Matheus Viana
A
mensagem de João, o batista, era clara e sucinta: “Deem fruto que mostre o arrependimento.” (Evangelho segundo Mateus
3:8). Não há como dissocia-la do cristianismo. O apostolo Paulo, seguindo este
mote, preconizou: “A tristeza segundo
Deus não traz remorso, mas sim um arrependimento que leva à salvação...”
(II Coríntios 7:10).
Não
há conversão sem arrependimento. Pois um é causa (arrependimento) e o outro é o
efeito (conversão). Mas embora seja causa, arrependimento também é um efeito. É
a síntese de um processo que começa com a consciência (reconhecimento) do
pecado, passa pela confissão (quebrantamento) e aflora na mudança de atitude.
Sendo assim, arrependimento começa na mente,
o primeiro elemento humano degradado pelo ardiloso argumento da serpente, a
fim de atingir o coração (Provérbios 4:23) e ser demonstrada por
ações (Tiago 1:22). Isto é culto
racional.
Não
foi em vão que os registros contidos no Evangelho segundo Mateus e nas cartas de Paulo
trazem o termo metanoia para se
referir ao arrependimento. Metanoia é mudança de mente. Mas mudança para melhor. A tradução literal do
termo é além da mente. Assim sendo,
arrependimento não é, em primeiro lugar, produto do racionalismo. A mente
humana, por si só, não é capaz de produzi-lo. Arrependimento é o Espírito Santo agindo na mente humana, conforme
Jesus advertiu, convencendo o homem de seu pecado e, consequentemente, da
justiça e do juízo de Deus (Evangelho segundo João 16:8).
Metanoia é ter a nossa
mente transformada para, a partir de então, ser submissa ao
conhecimento de Cristo (II Coríntios 10:5). Ambos se dão através da análise,
entendimento e conhecimento das Escrituras. Não foi em vão que Jesus afirmou: “Examinai as Escrituras, pois elas de mim
testificam.” (Evangelho segundo João 5:39).
Presenciamos
um evidente crescimento demográfico de cristãos. Mas, ao contrário de outros
momentos da história, ele não tem gerado os efeitos esperados e devidos. Não
temos feito diferença nas sociedades as quais a Igreja está inserida pelo fato
de que grande parte do atual contingente cristão não passou por uma experiência
de conversão. E tal fato se dá por
não haver um verdadeiro processo de arrependimento. Este, por sua vez, não ocorre porque o Evangelho de Cristo não tem sido disseminado.
O
que vemos atualmente são arremedos de um cristianismo travestido de autoajuda
ou de uma filosofia conveniente aos ouvintes. Foi sobre esta realidade que o
apóstolo Paulo elucidou: “Pois virá o
tempo em que não suportarão a sã doutrina; ao contrário, sentindo coceira nos
ouvidos, juntarão mestres para si mesmos, segundo seus próprios desejos. Eles
se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos” (II
Timóteo 4:3-4). Este tempo chegou!
Os
que se dirigiam até as margens do Jordão para ouvirem e serem batizados
por João conheciam a Lei dada por Deus através de Moisés, mas não a praticavam
de acordo com a vontade de Deus, como sinal de arrependimento. Logo, tal observância
não passava de ritualismo frívolo. Foi então que Deus, através de João,
declarou: “Quero que vocês demonstrem, com suas atitudes, o quanto estão
arrependidos.” (Cf. Evangelho segundo Mateus 3:8). Deus não tolera justificativas
e reivindicações, apenas arrependimento
demonstrado por suas atitudes. Qualquer ação destoante deve ser rechaçada: “O machado já está posto à raiz das árvores,
e toda árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo.” (Evangelho
segundo Mateus 3:10).
O
discurso de Jesus tem o mesmo tom. Disse certa vez aos seus discípulos: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o
agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta...”
(Evangelho segundo João 15:3). Veja que Jesus afirma dois aspectos fundamentais:
Ele é a videira e o Pai é o agricultor. Nossas ações devem ser resultantes de arrependimento. Apesar de fundamental,
tal fato não é suficiente. É preciso que nossas ações sejam produtos do fato de
nossa vida estar alicerçada em Cristo. Em linguagem aristotélica, nossos atos devem ter Jesus como potência. Traduzindo,
devemos fazer e ensinar o que Jesus fez e ensinou como resultado de sentirmos (Filipenses 2:5, o que não é um mero sentimento) e pensarmos como Ele (I Coríntios 2:16).
Além
disso, Deus – o Pai – deve ser o agricultor.
É Ele quem efetua em nós o querer e o
realizar (Filipenses 2:13). Nossas
ações não devem ser frutos de nossos desejos próprios com suas devidas
conveniências. A obra é Dele. A colheita é para Ele. Sendo
assim, qualquer vanglória humana não tem lugar nem sentido.
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