Matheus Viana
A
expressão Catequese vem do latim catechesis que, por sua vez,
originou-se da expressão grega catéquesis, também derivada do verbo catequéu que significa instruir
a viva voz. A expressão normalmente usada para ensino ou instrução no
novo testamento bíblico é didaskalian, que aparece, por
exemplo, em II Timóteo 3:16. Portanto, podemos concluir que catequese é uma forma de
ensino/instrução.
Deus
estabeleceu este método no início da criação quando orientou o ser humano no
tocante ao mandato
cultural (Gênesis 1:28-29, 2:16-17).
Ao chamar Abraão, outra vez utilizou-se dele (Gênesis 12:1-3). Com Moisés não
foi diferente (Êxodo 3:1-22). Por isso Jesus começou Seu ministério
utilizando-o (Evangelho segundo Mateus 5:1). Os apóstolos, a exemplo do Mestre,
também o utilizaram, bem como os pais da Igreja e os reformadores.
É
importante analisarmos a primeira catequese
de Deus ao ser humano (Gênesis 1:28-29), pois, de certa forma, ela permanece
vigente. Os dois primeiros elementos nela contidos são fertilidade e governo/domínio.
Não existe governo sem fertilidade. Explico. Esta fertilidade era no tocante à
multiplicação da espécie humana. Desejo que, sob o preceito da Nova Aliança,
foi elucidado pelo apóstolo Paulo (Romanos 8:29).
A
catequese de Jesus a Pedro foi de que
a Igreja prevaleceria sobre o mal, chamado na ocasião de “portas do inferno”, mas tal fato era consequência de permanecer em
Jesus Cristo, a Pedra angular (Evangelho segundo Mateus 16:18-19, Efésios
2:20-21). A Igreja de Jesus é composta por aqueles que, por serem regenerados
pelo Espírito Santo, O seguem de todo
coração, de toda alma, de todo intelecto e com todas as forças. Abraham
Kuyper (1837-1920), reconstrucionista cristão holandês, definiu: “... a Igreja, em sua essência, é um
organismo espiritual, incluindo céu e terra, mas na atualidade tendo seu centro
e o ponto de partida para sua ação, não sobre a terra, mas no céu.”[1]
Aqui
é importante evocarmos a dialética platônica a fim de compreendermos o caráter
da Igreja. Platão dizia que tudo o que existe na natureza, que ele chamou de mundo sensitivo, era a representação do
que existia na realidade espiritual, que chamou de mundo inteligível/das ideias ou das
formas. Assim, a Igreja terrena é – em sua essência e, consequentemente,
seu caráter – reflexo da Igreja invisível e espiritual. Pelo menos deveria
ser...
Esta
transcendência, no entanto, não a torna inoperante. O próprio Kuyper afirmou: “A Igreja verdadeira, celestial, invisível
deve manifestar-se na Igreja terrena. Se não, vocês terão uma sociedade, mas
não uma Igreja. Então, a verdadeira essência e é continua sendo o corpo de
Cristo, do qual as pessoas regeneradas são membros.”[2]
O
mandato cultural de Deus ao primeiro
ser humano permanece sobre Sua Igreja. No entanto, ela é o Corpo de Cristo. Sendo assim, Sua essência é o próprio Cristo. É ela
que deve determinar Sua ação na terra. Em outras palavras, multiplicar, de modo
a ampliar, o governo de Jesus sobre a terra (Evangelho segundo Mateus 28:18-19).
Por isso Jesus usou a seguinte metáfora: “Permaneçam
em mim, e eu permanecerei em vocês. Nenhum ramo pode dar fruto por si mesmo, se
não permanecer na videira. Eu sou a videira e vocês são os ramos. Se alguém
permanecer em mim e eu nele, esse dará muito fruto; pois sem mim nada podeis
fazer.” (Evangelho segundo João 15:4-5). Mas, conforme temos visto, a
Igreja visível não tem sido fértil ou
frutífera como Deus espera. O motivo?
Não permanecer em Jesus.
Não
há como manifestar Sua essência - a vida e o legado do próprio Jesus - sem
permanecer Nele. E este permanecer é
viver fundamentado em Sua Palavra, pois Ele é a Logos de Deus (Evangelho segundo João 1:1, 5:39). Neste quesito,
não há como não evocar um dos princípios fundamentais da reforma protestante,
tão negligenciado nos dias atuais: sola
scriptura.
O
Evangelho pleno tem sido substituído
por simulacros como teorias motivacionais, auto-ajuda, apelos emocionais e a
tão famigerada teologia da prosperidade.
Claro que não podemos deixar de citar o movimento
gospel. Pois tais coisas são cruciais para encher os templos e fazer com
que demoninações tornem-se cada vez mais rentáveis. Prega-se de tudo, de José a
Davi entre outros personagens bíblicos, tanto do antigo como do novo
testamentos, usados como exemplos motivacionais. Mas Jesus Cristo tornou-se
apenas um pano de fundo. Assim, vemos que a Igreja não experimenta uma
verdadeira multiplicação de pessoas que vivam conforme à imagem de Cristo de
modo a estabelecer Seu governo sobre a terra. Mas apenas um inchaço de pessoas
que buscam o bem-estar pessoal e que, por isso, satisfazem-se com qualquer
proposta que venha as acalentar.
Como
professor, vejo “ao vivo e a cores” a
influência do evangelho do entretenimento
na vida de alguns dos meus alunos. Cultos de jovens têm se transformado em
verdadeiras baladas gospel. Não há
comprometimento com a Palavra. Não há responsabilidade. Apenas curtição.
“Melhor curtirem uma balada dentro da igreja do que no mundo”. Acredite, já
ouvi argumentos semelhantes a este. Conheço até uma música, cujo refrão
diz: “Hoje
minha balada mudou. Vai ter ‘rede’ e é pra lá que eu vou.”.
Sim, isto
está muito, muito longe do culto racional
descrito, com detalhes, na Palavra de Deus. Pois as necessidades juvenis, as mesmas “paixões da mocidade” as quais o apóstolo Paulo adverte seu jovem
discípulo Timóteo a renunciar (II Timóteo 2:22) têm sido a primazia e objeto
de culto. O mesmo apóstolo declarou: “Onde
o Espírito é o Senhor, e onde está o Espírito do Senhor, ali há liberdade.”
(II Coríntios 3:17). O mesmo princípio, infelizmente, aplica-se em nossa triste
realidade: “Onde a libertinagem, resultado do aflorar das paixões carnais, é o
Senhor, ela tem liberdade.”. Nadar contra esta maré é loucura chamada de radicalismo. Eis aqui um louco convicto.
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