Matheus Viana
Manassés
também “Reconstruiu os altares idólatras
que seu pai, Ezequias, havia demolido...”. Basta lermos o livro de Atos ou
estudarmos a História da Igreja para ver como ela agiu em seus primórdios, a
fim de detectarmos a abismal distância a qual nos encontramos. Basta visitar o facebook para ver os altares da
egolatria erguidos em meio à cristandade
pós-moderna. E os “artistas gospel”?
E os empresários da fé, ministros que
fazem do chamado divino uma oportunidade para comercializá-lo? Tornam-se “astros do púlpito”, com venda de ingressos antecipados e tudo.
Outro
altar é o da doxolatria (adoração à
doutrina). Vemos um notável levante de defensores de certas doutrinas que usam
– e abusam – dos meios tecnológicos e sociais para difundirem os preceitos da
doutrina da qual são devotos, e não do Evangelho (legado de Jesus Cristo). O
número de denominações divididas por conta do acirramento, por exemplo, entre calvinistas e arminianos é preocupante. No ímpeto
pela ortodoxia, a doutrina,
independente qual seja, tem ocupado a supremacia do próprio Cristo no coração
de muitos. Altar que deve ser derrubado.
Manassés
também edificou altares a Baal e um poste sagrado – também conhecido como poste-ídolo – para Aserá, deusa cananeia
da fertilidade, também chamada de Astarote. Os cultos a este ídolo eram
realizados com orgias, onde as sacerdotisas tinham relações sexuais com os que
a cultuavam (Cf. Levítico 25:1-18). Em outras palavras, era um culto à
imoralidade sexual. A Palavra utilizada pelos escritores do Novo Testamento,
traduzida por imoralidade sexual e
também por adultério, é pornéia, de onde se deriva a expressão pornografia. Pornografia, na verdade, é a descrição de qualquer tipo de
sexualidade ilícita. A ela, o escritor Marquês de Sade (1749-1814) dedicou sua
vida e, com isso, colaborou de forma significativa com a degradação da cultura
ocidental. Quando deixamos que a imoralidade sexual nos domine, independente da
forma em que ela se manifesta em nós, estamos cultuando Astarote. Ou seja,
erguendo um altar a ela em nosso coração, que é o Templo do Espírito Santo (I
Coríntios 6:19).
Além
de tudo isso, Manassés realizou um equívoco significativo: “Construiu altares no templo do SENHOR, do qual este havia dito: ‘Em
Jerusalém porei o meu nome.’” (II Reis 21:4). Deus estabeleceu este decreto
aos hebreus, antes de entrarem em Canaã, como parte de Sua ética a eles:
“Estes são os
decretos e ordenanças que vocês devem ter o cuidado de cumprir enquanto viverem
na terra que o SENHOR, o Deus de seus antepassados, deu a vocês como herança.
Destruam completamente todos os lugares nos quais as nações que vocês estão
desalojando adoram os seus deuses, tanto nos altos montes como nas colinas e à
sombra de toda árvore frondosa. Derrubem os seus altares, esmigalhem as suas
colunas sagradas e queimem os seus postes sagrados; despedacem os ídolos dos
deuses e eliminem os nomes deles daqueles lugares. Vocês, porém, não adorarão
ao SENHOR, o seu Deus, como eles adoram os seus deuses. Mas procurarão o lugar
que o SENHOR, o seu Deus, escolher dentre as tribos para ali por o seu Nome e a
sua habitação.”
(Deuteronômio 12:1-4).
Quando
Davi expressa a Deus seu desejo de construir um lugar para Sua habitação em
meio ao Seu povo, Deus lhe disse através do profeta Natã: “Será ele (Salomão) quem construirá
um templo em meu nome.” (II Samuel 7:13). E este templo foi construído em
Jerusalém. O decreto descrito em Deuteronômio teve como base os Dez
mandamentos, que foram o reestabelecimento – não em seu caráter pleno – do culto racional do homem a Deus, seu
Criador, onde Ele deveria ser adorado única e exclusivamente (Êxodo 20:1-11). Consequentemente,
tal devoção seria a base para a vida em comunidade (Êxodo 20:12-17). Assim,
vemos que a devoção que Deus espera que ofereçamos a Ele seja exclusiva, santa
(kadesh, consagrada/sem mistura).
Pois é esta a expressão que deveria ser gravada no diadema do sacerdote (Êxodo
28:36): Santidade ou Consagrado (Kadesh) ao Senhor (Adonai).
Por O nome de Deus significa
que o objeto que O leva pertence a Ele. Manassés usou, indevidamente, algo que
não lhe pertencia de modo que desagradou profundamente O proprietário.
Refletindo sobre isso, não há como não evocarmos o episódio quando Jesus chega
ao templo de Jerusalém e encontra cambistas. As palavras de Jesus emitem uma
severa mensagem: “Não está escrito: ‘A
minha casa será chamada casa de oração para todos os povos? Mas vocês fizeram
dela um covil de ladrões.’” (Evangelho segundo Marcos 11:17). A ira de
Jesus, resultado de uma profunda indignação – que não anulou o exercício de Sua
razão -, paira sobre Sua Igreja. Manassés construiu altares aos deuses pagãos,
assim como os homens dos tempos de Jesus construíram altares à egolatria, assim
como muitos nos dias atuais.
Jesus
subiu a Jerusalém por estar próximo da Páscoa.
Ocasião propícia para os judeus devotos realizarem os sacrifícios ordenados por
Moisés. Por estarem debaixo do jugo romano, muitos tiveram que usar seus
animais como pagamentos de tributos ao imperador. Por isso, tinham que comprar o
animal a ser sacrificado conforme a Lei ordenava. Ao entrar no templo, Jesus
encontrou um verdadeiro comércio do culto.
Embora usem métodos diferentes, os mercadores
da fé agem à semelhança dos que Jesus expulsou (Evangelho
segundo Marcos 11:15-16).
Ele não tolerou, assim como
não podemos tolerar, a comercialização da fé através da teologia da prosperidade, do mercado
gospel e da grande variedade de visões
e estratégias que utilizam
métodos corporativos para fazer da Igreja um mecanismo lucrativo. Tanto é que
muitos já não se indignam ao ouvir o chavão: Igreja é empresa. Não. Segundo
Jesus, o líder supremo da Igreja, Ela é a Casa de Oração. Ou seja, lugar onde
Ele – somente Ele – é cultuado. Não é mais um lugar geográfico nem físico. Mas
a comunidade dos regenerados que O adoram em espírito e em verdade (Evangelho
segundo João 4:23), onde Ele habita e através de quem governará sobre a terra
(Efésios 2:22, Evangelho segundo Mateus 16:18).
Continua...
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