Matheus Viana
A
oração sacerdotal feita por Jesus foi enfática: “Não rogo que os tires do mundo, mas que os protejas do maligno.”
(Evangelho segundo João 17:15). Nela está inserida a relação entre o
cristianismo e o que conhecemos como política.
Desde
que o ser humano se apartou de Deus, ele se tornou, conforme preconizou
Aristóteles, um ser político. O que
isto significa? Que o homem passou a elaborar, por si mesmo, seu modus vivendi. Pois, conforme o próprio
Deus estabeleceu a partir de Adão: “Do
suor do teu rosto comerás.” (Gênesis 3:19). Antes do pecado, o homem
obedecia a ética e o propósito de Deus sobre ele. E baseado nestes aspectos
exercia cultura, ou melhor, realizava
o culto racional.
Com
o surgimento das diversas civilizações, Deus escolheu uma família: Abrão e
Sarai, para, a partir dela, erguer para Si um povo exclusivo e Se revelar
perante os demais povos (Gênesis 12:1-3). No processo de formação da sociedade
hebraica, Deus estabeleceu leis e normas necessárias para tal finalidade. Elas
eram a demonstração de um modelo de governo: o teocêntrico. Este também era o modelo que regia as demais
sociedades pautadas em suas respectivas divindades, no caso das politeístas, e
conjuntos de leis. Fato que demonstra a existência do que é chamado de senso religioso. Logo, não há como
desvencilhar este senso do exercício da política.
As premissas que constituem o estabelecimento de um Estado laico, conforme
veremos posteriormente, são religiosas. Um paradoxo.
Cultura é a relação do
homem com o ambiente em que vive. Ela não existe sem normas, que podem ser
transformadas em leis. Rousseau disse que não é possível organizar uma sociedade
sem o que chamou de contrato social.
E não há contrato social sem leis. Esta organização e a consequente observação
pelos membros de determinada sociedade são chamadas de política.
O
cristianismo é teonômico. A política que rege o cristão é pautada na
Lei (vontade e propósito) de Deus estabelecida no coração humano (Salmos
119:11, Jeremias 31:31, Gálatas 2:20). Ou seja, seus atos individuais e
coletivos (sociais) são pautados pela Vontade de Deus revelada em Sua Palavra e
plantada no interior do homem pelo Espírito Santo.
Paulo exortou os cristãos de Filipos dizendo: “Não importa o que aconteça, exerçam a sua cidadania de maneira digna
do evangelho de Cristo.” (Filipenses 1:27). A expressão traduzida como cidadania é politeúeste, que tem origem na expressão polités, traduzida como cidadão.
Dela também se derivam as expressões politiké/politikós,
traduzidas como política. Sendo
assim, cidadania e política são a mesma coisa.
Paulo,
então, nos exortou a exercemos a nossa cidadania,
ou seja, fazermos política, e não
nos omitirmos. Contudo, tal exercício
não deve ser de acordo com o padrão dos homens, mas de acordo com a ética do
Evangelho de Cristo que não é um conjunto de meros escritos, mas da Lei de Deus
e do Legado do próprio Cristo (Evangelho segundo João 5:39, 6:63). Ou seja, viver como Ele viveu (Romanos 8:29), fazendo e ensinando o que Ele fez e ensinou (Atos 1:1). O fato de
Jesus ser o pleno cumprimento da Lei de Deus (Romanos 10:4) não é em vão. Ele é
a personificação desta convergência por ser a nossa teonomia. Nele deve estar
baseada a nossa cidadania.
Sendo
assim, nossa cidadania/política deve
ser completamente desprovida de ideologias humanas. Sobre isso, o mesmo
apóstolo reiterou: “Tenham cuidado para
que ninguém os escravize a filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam em
tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo.”
(Colossenses 2:8).
O
espectro político brasileiro – e em muitos países em todo o mundo - é
polarizado, mesmo após a queda do muro de Berlim em 1989 e o fim do império
soviético, entre as ideologias de direita
e de esquerda, gravitando entre
simpatizantes do que é conhecido como centro.
Grosso modo, a ideologia de direita preza
pela liberdade e a meritocracia individuais. Já a esquerda pleiteia a utopia da economia planificada através da
supremacia estatal, tendo como intermediário o que Karl Marx chamou de ditadura do proletariado. O fato de que
toda prática política é baseada no senso religioso fica evidente na construção de deuses como instrumentos
para o alcance de determinados objetivos. Os de
direita têm como deuses o mérito, a liberdade e o dinheiro. Já os de esquerda têm
o Estado e o ideal revolucionário como entes
a serem cultuados.
Continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário