Matheus Viana
Os
fariseus eram conhecidos como eruditos – além de observadores radicais e
praticantes do que conhecemos hoje como legalismo
- da Lei de Moisés. Por isso apreciavam participar de discussões no tocante
a ela. Nicodemos era um fariseu. Numa noite, foi fazer o que apreciava com um mestre
que ensinava a Lei e os profetas de
forma diferente. Mateus testifica sobre este Mestre ao relatar: “E
aconteceu que, concluindo Jesus este discurso (o sermão da montanha), a multidão se admirou da sua doutrina. Porquanto os ensinava como
tendo autoridade, e não como os escribas.” (Evangelho
segundo Mateus 7:28-29).
Nicodemos reconheceu Jesus como Mestre. Fato que evidencia Seu aspecto
intelectual. Por mais que muitos cristãos refutem, Jesus, como homem, era
munido de um intelecto notável (Evangelho segundo Lucas 2:45). João narra: “E havia
entre os fariseus um homem, chamado Nicodemos, príncipe dos judeus. Este foi
ter de noite com Jesus, e disse-lhe: Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de
Deus, porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com
ele.” (Evangelho segundo João 3:1-2).
Nicodemos não reconheceu apenas a inteligência e erudição de Jesus, mas também
a ação sobrenatural de Deus em Sua vida. Pois a sabedoria de Jesus, expressa em
Seus sermões, era demonstrada, de forma prática, através de Seus sinais e
milagres. Foi exatamente este o caráter que o apóstolo Paulo, durante seu
ministério, evidenciou em sua carta aos coríntios: “Minha pregação não consistiu em linguagem persuasiva de sabedoria humana, mas em
demonstração de Espírito e poder.” (I Coríntios 2:4-5). Diferente do que
muitos cristãos professam e ensinam, principalmente nos círculos pentecostais e
neopentecostais, a “demonstração de
poder” não anula o discurso oral de sabedoria. Tal fato é claro quando
analisamos as atitudes de Jesus e dos apóstolos nas Sagradas Escrituras.
Conforme vemos no evento de Pentecostes e
também no ensino de Paulo sobre os dons do Espírito, por exemplo, a ação do
Espírito deve ser algo acessível ao entendimento das pessoas, por isso deve ser
pautada, seja antes ou depois, em um ensino oral fundamentado na “doutrina dos apóstolos e dos profetas,
tendo Jesus como a Pedra Angular.” (Efésios 2:20-21). Por isso, elucidando
sobre a pessoa de Jesus, Paulo diz: “Jesus
é a sabedoria (gnose) e o poder
(dunamis) de Deus.” (I Coríntios
1:24). Um atributo não pode ser destituído do outro.
O
foco do diálogo foi o novo nascimento.
O apóstolo Paulo elucida sobre ele: “Aquele
que está em Cristo, nova criatura é. As coisas velhas passaram, eis que tudo se
fez novo.” (II Coríntios 5:17). Vemos aqui que os elementos novo nascimento e novidade de vida são indissociáveis. Assim, o produto de um
verdadeiro novo nascimento é a
mudança total em nossa maneira de pensar, sentir e agir. Tal fato nos remete ao
arrependimento.
Agimos de acordo
com conceitos que formulamos como frutos de nossas
experiências racionais e empíricas. E isto também inclui a experiência religiosa. Portanto, não há novo nascimento sem mudança de
mente. O primeiro atributo que foi corrompido no ser humano foi sua forma de
pensar. O apóstolo Paulo elucida tal fato: "O deus deste século cegou o entendimento das pessoas para não lhes resplandecer a luz do Evangelho." (II Coríntios 4:4). Eva ouviu uma proposta diferente da que Deus havia feito e isso a levou
a desejar o ilícito. O desejo, entretanto, foi o efeito de uma causa primária:
ouvir a proposta da serpente e pavimentar seu raciocínio nela. Por isso o
apóstolo Paulo adverte: “O que receio, e
quero evitar, é que assim como a serpente enganou Eva com astúcia, a mente de
vocês seja corrompida e se desvie da sincera e pura devoção a Cristo.” (II Coríntios
11:3).
A
mente de Nicodemos teria que ser mudada. Pois assim ele entenderia o novo nascimento e se submeteria a ele.
Vemos aqui que Jesus lhe apresenta o culto
racional. Pois ao propor o novo
nascimento, Jesus fala da necessidade que ele tem de mudar de mente, ou
seja, de se arrepender. O pecado afasta o homem de Deus e consequentemente de
Seu Reino. Nicodemos conhecia a Escritura que foi estabelecida por meio do
profeta Isaías: “Mas as suas iniquidades
fazem separação entre vós e o vosso Deus, as suas transgressões esconderam de
vocês o rosto dele.” (Isaías 59:2).
Nicodemos
não poderia experimentar o novo
nascimento se sua mente não fosse transformada. Por isso indaga a Jesus: “Como pode um homem nascer,
sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?” (Evangelho segundo João 3:4). Sua razão humana
teria que se submeter à razão divina. E esta submissão consiste em pensar
segundo ela.
Continua...
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