Parte I - Por vezes, somos
acometidos pela síndrome de Lázaro. Vemo-nos enredados por enfermidades ou
situações de desalentos, e Deus as usa para glorificar Seu nome. Sarcasmo? De
modo algum! É mera soberania. Privilegiados são aqueles que sofrem pelo Seu
nome (Evangelho segundo Mateus 5:10) em qualquer esfera.
Matheus
Viana
Todas
as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus (Romanos 8:28). Verdade
explícita no episódio narrado no capítulo 11 do Evangelho segundo João: o
adoecimento, morte e ressurreição de Lázaro.
O
versículo 4 diz: “E Jesus, ouvindo isto,
disse: Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus, para que o
Filho de Deus seja glorificado por ela”. Relato intrigante! Um homem, amado
por Jesus, adoeceu para que a glória de Deus fosse manifesta? Isso mesmo! Ao
contrário do que afirmam os triunfalistas, cristãos, conforme o próprio Jesus
preconizou, passam por situações difíceis (Evangelho segundo João 16:33). A
vida abundante que Ele nos concede (Evangelho segundo João 10:10) não nos
isenta de lutas nem tampouco de enfermidades. Mas nos garante, em toda e
qualquer situação, a vitória (Romanos 8:37) segundo o conceito divino. Pois o
que é vitória para Deus nem sempre é para nós. A recíproca também é verdadeira.
Por
vezes, somos acometidos pela síndrome de Lázaro. Vemo-nos enredados por
enfermidades ou situações de desalentos, e Deus as usa para glorificar Seu nome.
Sarcasmo? De modo algum! É mera soberania. Privilegiados são aqueles que sofrem
pelo Seu nome (Evangelho segundo Mateus 5:10) em qualquer esfera. Eu que o
diga! Há 14 anos sofro de uma severa deformidade óssea que compromete órgãos
vitais como pulmão e coração. Glória a Deus por isso.
É
interessante a atitude de Jesus ao ouvir sobre o fato. Permaneceu onde estava
por mais dois dias. Desconsideração? Claro que não! Mesmo à distância, Ele
tinha controle da situação, pois, apesar de ser homem, era Deus. Jesus não apenas
deixou de ir ao encontro das irmãs de Lázaro no tempo solicitado, mas pegou um
caminho contrário. Ao invés de ir para Betânia, onde era aguardado, foi para a
Judeia, lugar onde os judeus tentaram apedrejá-lo (Evangelho segundo João
11:8).
Questionado
pelos Seus discípulos sobre esta decisão inusitada, respondeu: “... Não há doze horas no dia? Se alguém
andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo.” (Evangelho segundo
João 11:9). Andar de dia. Uma metáfora espiritual que determina nossa atitude
natural. Jesus é a estrela da manhã (Apocalipse 22:16). O resplandecente sol de
onde emana a luz que ilumina os nossos caminhos (Salmos 119:105). Caminhar de
dia implica em andar sob a égide de Sua Palavra. De Sua logos (razão) que é Espírito e vida (Evangelho segundo João 6:63)
de modo que os Seus caminhos sejam os nossos (Isaías 55:8-9).
Contudo, Lázaro
morre (Evangelho segundo João 11:11). Como? Jesus afirmou que a enfermidade que
o acometia não era para morte. Jesus mentiu? Não! Dolo algum foi encontrado em
Sua boca (Hebreus 4:15, I Pedro 2:22). O conceito de morte para Jesus é
diferente do que é para nós. Por isso disse em relação à filha de Jairo: “Retirai-vos, que a menina não está morta,
mas dorme. E riam-se dele.” (Evangelho segundo Mateus 9:24).
Para
que a vida de Deus se manifeste a nós – e através de nós -, precisamos morrer. Seu
fôlego de vida, o Espírito Santo (Pneumatos), só pode agir onde não há vida.
Foi assim com o ser humano no princípio (Gênesis 2:7). Foi assim com Jesus
(Romanos 8:11). Não é diferente conosco. Quando Jesus aparece aos discípulos
após ressuscitar, e sopra sobre eles o Espírito Santo, fez pelo fato de terem
renunciado suas vidas de modo a atender o conclamar do Mestre (Evangelho
segundo João 20:19-23). Nossa vontade própria precisa morrer (Romanos 8:13, Colossenses
3:5). Pois é ela que nos conduz aos feitos da carne que nos leva ao pecado
(Tiago 1:14). Morte em Deus produz vida (Evangelho segundo Mateus 10:39).
Neste
contexto, vemos a participação ativa e relevante de um dos discípulos de Jesus:
Tomé, chamado Dídimo (Evangelho segundo João 11:16). E ele propõe: “... Vamos também para morrermos com ele”.
Assim como Lázaro morreu, precisamos mortificar os feitos de nossa carne para,
assim como ele ressuscitou e foi usado como instrumento para a manifestação da glória
de Deus aos homens, venhamos a ser. Mas não é só isso o que a atitude de Tomé
transmite.
Os
nomes Tomé, no aramaico, e Dídimo, no grego, significam “gêmeo”. A mensagem
explícita, portanto, é a de que o propósito de Deus a nós é a de que sejamos
restaurados à imagem de Jesus (Romanos 8:29, Efésios 4:13). O homem, no
princípio, era “gêmeo” (à imagem - também conhecida como imago Dei) de Jesus. Pois fora formado, ou seja, feito
conforme um modelo. E este modelo era Jesus, a imagem do Deus invisível
(Colossenses 1:15), e que se fez homem (Evangelho segundo João 1:14). Não
é em vão que o apóstolo Paulo elucida: “O
primeiro Adão foi feito alma vivente, já o segundo Adão (Jesus), espírito vivificante.” (I Coríntios
15:45). Esta restauração, contudo, se dará na medida em que nossa “velha
criatura” morrer para que a "nova criatura" (II Coríntios 5:17), originária no
Espírito Santo, manifeste. Esta é a implicação da ressurreição que Jesus operou
em Lázaro às nossas vidas (Evangelho segundo João 11:23).
Há
mais a falar sobre este episódio impactante. Mas o meu tempo e a sua paciência
se esgotaram. Continuamos na próxima parte!
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