Matheus Viana
Toda
construção precisa de um fundamento. O ser humano é o resultado de leis físicas
e biológicas que funcionam em harmonia. Quando há carência desta necessária
harmonia, surgem as anomalias. Portanto, esta harmonia entre as leis é um
absoluto.
Tente,
por exemplo, relativizar a lei da gravidade e pule do parapeito do 15º andar de
um edifício sem nenhum instrumento que amorteça sua queda. Talvez você não
sobreviva para testificar que absolutos existem. Certa vez em uma aula em que
eu falava sobre a existência de absolutos, perguntei para a classe: “Alguém
aqui acredita que absolutos não existem, que tudo é relativo?”. Um garoto
respondeu prontamente, sem pestanejar: “Eu acredito que tudo é relativo.”. Perguntei
em seguida: “Você tem certeza disso?”. “Absoluta”, ele respondeu. Depois
começou a rir de sua própria incoerência.
Os
cristãos (verdadeiros, não apenas nominais) estão pautados em alguns absolutos.
O apóstolo Paulo, um dos principais personagens do cristianismo, disse: “edificados sobre o fundamento dos apóstolos
e dos profetas, tendo Jesus como a pedra angular...” (Efésios 2:20). A
maneira de ser, pensar e agir de um cristão deve estar pautada nos absolutos de
Deus. Veja que Paulo se refere aos apóstolos,
que continuaram a difundir o legado de Cristo, aos profetas, que se referem à Lei dada por Deus ao Seu povo através de
Moisés e às promessas que apontavam para a vinda de Jesus, o Deus que se fez
homem (Evangelho segundo João 1:14, Colossenses 1:15) contidas no Antigo
Testamento. E, claro, todos esses fundamentos convergem no próprio Jesus que
é o Caminho, a Verdade e a Vida (Evangelho segundo João 14:6).
Infelizmente,
não é o que acontece. Vemos pessoas que afirmam ser cristãs defendendo condutas
que contrariam os absolutos de Deus. Um exemplo, e o que quero tratar
especificamente neste breve texto, é o aborto. Sim, acredite, há quem afirme
ser cristão e, ao mesmo tempo, é favorável ao aborto.
Considerando
o absoluto de Deus no tocante à vida, não há discussão. Vamos partir da Lei do
Antigo Testamento até a aplicação feita por Jesus. Há quem diga que os
mandamentos do Antigo Testamento não servem para nós atualmente, pois a era da
Lei já passou e a da Graça foi inaugurada com Cristo (Romanos 6:14). Sim, isto
é uma verdade. Contudo, não é completa.
Vivemos
pela Graça manifesta por Cristo, mas outro princípio complementar é o de que a
Lei mosaica contém três atributos: o sacrificial (ou cerimonial, que também abarca o simbólico), o civil (específico para os hebreus) e o moral. O primeiro foi cumprido em Jesus. O próprio Jesus disse, em seu sermão
da montanha, que não veio abolir a Lei, mas cumpri-la (Evangelho segundo Mateus
5:17). E Ele a cumpriu plenamente ao ponto de bradar: “Está consumado.” (Evangelho segundo João 19:30). Por isso o
escritor da carta aos hebreus disse: “E
Ele (Jesus) o fez uma vez por todas
quando a si mesmo se ofereceu.” (Hebreus 7:27).
O aspecto moral permanece. O apóstolo Paulo adverte: “Deus ‘retribuirá a cada um conforme o seu procedimento’. Ele dará vida
eterna aos que, persistindo em fazer o bem, buscam glória, honra e
imortalidade. Mas haverá ira, indignação para os que são egoístas, que rejeitam
a verdade e seguem a injustiça.” (Romanos 2:7-8). Quando João preconiza: “Aquele que diz permanecer nele (Jesus), cuide para andar como Ele andou.” (I
João 2:6), estava falando sobre exercer a mesma conduta moral, pautada nos
absolutos de Deus, que Jesus exerceu como homem.
A
prática do aborto, além de ser o exercício do egoísmo, fere o mandamento: “Não matarás.” (Êxodo 20:13). E isso não
deve ser tratado como algo que ficou no passado do Antigo Testamento bíblico.
