Matheus Viana
Um
culto a Deus diferente, bem distante do comum. Não aconteceu no templo de uma
denominação eclesiástica. Tampouco em uma campanha de milagres ao ar livre.
Aconteceu na residência dos meus pais.
Domingo,
17/05/2015, por volta das 19:30hs. Os presentes eram ao todo seis pessoas. Três
delas em uma situação, digamos, “especial”: eu, portador de uma severa
deformidade óssea instalada na coluna vertebral e no tórax que compromete
órgãos vitais como pulmão e coração; meu tio José Reis, de 53 anos, vítima de alguns
acidentes vasculares cerebrais (AVC) que comprometeram suas funções motoras e
minha mãe, 54 anos, que estava, na ocasião, com alguns linfomas em seu sistema linfático.
Não
houve tempo para reclamações, queixas, lamúrias ou qualquer outra coisa do
gênero. Uma linguagem simples de fé que resultou em palavras de gratidão a
Deus. Não, não foi uma fé triunfalista de que o “verdadeiro crente” não passa
por lutas, de que todas elas são obras
do maligno e, por isso, Deus tem o “poder”, que na oração de muitos torna-se
obrigação, de curar toda sorte de mal.
O
que os presentes ouviram foram expressões de adoração a Deus. Uma adoração que
não mede circunstâncias. Além de falarmos um pouco de nossos casos, que do
ponto de vista natural são graves com chances de óbito, falamos de vários casos
de cristãos que, no exercício do cristianismo, são sucumbidos por sérias
enfermidades.
Seria
Deus incompetente ou maldoso em deixar que Seus filhos adoeçam? Claro que não. Estamos
em um mundo acometido pelo mal oriundo do mau uso do Livre-arbítrio concedido
ao ser humano por Deus, conforme Agostinho elucidou fazendo uso dos
ensinamentos de Paulo acerca do pecado. As Escrituras nunca prometeram que não
passaríamos por provações entre outras situações de desalento. Muito pelo
contrário. O próprio Jesus advertiu de que teríamos aflições (Evangelho segundo
João 16:33) e Tiago elucida sobre a alegria de passarmos por provações (Tiago
1:2-3)
Paulo,
um dos principais propagadores do cristianismo, afirmou em sua carta aos
filipenses que seus constantes sofrimentos foram instrumentos para a
proclamação do Evangelho de Cristo (Filipenses 1:12). Devemos lembrar também do
cego que Jesus viu, o que levou Seus discípulos a Lhe perguntarem: “’Mestre, quem pecou: este homem ou seus
pais, para que nascesse cego?’ Jesus respondeu: ‘Nem ele nem seus pais pecaram,
mas isto aconteceu para que a obra de Deus se manifestasse na vida dele.’”
(Evangelho segundo João 9:3).
Óbvio
que não estou dizendo que a verdadeira espiritualidade é demonstrada apenas através
do sofrimento, seja ele oriundo de perseguições ou de enfermidades. Não é
necessário o cristão sofrer para demonstrar que ama e serve a Deus de todo seu
coração, de toda alma e com todo seu entendimento. Tal discurso deve ser rechaçado.
Contudo, outro que também deve ser é o atualmente disseminado à exaustão de que
“crente não fica doente, pois se ficar é obra da serpente.”. Enfermidades e
qualquer outro tipo de mal não são indícios da ausência de Deus, tampouco de
uma demonstração do poder de Satanás. É preciso acabar com este maniqueísmo que
deturpa a soberania de Deus e dá à luz heresias como teologia da prosperidade e da confissão
positiva.
Paulo,
de acordo com muitos teólogos, ao falar sobre o “espinho na carne, o esbofeteador de Satanás” (II Coríntios 12:7) –
onde é evidente no texto que tal fato ocorreu com a permissão de Deus a fim de
que não se tornasse orgulhoso - estava se referindo a um problema de saúde ao
qual sofria. Ele, escrevendo a Timóteo, recomenda-lhe: “Não continue a beber somente água; tome também um pouco de vinho, por
causa de seu estômago e de suas
frequentes enfermidades.” (I Timóteo 5:23 – Ênfase acrescentada).
Timóteo era um jovem e dedicado presbítero cristão, porém, era enfermo. Não há
indícios nas Escrituras de que ele tenha sido curado. Mas há de seus serviços
em prol do Evangelho.
Fala-se
muito sobre a Igreja Gloriosa (Efésios
5:27). Mas, em meio a tal clamor, não podemos esquecer de que Ela é composta
por pessoas que O adoram em espírito e em
verdade (Evangelho segundo João 4:24) e em toda e qualquer circunstância
(Habacuque 3:17-18, Filipenses 4:12-13). É impossível não se lembrar do
episódio de Paulo e Silas em Filipos (Atos 16:6-38). Após orarem para que
um espírito imundo libertasse uma jovem escrava que praticava adivinhações,
foram convidados pelos senhores da jovem a passarem a noite em um hotel cinco
estrelas. Antes, porém, participaram de uma sessão de massagens dorsais. Não
foi isso? Não, não foi. Ambos foram açoitados (39 chicotadas nas costas, cujos
chicotes eram feitos de couro animal e de dentes de animais que dilaceravam a
pele açoitada) e depois jogados em uma prisão.
Com
feridas abertas nas costas e mãos e pés atados em correntes, ambos adoravam a
Deus (Atos 16:25). Esta é a adoração peculiar da Igreja Gloriosa. Estes eram os sofrimentos que Paulo, ao escrever
sua carta aos cristãos em Filipos, relata que eram instrumentos da propagação
do Evangelho. Eusébio de Cesareia, historiador cristão do quarto século, disse
em seu livro História Eclesiástica que
o Édito de Milão, promulgado pelo imperador romano Constantino que colocou fim
à perseguição aos cristãos; bem como o primeiro Concílio da Igreja – Niceia, em
325 - foram acontecimentos gloriosos. Pois foi possível ver a reunião de vários
cristãos mutilados em nome da fé adorando Jesus, a quem serviam.
Não
podemos nos esquecer do leproso que se aproximou de Jesus e, vendo-Lhe, O
adorou (Evangelho segundo Mateus 8:2). Este leproso reconheceu o Senhorio de
Cristo a tal ponto que Lhe rendeu o verdadeiro culto racional: “Senhor, se quiseres, podes purificar-me!”.
(Evangelho segundo Mateus 8:3). Ele demonstrou o culto racional que deve
acontecer e que acontecerá, onde Jesus é o soberano alvo de adoração, e
consequentemente Sua vontade tem a total primazia (Apocalipse 5:12-14).
Algo
completamente destoante da teologia da
prosperidade que ensina, ignorando alguns textos bíblicos como Mateus 6:10
e deturpando outros como João 17:21, Filipenses 4:13 e Tiago 4:3, por exemplo;
transforma Deus em servo. Já ouvi, infelizmente, vários pregadores dizendo que,
por causa do sacrifício de Cristo, temos o direito
de exigir de Deus todas as bênçãos celestiais que estão ao nosso dispor.
Isso mesmo, a vontade do ser humano tem a primazia em relação à vontade de
Deus. Uma completa inversão de valores. Ou seja, precisamos de uma genuína e
completa conversão.
Leia também: Um leproso
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSó fera nessa reunião! Leandri
ResponderExcluirSó os alvos da misericórdia de Deus, Leandrão.
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