sexta-feira, 6 de maio de 2016

Destruir para construir - Parte I


Matheus Viana

Há algumas observações a serem feitas sobre o modelo pedagógico teorizado por Jean Piaget (1896-1980), denominado construtivismo. Grosso modo, ele preconiza que a criança deve, por ela mesma, adquirir o conhecimento através de suas experiências sensoriais e, a partir delas, desenvolver e formar seu intelecto. Sabemos que uma criança, mesmo que dotada de capacidades cognitivas, não possui a capacidade, por conta de sua tenra idade, de construir e definir padrões de pensamento necessários para a obtenção do conhecimento de sua realidade e também para seu pleno desenvolvimento intelectual.

Observemos o ciclo da sabedoria: Recebemos informações através de nossos sentidos (incluindo as experiências sensoriais) e as processamos com o nosso intelecto a fim de que se transformem em conhecimento. Sabedoria, por sua vez, é a prática deste conhecimento. Algo, porém, que deve ser considerado é o modo como as informações são adquiridas e como se dá o processo de transformação em conhecimento. No construtivismo de Piaget, o educador é apenas um facilitador das experiências sensoriais da criança, e por isso não deve lhe passar nenhum conteúdo. Ele não é considerado como o portador do conhecimento, mas apenas um mediador.

Eis o primeiro e grave problema. Uma criança não possui a capacidade de inferir sobre as informações oriundas de suas experiências sensoriais. Pois não há inferência (operação intelectual por meio da qual se afirma a verdade de uma proposição em decorrência de sua ligação com outras já reconhecidas como verdadeiras) sem premissas (verdades absolutas universais). Esta é uma regra básica da lógica. No entanto, o construtivismo preconiza que não há verdades absolutas, mas apenas a “verdade” que a criança constrói através de sua experiência individual. Portanto, cada criança possui a sua “verdade”. Como podemos ver, o construtivismo tira da criança as bases e diretrizes cruciais e necessárias para seu raciocínio.

O relativismo moral que dele emana não é apenas sintomático, mas também automático. Sem absolutos, não há certo e errado, tampouco moral e imoral. Tudo depende da experiência da criança. Se eu digo para uma criança que colocar a mão na tomada é errado, pois certamente sentirá em seu corpo uma descarga elétrica com sério risco de danos, minha atitude é considerada um conteúdo. Ou seja, não devo dizer a ela o que deve ou não fazer, mas apenas prover meios para que tenha sua própria experiência e sinta, por ela mesma, a descarga elétrica que eu, no intento de protegê-la, tentei evitar. O que, para um construtivista, é uma conduta... errada. Percebem a incoerência no ar? É errado dizer que existe algo errado. Insanidade nua e crua. Sei que este exemplo da mão na tomada pode ser considerado extremista. Mas elucida de forma satisfatória o caráter da pedagogia construtivista.

Como professor de alunos na faixa etária de 10 a 18 anos, percebo, juntamente com muitos outros professores, a dificuldade de abstração e de raciocínio lógico que eles enfrentam. A segunda dificuldade, sobretudo, é decorrente de não serem familiarizados com verdades absolutas. Não há pensamento subjetivo (abstrato) sem padrões (objetivo) que fundamentem tal atividade. O construtivismo anula a ideia de padrões e diretrizes, pois eles são fundamentados em... absolutos. Eis a contradição piagetiana: a afirmação de que não há absolutos. Ela não é, para Piaget e seus prosélitos, algo... absoluto? 
Se não, então não deve ser considerada. 

Sei que alguns esbravejarão: “Esta é a nossa verdade”. Sendo assim, tal sentença é absoluta para vocês, mesmo que seja um absoluto particular. Logo, existem absolutos, ainda que sejam individuais. Tal fato, por sua vez, é indício da existência de absolutos universais. Um exemplo pertinente é o desejo do ser humano pelo conhecimento da verdade sobre a sua realidade. A existência deste desejo é um absoluto universal que pavimenta os particulares. Particular, no entanto, é diferente do relativismo que o construtivismo, como ferramenta pedagógica, quer implantar: um relativismo total, ou melhor, absoluto.

Imagine o seguinte diálogo:

Indivíduo 1 – “Tudo é relativo, absolutos não existem.”.
Indivíduo 2 – “Você tem certeza disto?”.
Indivíduo 1 – “Absoluta.”.

Continua...

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