Matheus Viana
“Se alguém não
cuida de seus parentes, e especialmente dos de sua própria família, negou a fé
e é pior que um incrédulo.” (I Timóteo 5:8).
Esta
foi uma advertência fundamental e norteadora para o ministério de Timóteo proferida
pelo apóstolo Paulo. Mas ela, atualmente, não tem sido devidamente observada.
Por isso muitas famílias são “sacrificadas em prol do Reino de Deus”. Contudo, pensemos:
É sensato dizer que o Reino de Deus
veio “sacrificar” algo tão precioso para o próprio Deus? Claro que não. Tal filosofia
é apenas mais uma das várias distorções que o Evangelho tem sofrido. E como tem
sofrido...
O
valor da família vem sendo sucumbido em detrimento do “êxito ministerial” (leia-se
crescimento numérico), principalmente nos sistemas eclesiásticos que enfatizam
a “conversão dos incrédulos” em detrimento da proclamação do Evangelho. Embora afirmem: “família é a célula
principal”, a realidade é bem distante de tal verdade. Contudo, conforme o
apóstolo Paulo exorta, não adianta uma pessoa se esforçar por arrebanhar uma “multidão
de convertidos” (algo possível somente pela obra do Espírito Santo através da proclamação
do verdadeiro Evangelho, e não do “sucesso” de estratégias de evangelismo, importante
enfatizar este ponto) e deixar perecer sua família.
Não
adianta um homem estar à frente de um ministério pastoral e não exercer o
sacerdócio no lar. Lembrando que um dos principais atributos de um líder na
casa de Deus (pastor, bispo, presbíteros e diáconos) é “governar bem sua própria família.” (I Timóteo 3:4). Pois de que
adianta você ser um “bom pastor” e seu cônjuge carecer de necessidades básicas
como carinho, atenção e afeto? Nada!
Não
podemos, segundo a Bíblia, afirmar que um ministério deste caráter é uma
expressão do “Reino de Deus”. O Reino de
Deus (genuíno) abarca a família. Conforme bradou Josué: “Eu e a minha casa serviremos ao Senhor.” (Josué 24:15). Neste mesmo
mote, o apóstolo Paulo declarou ao proclamar o Evangelho ao carcereiro: “Creia no Senhor Jesus e serão salvos você e
os de sua casa.” (Atos 16:32).
Pastores
que se prezem não podem permitir que líderes de suas congregações estejam
liderando ministérios enquanto seus familiares padecem em alguma área de suas
vidas. Pois qual a autoridade destes líderes em serem ministros de Deus para famílias
se eles não têm exercido o sacerdócio em seus próprios lares (tanto na questão
conjugal como nas questões de paternidade e de filiação)? Onde fica o ideal: “família,
célula principal? Apenas como objeto de decoração em uma das paredes de seus
respectivos templos. Esta é a questão que Paulo trata com Timóteo: não é
possível ser um sacerdote na igreja
sem antes ser um sacerdote no lar.
Outra
coisa que deve ser observada é que ministério
não é “lugar de refúgio” para pessoas que enfrentam problemas em suas
famílias. Ministério não isenta o indivíduo
de seus deveres como sacerdote de seu lar. No âmbito do Reino de Deus, não existe êxito ministerial dissociado de êxito
familiar. E sabemos bem que não existe família
perfeita. Todos nós temos problemas, pois somos indivíduos imperfeitos. Por
isso Deus, baseado no pleno e perfeito sacerdócio de Jesus Cristo, instituiu o
marido como sacerdote do lar. Baseado em tal atributo, o apóstolo Paulo
preconiza: “Mulheres, sujeite-se cada uma
a seu marido, como ao Senhor, pois o marido é o cabeça da mulher, como também
Cristo é o cabeça da igreja, que é o seu corpo, do qual Ele é o Salvador. (...)
Maridos, ame cada um a sua mulher, assim como Cristo amou a igreja e se
entregou por ela.” (Efésios 5:22-25).
O
êxito de Jesus, demonstrado em Seu bradar: “Está
consumado.” (Evangelho segundo João 19:30) se deu em virtude de Sua entrega
plena à nós, Sua Igreja. O que isto significa? Que seremos verdadeiramente exitosos,
de acordo com a perspectiva divina, em nossos ministérios na medida em que
amarmos as nossas esposas da mesma forma que Cristo nos amou ao ponto de dar
sua vida por nós. Pois Seu modo de agir não é apenas o modelo, mas o alicerce
de nosso ministério. Qualquer “alicerce” diferente deste não é Evangelho.
Sendo
assim, qualquer devoção a um trabalho ministerial sem a devoção conjugal é vã
e, digo mais: está completamente separada do padrão do Reino de Deus, manifesto na entrega de Jesus Cristo por Sua amada
noiva chamada Igreja. Este é o grande mistério elucidado pelo apóstolo Paulo: “Este é um mistério profundo; refiro-me,
porém, a Cristo e à Igreja. Portanto, cada um de vocês também ame a sua mulher
como a si mesmo, e a mulher trate o marido com todo o respeito.” (Efésios
5:32-33).
Pastores,
ajam como tais e não permitam que pessoas se esforcem em seus respectivos
ministérios eclesiásticos sem exercerem, de maneira devida e bíblica, o
sacerdócio do lar! Estejam atentos às condições conjugais de seus membros
desprovidos de toda conveniência e ambição “evangelical” (leia-se, repito,
crescimento demográfico de suas congregações)!
Pois é sobre a família que
repousa a primeira profecia estabelecida sobre o patriarca (este sim, um legítimo)
Abraão: “Se tu uma benção. Abençoarei os
que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem. Em ti serão benditas
todas as FAMÍLIAS da terra.” (Gênesis 12:2-3, ênfase acrescentada). Sem famílias
restauradas não há manifestação do Reino
de Deus. Portanto, cuidemos bem das nossas! Pois elas são o nosso Supremo ministério.
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