Matheus
Viana
Ao
orientar os cristãos em Roma sobre o culto
racional (Romanos 12:1), o apóstolo Paulo, como um judeu erudito, tinha em
mente a Lei sobre a edificação do altar que Deus estabeleceu aos hebreus através
de Moisés.
Há
nela um importante princípio que deve ser aplicado ao nosso culto racional, mas que não tem sido
devidamente observado. Deus disse ao povo: “Se me fizerem um altar de pedras, não o
façam com pedras lavradas, porque o uso de ferramentas o profanaria.”
(Êxodo 20:25).
A
expressão pedras refere-se a dois
aspectos. O primeiro é o alicerce da Igreja do Senhor na terra e,
consequentemente, de Sua sã doutrina. Por isso Paulo adverte aos cristãos em
Éfeso: “No fundamento dos apóstolos e
profetas, tendo Jesus como a Pedra Angular.” (Efésios 2:20-21).
Esta
pedra não pode ser lavrada. A mensagem do Evangelho não
pode ser adulterada, tampouco moldada aos métodos corporativos, de marketing, de
autoajuda ou de qualquer outro atributo meramente humano. Não pode ser conformada com estratégias eclesiásticas
elaboradas por qualquer líder que seja. Deve permanecer como é naturalmente: conforme
Deus estabeleceu por meio de seus santos profetas e apóstolos. Pois os profetas
apontaram até Cristo e os apóstolos disseminaram o Soberano Legado dAquele que
é a Pedra Angular. Nossa missão é
apenas perseverar nela de modo a praticá-la e disseminá-la.
O
segundo é a nossa vida. Somos o altar onde, lavados pelo sangue do
Sumo-sacerdote Jesus Cristo, devemos ser oferecidos como sacrifício, que foi
elucidado por Ele: “Aquele que quiser me
seguir, negue-se a si mesmo, toma a tua cruz e siga-me.” (Evangelho segundo
Mateus 16:24). O apóstolo Pedro preconizou: “Vocês
também estão sendo utilizados como pedras vivas na edificação de uma casa
espiritual para serem sacerdócio santo, oferecendo sacrifícios espirituais
aceitáveis a Deus, por meio de Jesus Cristo.” (I Pedro 2:5).
Sendo
assim, nós também não podemos ser lavrados.
Nossos modos de pensar e agir não podem ser caracterizados, muito menos
condicionados por metodologias humanas. Pois não somos produtos de um sistema
eclesiástico ou evangelístico, seja ele qual for. Somos frutos do Soberano
Criador que fez os céus e a terra e o ser humano com um propósito glorioso. Somos
frutos de Sua Palavra, que por sua vez é fruto de Seu pensamento (Gênesis
1:26-27), e também de Sua ação (Gênesis 2:7).
Somos
pedras criadas pelo Supremo Criador,
por isso temos a forma que Ele esculpiu em nós. Sim, ela foi perdida com o
pecado, mas está sendo restaurada pela obra do Espírito Santo (II
Coríntios 3:18) através da Palavra (Evangelho segundo João 14:26). Sendo assim,
não podemos permitir que esta forma seja moldada com qualquer lavrar humano.
Outro
princípio contido na Lei de Moisés, que Paulo observa em seu ensino sobre o culto racional, é o acesso ao altar.
Deus disse ao povo: “Não
subam por degraus ao meu altar, para que nele não seja exposta a sua nudez.”
(Êxodo 20:26). Qual é a verdadeira intenção de nosso culto racional? Quem tem tido a evidência: Jesus, o objeto de culto, ou nós mesmos?
Algo
comum em muitos sistemas utilizados por algumas instituições para organização e crescimento
é a ênfase na liderança. As frases
mais comuns são: “cada crente é um líder” e “somos chamados para sermos cabeça e não cauda”. Enfim, o ufanismo é bastante evidente. Tais métodos
confundem organização - que é necessária – com hierarquização da fé. Ou seja,
as autoridades não são apenas funções necessárias para o funcionamento do Corpo
de Cristo, mas uma oportunidade para alcançar níveis maiores em relação aos
demais membros deste Corpo. Para simplificar, é o mesmo princípio contido na
dicotomia existente entre cleros e leigos na Igreja Católica da Idade
Média. Desconsideram por completo um dos princípios fundamentais da Reforma
Protestante: o sacerdócio universal de todos os crentes.
Vejam
que a ênfase que Lutero e os reformadores que vieram depois dele como Zuínglio
e Calvino davam ao aspecto sacerdócio
é completamente diferente da que é aplicada ao termo liderança. Pois no sacerdócio
há os elementos de intercessão junto a Deus – além, claro, do contato direto
com Ele, sem a necessidade de um intermediador (leia-se Papa) -; e o servir à
comunidade dos cristãos.
Foi este o caráter que levou os apóstolos a decidirem: “’Não é certo negligenciarmos o ministério
da palavra de Deus, a fim de servir às mesas. Irmãos, escolham entre vocês sete
homens de bom testemunho, cheios do Espírito Santo e de sabedoria. Passaremos a
eles essa tarefa e nos dedicaremos à oração e ao ministério da palavra.”
(Atos 6:2-4).
Vemos
aqui que a divisão de funções não possuía nenhum fragmento de ufanismo. Os
apóstolos haviam andado com Jesus, ainda que Matias, que ocupou o lugar de
Judas, não tenha andado tão próximo dEle como os demais. Mesmo assim eles propuseram
apenas uma função “diferente” e não “maior”. Eles entendiam que a organização
da Igreja de Cristo é composta de funções diferentes e complementares. E não de
uma hierarquia vertical.
Esta
hierarquia vertical, profundamente presente e arraigada no seio da Igreja
atualmente, tem exposto a nudez de
muitos sacerdotes. Digo isso com pesar no coração. O número de líderes
que se proclamam apóstolos, patriarcas, entre outros títulos que apenas expõem
seus orgulhos, assim como a nudez expõe as nossas vergonhas é alarmante. E isto
tem deturpado o Evangelho e desonrado o nome de Cristo. Isto não é crítica. É
fato, infelizmente.
Que
possamos subir este altar de joelhos assim como o leproso que se aproximou de
Jesus e, antes de pedir pela Sua cura, o adorou (Evangelho segundo Mateus 8:1-2).
Como João Batista que, tendo consciência de que Jesus era “o cordeiro que tira o pecado do mundo.” (Evangelho segundo João
1:27), afirmou: “É necessário que ele
cresça e que eu diminua.” (Evangelho segundo João 3:30).
Portanto,
esta é a forma com a qual devemos viver como pedras vivas: “Não façam nada por ambição egoísta ou por vaidade, mas
humildemente considerem aos outros superiores a si mesmos. Cada um cuide, não
somente de seus próprios interesses, mas também dos interesses dos outros. Seja
a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus que, embora sendo Deus, não
considerou que o ser igual a Deus era algo ao qual devia apegar-se; mas
esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens.”
(Filipenses 2:3-7).
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