sexta-feira, 6 de maio de 2016

Destruir para construir - Parte II



Matheus Viana

Obs: Não deixe de ler a parte I.

Piaget quis - e seus prosélitos ainda querem - transformar a sentença de que “não há absolutos universais” em um absoluto universal. Repito: A insanidade é flagrante. Mas, após rechaçar tal pedagogia, devemos considerar uma teoria de Piaget: a equilibração majorante. A teóloga e educadora Maria Molochenco disse em seu livro Educação cristã:

“David Edwards, um educador cristão, descreve a teoria de Jean Piaget e afirma que ‘a mente humana funciona formando esquemas ou cadeias de conhecimento’. Para a constituição destes esquemas, passamos por duas etapas de um processo chamado por Piaget de equilibração majorante. Estas duas etapas são chamadas de assimilação e acomodação. A assimilação é o primeiro movimento do pensamento que, quando entra em contato com uma nova informação, ‘fixa a nova informação dentro de um esquema’. A partir de então, o sujeito desenvolve um movimento que passa da assimilação (primeiro contato) para a acomodação, ou seja, aquela nova informação vai sendo incorporada ao esquema já adquirido e passa a se acomodar como um novo esquema. Dessa forma, o ser humano desenvolve seu pensamento, ao entrar em contato com novas informações que ampliam suas estruturas mentais. Daí a evolução no processo de construção do conhecimento, com a ampliação dos esquemas.”[1].

Sobre isso, elucidei no livro Culto racional:

     “Isso quer dizer o seguinte: Imagine que você tenha em sua casa uma estante de livros vazia. Em certo momento, você ganha dez livros, de vários gêneros, e os organiza em sua estante em uma determinada ordem. Após um tempo, você recebe mais vinte livros, de vários gêneros. Então você vai precisar organizá-los na estante onde os dez já estão organizados. Ou seja, você vai ter que mudar a estrutura e disposição dos livros na estante para acomodar os outros vinte livros que acabou de ganhar.
     A estante é a mente humana. Os dez primeiros livros são as informações que recebemos em nossa mente, cuja acomodação simboliza o fato de que elas se transformaram em conhecimento. Os outros vinte livros que recebemos depois são as novas informações que recebemos (assimilação), as quais precisamos organizar em nossa mente (equilibração) a fim de que se transformem, como as informações anteriores, em conhecimento (acomodação). Vejamos o diagrama abaixo:

Assimilação – recebimento e fixação das informações
Equilibração majorante – exercício de organizar as informações
Acomodação – transformação das informações em conhecimento

     Estamos constantemente em equilibração majorante. Pois estamos sempre em contato com novas informações (assimilação) e, por isso, nos esforçando para acomodar (transformar em conhecimento) as informações que recebemos através de nossos sentidos.”.

Tal processo é factual. No entanto, devemos considerar a realidade de que, por conta do pecado, nossa mente foi corrompida. E o motivo de tal corrupção foi o recebimento de informações contrárias (a ardilosa proposta da serpente), e a consequente acomodação, às informações anteriores estabelecidas por Deus na mente humana através da experiência sobrenatural e sensorial (Sua vontade e ética).

Na esteira deste fato, o apóstolo Paulo advertiu: “Destruímos argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus, levamos cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo.” (II Coríntios 10:5). Antes, portanto, descreveu a realidade a qual estamos inseridos: “O deus deste século cegou o entendimento dos descrentes para que não vejam a luz do Evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.” (II Coríntios 4:4).

Questão de causa e efeito. Para realizarmos o propósito de Deus sobre nós, que é o de vivermos conforme a imagem e semelhança de Jesus (Romanos 8:29), devemos passar pelo processo ao qual o apóstolo Paulo chamou de renovação de mente (Romanos 12:2). Ela, portanto, não consiste apenas na assimilação de novas informações, mas na destruição das informações acomodadas que rejeitam Deus e Sua soberana vontade, a qual Paulo definiu como boa, perfeita e agradável. Em suma, destruir para construir.

Por isso ele começou sua advertência dizendo: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente...” (Romanos 12:2). Não há como assimilar, de forma minimamente satisfatória, a vontade de Deus sem destruir padrões de pensamentos contrários aos absolutos de Deus.

O grande erro da teologia liberal, por exemplo, foi a tentativa de condicionar o pensamento cristão aos padrões vigentes da época em que surgiu, tanto na Europa como na América do Norte. O cristianismo, por sua vez, caminha na contramão. A Escritura, por revelar Cristo (Evangelho segundo João 5:39), que por sua vez é a revelação do próprio Deus (Evangelho segundo João 1:14, 14:9); deve ser o único e insubstituível fundamento de nossa forma de pensar e, consequentemente, de ser e de agir.


[1] MOLOCHENCO, Maria de Oliveira. Educação cristã – São Paulo: Vida Nova, 2007. (Curso Vida Nova de Teologia Básica; v. 8), p. 53.

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