Matheus Viana
Atualmente
muitos colocam os conceitos de Evangelho
simples e o de Evangelho irracional no
mesmo patamar. Pois afirmam que não podemos compreender a vontade de Deus. Mas
as Escrituras nos mostram, de forma clara, que são conceitos completamente
diferentes um do outro.
Em primeiro lugar, o Evangelho se torna simples por conta da ação do Espírito
Santo em nosso entendimento. Pois o próprio Jesus disse: “O Espírito Santo convencerá o homem do pecado, da justiça e do juízo.”
(Evangelho segundo João 16:8). É o Espírito Santo que “simplifica” o Evangelho
para nós por meio de Seu consolo (Evangelho segundo João 14:26). O apóstolo
Paulo testifica tal fato quando diz aos cristãos em Corinto: “Delas também falamos, não com palavras
ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito,
interpretando verdades espirituais para os que são espirituais.” (I Coríntios
2:13 - Ênfase acrescentada).
O
Evangelho é a pessoa de Jesus e Sua obra. Jesus é Deus (Evangelho segundo Lucas
14:9, Evangelho segundo João 1:14, Colossenses 1:15). E Deus não é algo simples
para a razão humana (I Coríntios 2:11). O Evangelho se torna simples na medida em que nos
relacionamos com Ele. Nos relacionamos com Ele na medida em que o buscamos.
Para O buscarmos precisamos crer que Ele existe (Hebreus 11:6). Para crer que
Ele existe devemos ter a consciência de Sua existência.
C.S
Lewis certa vez dissertou sobre a origem do pensamento humano. Ele disse que o
ato do pensamento é o produto de processos químicos e biológicos que ocorrem no
cérebro. E estes processos seguem leis. E leis existem com um propósito. Neste
caso, produzir o pensamento. Se o pensamento é pavimentado por um propósito é
porque alguém o estabeleceu. Pois se o pensamento é fruto de processos
aleatórios (leia-se “acaso evolucionista”), como podemos confiar em nossos
pensamentos?
A
questão é que Deus estabeleceu as leis, que determinam os processos que
acontecem em nosso cérebro (aspecto objetivo/tangível) e mente, (aspecto subjetivo/intangível)
para que possamos pensar. Por isso Ele indaga a Jó: “Quem foi que deu sabedoria ao coração e entendimento à mente?” (Jó
38:36). Conforme afirmei anteriormente, claramente esta indagação tinha como
intento que Jó soubesse que a resposta era Aquele que formulou tal
questionamento. Em decorrência disto, temos consciência da existência de Deus e
de nossa existência. Por isso Calvino afirmou: “O verdadeiro conhecimento do homem é totalmente dependente do
conhecimento de Deus.”.
O
intelecto coletivo atual é pautado pelo modo de pensar iluminista,
principalmente pela divisão kantiana de conhecimento.
Immanuel Kant, ao formular seu criticismo
no tocante à razão pura e à razão prática, divide o conhecimento em cognoscível e incognoscível. Conforme
vimos anteriormente, os fenômenos naturais (ocorrências que podem ser
compreendidas pela mente humana) são alvos de estudo através do método
científico de Francis Bacon. Já o que não pode ser compreendido pela mente
humana - e neste “pacote” ele colocou Deus e todas as coisas relacionadas a Ele
- foi descartado.
Não entenderemos o Evangelho e o propósito de Deus nele
contido apenas pelos esforços, por maiores que sejam, da mente humana (Romanos 12:2). E esta
era a dificuldade de Nicodemos em entender o novo nascimento que Jesus lhe falou. Por isso devemos submeter
nossa razão, e não anulá-la, à razão divina. Mas, para isso, devemos usar nossa
razão para nos conscientizarmos do fato de que o Evangelho possui um propósito. E se possui um propósito é porque
existe um Ser inteligente (racional) que o estabeleceu. Logo, o Evangelho não é irracional. Mas tem sua
própria racionalidade, a qual chamo de racionalidade
divina que nos é relevada pelo Seu Espírito através de Suas Escrituras. Portanto, repito: Evangelho simples não é Evangelho
irracional. Irracional é quem diz que o contrário.
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