terça-feira, 14 de junho de 2016

Cristianismo e política - Parte I

Matheus Viana

A oração sacerdotal feita por Jesus foi enfática: “Não rogo que os tires do mundo, mas que os protejas do maligno.” (Evangelho segundo João 17:15). Nela está inserida a relação entre o cristianismo e o que conhecemos como política.

Desde que o ser humano se apartou de Deus, ele se tornou, conforme preconizou Aristóteles, um ser político. O que isto significa? Que o homem passou a elaborar, por si mesmo, seu modus vivendi. Pois, conforme o próprio Deus estabeleceu a partir de Adão: “Do suor do teu rosto comerás.” (Gênesis 3:19). Antes do pecado, o homem obedecia a ética e o propósito de Deus sobre ele. E baseado nestes aspectos exercia cultura, ou melhor, realizava o culto racional.

Com o surgimento das diversas civilizações, Deus escolheu uma família: Abrão e Sarai, para, a partir dela, erguer para Si um povo exclusivo e Se revelar perante os demais povos (Gênesis 12:1-3). No processo de formação da sociedade hebraica, Deus estabeleceu leis e normas necessárias para tal finalidade. Elas eram a demonstração de um modelo de governo: o teocêntrico. Este também era o modelo que regia as demais sociedades pautadas em suas respectivas divindades, no caso das politeístas, e conjuntos de leis. Fato que demonstra a existência do que é chamado de senso religioso. Logo, não há como desvencilhar este senso do exercício da política. As premissas que constituem o estabelecimento de um Estado laico, conforme veremos posteriormente, são religiosas. Um paradoxo.

Cultura é a relação do homem com o ambiente em que vive. Ela não existe sem normas, que podem ser transformadas em leis. Rousseau disse que não é possível organizar uma sociedade sem o que chamou de contrato social. E não há contrato social sem leis. Esta organização e a consequente observação pelos membros de determinada sociedade são chamadas de política.

O cristianismo é teonômico. A política que rege o cristão é pautada na Lei (vontade e propósito) de Deus estabelecida no coração humano (Salmos 119:11, Jeremias 31:31, Gálatas 2:20). Ou seja, seus atos individuais e coletivos (sociais) são pautados pela Vontade de Deus revelada em Sua Palavra e plantada no interior do homem pelo Espírito Santo.

Paulo exortou os cristãos de Filipos dizendo: “Não importa o que aconteça, exerçam a sua cidadania de maneira digna do evangelho de Cristo.” (Filipenses 1:27). A expressão traduzida como cidadania é politeúeste, que tem origem na expressão polités, traduzida como cidadão. Dela também se derivam as expressões politiké/politikós, traduzidas como política. Sendo assim, cidadania e política são a mesma coisa. 

Paulo, então, nos exortou a exercemos a nossa cidadania, ou seja, fazermos política, e não nos omitirmos. Contudo, tal exercício não deve ser de acordo com o padrão dos homens, mas de acordo com a ética do Evangelho de Cristo que não é um conjunto de meros escritos, mas da Lei de Deus e do Legado do próprio Cristo (Evangelho segundo João 5:39, 6:63). Ou seja, viver como Ele viveu (Romanos 8:29), fazendo e ensinando o que Ele fez e ensinou (Atos 1:1). O fato de Jesus ser o pleno cumprimento da Lei de Deus (Romanos 10:4) não é em vão. Ele é a personificação desta convergência por ser a nossa teonomia. Nele deve estar baseada a nossa cidadania.

Sendo assim, nossa cidadania/política deve ser completamente desprovida de ideologias humanas. Sobre isso, o mesmo apóstolo reiterou: “Tenham cuidado para que ninguém os escravize a filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam em tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo.” (Colossenses 2:8).

O espectro político brasileiro – e em muitos países em todo o mundo - é polarizado, mesmo após a queda do muro de Berlim em 1989 e o fim do império soviético, entre as ideologias de direita e de esquerda, gravitando entre simpatizantes do que é conhecido como centro. Grosso modo, a ideologia de direita preza pela liberdade e a meritocracia individuais. Já a esquerda pleiteia a utopia da economia planificada através da supremacia estatal, tendo como intermediário o que Karl Marx chamou de ditadura do proletariado. O fato de que toda prática política é baseada no senso religioso fica evidente na construção de deuses como instrumentos para o alcance de determinados objetivos. Os de direita têm como deuses o mérito, a liberdade e o dinheiro. Já os de esquerda têm o Estado e o ideal revolucionário como entes a serem cultuados.

Ambas ideologias não coadunam com o Evangelho de Cristo. Veremos, em breve, alguns argumentos que fundamentam tal fato.

Continua...

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