Matheus Viana
Influência é algo prioritário
para muitos. Por isso o sentido de suas vidas está intimamente ligado com o
número de pessoas que influenciam. Assim, acreditam que tal fato lhes dá credibilidade e autoridade
para fazerem, em alguns casos, as coisas mais bizarras e difundirem as ideias
mais ilógicas que podemos imaginar. Nutrem um ufanismo travestido de “responsabilidade”
e também de “guardião da coerência e do bom senso”. Não classificam
suas ações apenas como importantes, mas como fundamentais.
O
conceito de influência exercido e
difundido atualmente, no entanto, é completamente diferente do encontrado nas
Escrituras. Óbvio que não tenho a pretensão de emitir o significado pleno da
expressão, tampouco esgotar a extensa reflexão que o tema exige. Mas basta
analisarmos alguns trechos das Escrituras, analisando todo seu contexto e não
de forma isolada, para vermos que tal fato é evidente.
O
apóstolo Paulo advertiu os cristãos da cidade de Corinto: “Sede meus imitadores como eu sou de Cristo.” (I Coríntios 11:1). Aquela
era uma Igreja problemática. Em sua carta, lemos Paulo fazendo severas
exortações de ordem moral, social e espiritual. É notório que não estava
preocupado em “arrebanhar uma multidão” de prosélitos, mas formar pessoas que,
seguindo seu exemplo, imitassem a Cristo.
Tal
imitar, por sua vez, não consiste,
conforme afirmei em outras ocasiões, apenas em repetir movimentos meramente
mecânicos. Mas em atitudes resultantes de pensarem e sentirem como Cristo. Por
isso elucida tal fato em sua carta aos cristãos de Filipos: “Tede em vós a mesma atitude que houve em
Cristo Jesus.” (Filipenses 2:5). Sendo assim, a influência que Paulo exerceu
e buscou alcançar não consistiu na uniformidade de rígidos métodos religiosos -
vide o concílio de Jerusalém - e eclesiásticos que, infelizmente, são comuns em
muitas denominações evangélicas.
O
conhecido clamor popular não quer calar: “Somos milhares de evangélicos, mas a sociedade
não muda.”. Não se trata de afirmação sensacionalista nem de “fundamentalismo
profético”, como alguns me acusam. E sim mera constatação de fatos. O livro Nossa cultura... ou o que restou dela,
de Theodore Dalrymple, fala da degradação cultural do ocidente resultante do abandono
dos valores contidos na moral judaico-cristã. O livro Calvinismo, de Abraham Kuyper, fala da superior diferença no
desenvolvimento que se viu nos séculos XVII e XVIII nas nações protestantes em
relação às outras. Desnecessário entrar nos pormenores de A ética protestante e o espírito do capitalismo de Max Weber.
Contudo, esta realidade ruiu. Pois, conforme Dalrymple diagnosticou, a
sociedade ocidental, que se julga “laica”, se distanciou do cristianismo.
Por sua vez, o próprio cristianismo se distanciou de sua essência.
Este
afastamento tem se tornado cada vez mais evidente desde o surgimento do
movimento neo-pentecostal, onde o Evangelho foi substituído por estratégias de
marketing sob o pretexto do “evangelismo de massa”. A ênfase deixou de ser a
pregação e prática do Evangelho para ser a “conversão dos incrédulos”. Ou seja, as conversões não são mais
o efeito da propagação do Evangelho,
mas a causa. Isso em decorrência de
deixarem de atribuir a verdadeira conversão à ação do Espírito Santo (Evangelho
segundo João 16:8) para atribuir ao “sucesso de suas estratégias
evangelísticas”. Com tal inversão de valores, o resultado foi a deturpação do
Evangelho para um apelo emotivo carregado de autoajuda do começo ao fim.
Multidão
e disseminação do Evangelho são compatíveis? Para responder tal questão,
algumas ponderações devem ser consideradas. Jesus, conforme fazia
costumeiramente, certa vez O pregou para uma grande multidão de ouvintes (Evangelho segundo João 6:22-25). Quando terminou Seu discurso, ouviu, de
pronto, os discípulos dizendo: “Dura é
essa palavra. Quem pode suportá-la?”. Mesmo assim, Ele não aliviou e
continuou ensinando o verdadeiro caráter de Seu Evangelho (Evangelho segundo
João 6:61-65). O resultado? “Daquela hora
em diante, muitos dos seus discípulos voltaram atrás e deixaram de segui-lo.”
(Vs. 66). Qual foi a atitude súbita de Jesus? “Jesus perguntou aos doze: “Vocês também não
querem ir?”.
Jesus
conhecia a plenitude do propósito do Pai, por ser Deus, que repousava sobre a
escolha que fizera dos doze discípulos, inclusive o que O haveria de trair
(Evangelho segundo João 6:70). Mas a mensagem que queria emitir é que o
Evangelho, em nenhuma ocasião, deve ser mudado ou deturpado. Nosso compromisso
deve ser em proclamá-lo na íntegra, custe o que custar. Mesmo que isso redunde
no abandono de todos aqueles que nos rodeiam. Jesus é tão enfático em relação a isso
que advertiu Seus discípulos: “Não pensem
que vim trazer paz a terra: não vim trazer paz, mas espada. Pois eu vim para
fazer que: ‘o homem fique contra seu pai, a filha contra a sua mãe, a nora
contra sua sogra; os inimigos do homem serão os de sua própria família.’”
(Evangelho segundo Mateus 10:34-26).
Jesus não estava pregando a
dissolução familiar, e sim esclarecendo que a imutabilidade do Evangelho
deve ser mantida a qualquer preço, mesmo que seja a causa de uma perseguição como
era comum no contexto judaico que, por exemplo, fundamentou a perseguição do
judaísmo aos cristãos no primeiro século da era cristã. Importante também notar
que o Evangelho de Jesus não veio “trazer
paz”. Posso ouvir o bradar contrariado de alguns: “Como assim?”. Jesus não
veio trazer a paz que o mundo oferece (Evangelho segundo João 14:27). Contudo,
a paz de Cristo, infelizmente, tem sido interpretada como conforto e também como uma contextualização evangélica que redunda
na maior aglutinação de pessoas que seja possível. Isto não é Evangelho...
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