livre”.
Como
vimos, a moral que Deus concedeu ao ser humano era reflexo e desdobramento da
divina. Contudo, nela não havia a consciência do bem e do mal. Por quê? Veremos
que este “bem” é tão nocivo quanto o “mal”. A moral humana foi corrompida em
virtude da obtenção deste conhecimento. A razão humana passou a considerar a
possibilidade de se fazer o bem à revelia da bondade divina. Ledo engano! A palavra
“bom” que aparece em Gênesis 1:31 no original hebraico é ‘tov’, que se refere à bondade suprema originada em Deus.
Portanto, o “bem” humano - que aparece em Gênesis 2:17 e 3:5, cujo original hebraico é 'tav' - nunca será, de fato, bom (tov). Mas com a queda, ele surgiu.
É
sobre este “bem” que o apóstolo Paulo elucida: “Mas o pecado, aproveitando a oportunidade dada pelo mandamento,
produziu em mim todo tipo de desejo cobiçoso. Pois, sem a Lei, o pecado está
morto”. (Romanos 7:8). Eva, ao ser informada de que ao comer do fruto
ilícito seria conhecedora do bem e do mal, o cobiçou. Para ela, tal ciência era
algo bom. Porém, um “bom” completamente destoante do bem divino. E por isso
atraiu o mal.
Paulo
preconiza este “bem” (tav) como a Lei e o mal como a cobiça e o consequente pecado.
Por isso, podemos concluir que a consciência do “bem” opera sobre a
possibilidade de sermos justificados pelas nossas “boas ações”. Paulo enfatiza
este conceito quando diz: “Portanto,
ninguém será declarado justo diante de Deus baseando-se na obediência à Lei,
pois é mediante a Lei que nos tornamos plenamente conscientes do pecado”.
(Romanos 3:20). Ou seja, é este “bem”, desprovido da ‘tov’ (bondade de Deus),
que nos dá o pleno conhecimento do mal e nos leva a cobiçá-lo. C.S Lewis, em
seu livro Cristianismo puro e simples,
fala sobre a Lei moral que rege a consciência do ser humano sobre o certo
e errado e o bem e mal.
Contudo,
esta consciência ressalta a nossa incapacidade de sermos bons conforme a moral
divina. O apóstolo Paulo reitera: “Pois o
que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, este eu
continuo fazendo” (Romanos 7:19). Sendo assim, o “bem” que fazemos, pavimentado unicamente pela moral humana, é semelhante ao mal diante da moral
divina. Não é a toa que o profeta Isaías afirma que a justiça humana, perante
a divina, é imunda como trapo de imundícia (Isaías 64:6).
Jesus disse que é do
interior do homem que surge todo tipo de mal (Evangelho segundo Marcos
7:21-23). Agostinho, em seu livro Livre-arbítrio,
afirma que o mal surgiu devido à escolha equivocada do ser humano, decorrente
do livre-arbítrio que lhe foi outorgado por Deus. Exatamente! O ato indevido
trouxe à tona a consciência mortal. E é ela que pavimenta a moral humana. O
resultado não pode ser diferente, e ele foi descrito pelo sábio Salomão: “Há caminhos que ao homem parecem direitos,
mas no fim são caminhos de morte” (Provérbios 16:25).
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