Matheus Viana
Há algumas observações a serem feitas sobre
o modelo pedagógico teorizado por Jean Piaget (1896-1980), denominado construtivismo.
Grosso modo, ele preconiza que a criança deve, por ela mesma, adquirir o conhecimento
através de suas experiências sensoriais e, a partir delas, desenvolver e formar
seu intelecto. Sabemos que uma criança, mesmo que dotada de capacidades
cognitivas, não possui a capacidade, por conta de sua tenra idade, de construir
e definir padrões de pensamento necessários para a obtenção do conhecimento de
sua realidade e também para seu pleno desenvolvimento intelectual.
Observemos o ciclo da sabedoria:
Recebemos informações através de nossos sentidos (incluindo as experiências
sensoriais) e as processamos com o nosso intelecto a fim de que se transformem
em conhecimento. Sabedoria, por sua vez, é a prática deste
conhecimento. Algo, porém, que deve ser considerado é o modo como as informações
são adquiridas e como se dá o processo de transformação em conhecimento. No
construtivismo de Piaget, o educador é apenas um facilitador das experiências
sensoriais da criança, e por isso não deve lhe passar nenhum conteúdo. Ele não
é considerado como o portador do conhecimento, mas apenas um mediador.
Eis o primeiro e grave problema. Uma
criança não possui a capacidade de inferir sobre as informações oriundas de
suas experiências sensoriais. Pois não há inferência (operação
intelectual por meio da qual se afirma a verdade de uma proposição em
decorrência de sua ligação com outras já reconhecidas como verdadeiras) sem premissas
(verdades absolutas universais). Esta é uma regra básica da lógica. No
entanto, o construtivismo preconiza que não há verdades absolutas, mas
apenas a “verdade” que a criança constrói através de sua experiência
individual. Portanto, cada criança possui a sua “verdade”. Como podemos ver, o construtivismo
tira da criança as bases e diretrizes cruciais e necessárias para seu
raciocínio.
O relativismo moral que dele emana não é
apenas sintomático, mas também automático. Sem absolutos, não há certo e
errado, tampouco moral e imoral. Tudo depende da experiência da criança. Se eu
digo para uma criança que colocar a mão na tomada é errado, pois certamente
sentirá em seu corpo uma descarga elétrica com sério risco de danos, minha
atitude é considerada um conteúdo. Ou seja, não devo dizer a ela o que
deve ou não fazer, mas apenas prover meios para que tenha sua própria
experiência e sinta, por ela mesma, a descarga elétrica que eu, no intento de
protegê-la, tentei evitar. O que, para um construtivista, é uma
conduta... errada. Percebem a incoerência no ar? É errado dizer que existe algo
errado. Insanidade nua e crua. Sei que este exemplo da mão na tomada
pode ser considerado extremista. Mas elucida de forma satisfatória o caráter da
pedagogia construtivista.
Como professor de alunos na faixa etária de
10 a 18 anos, percebo, juntamente com muitos outros professores, a dificuldade
de abstração e de raciocínio lógico que eles enfrentam. A segunda dificuldade,
sobretudo, é decorrente de não serem familiarizados com verdades absolutas. Não
há pensamento subjetivo (abstrato) sem padrões (objetivo) que fundamentem tal
atividade. O construtivismo anula a ideia de padrões e diretrizes, pois eles
são fundamentados em... absolutos. Eis a contradição piagetiana: a afirmação de
que não há absolutos. Ela não é, para Piaget e seus prosélitos, algo...
absoluto?
Se não, então não deve ser
considerada.
Sei que alguns esbravejarão: “Esta é a
nossa verdade”. Sendo assim, tal sentença é absoluta para vocês, mesmo que seja
um absoluto particular. Logo, existem absolutos, ainda que sejam individuais.
Tal fato, por sua vez, é indício da existência de absolutos universais. Um
exemplo pertinente é o desejo do ser humano pelo conhecimento da verdade sobre
a sua realidade. A existência deste desejo é um absoluto universal que
pavimenta os particulares. Particular, no entanto, é diferente do relativismo
que o construtivismo, como ferramenta pedagógica, quer implantar: um
relativismo total, ou melhor, absoluto.
Imagine o seguinte diálogo:
Indivíduo 1 – “Tudo é relativo, absolutos
não existem.”.
Indivíduo 2 – “Você tem certeza disto?”.
Indivíduo 1 – “Absoluta.”.
Continua...
Continua...
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