Pois Jesus falou de sua contemporaneidade (aplicação em nossos dias) quando
disse: “Vocês ouviram o que foi dito aos
seus antepassados: ‘Não matarás’, e quem matar estará sujeito a julgamento. Mas
eu lhes digo que qualquer um que irar contra seu irmão estará sujeito a
julgamento.” (Evangelho segundo Mateus 5:21). Ou seja, a Graça de Jesus não
anula a Lei, mas a renova e aperfeiçoa com o caráter de amor, e não de obrigatoriedade.
O
direito a vida é, conforme vimos, um absoluto dado por Deus. Por isso apenas
Ele tem a autoridade e o poder de tirá-lo de nós. Sim, a morte é consequência
do pecado (Gênesis 2:17, Romanos 6:23). No entanto, o pecado é produto do
desejo e da escolha humana que Deus permite. Assim, Ele é soberano sobre a vida
e sobre a morte. Baseado nesta autoridade Jesus afirmou: “Toda autoridade me foi dada nos céus e na terra.” (Evangelho
segundo Mateus 28:18). Ele morreu e ressuscitou. Tal fato é a demonstração de
que Ele, sendo Deus, é Senhor sobre a vida e sobre a morte. Somente Ele.
Muito
se fala sobre a prática do aborto como o “direito” da mulher ao seu corpo. No
entanto, este direito, lícito, termina onde começa outra vida, ainda que em seu
ventre e em pleno desenvolvimento. O feto, embora dependente e sem consciência
de sua própria existência, não é extensão do corpo da mulher. Tal verdade é
clara na afirmação de Davi: “Tu criaste o
íntimo do meu ser e me teceste no
ventre de minha mãe. Eu te louvo porque me
fizeste de modo especial e admirável. Tuas obras são maravilhosas! Digo
isso com convicção (...) Os teus olhos viram o meu embrião...” (Salmo 139:13-16 – Ênfases acrescentadas).
Quando
uma mulher aborta, ela está interferindo no desenvolvimento de outra vida que,
embora dependente dela, repito, é um ser particular e considerado por Deus no
momento em que é fecundado. Em outras palavras, está infringindo o “não matarás” sem a permissão dAquele
que tem toda a autoridade sobre a vida e sobre a morte.
Alguns
favoráveis ao aborto argumentam o fato de que milhares de mulheres morrem em
clínicas clandestinas. Tais mortes, embora indesejadas, uma vez que Deus se
entristece com a morte dos ímpios (Ezequiel 19:23); são consequências das
escolhas que elas fizeram. É o desdobramento do que Deus disse no início ao ser
humano: “mas não coma da árvore do
conhecimento do bem e do mal, pois no dia em que dela comeres, certamente
morrerás.” (Gênesis 2:17). É o que tem acontecido, literalmente.
O
aborto é consequência também do que o apóstolo Paulo afirmou: “Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e
adoraram e serviram a coisas e seres criados em lugar do Criador. Por isso Deus
os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem o que não
deviam.” (Romanos 1:25-26). É fato. A maioria dos casos de abortos é
proveniente de relações sexuais ilícitas, fruto do hedonismo que escraviza
sexualmente as pessoas e deturpa a forma de pensarem e agirem. O discurso de
Paulo é bastante atual.
Se
seguirmos o mesmo raciocínio demonstrado no argumento acima, será que então
Deus teria que “legalizar” o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal
para que o ser humano não sofresse a terrível consequência da morte? Claro que
não! Pois Deus é amoroso, bondoso, misericordioso e justo. Mas é um Deus moral.
E moral, como qualquer pessoa sabe, é a existência e o senso de certo e errado,
claro, com suas consequências.
O
feto, por sua vez, não tem escolha, não tem defesa, não tem nada. Ele sofre a
consequência da escolha da mulher, que, em alguns casos, também morre.
Lutar pela legalização do aborto é o mesmo que pleitear para que Deus mude o
absoluto de que o salário do pecado é a morte e o dom gratuito de Deus é a vida
eterna. Portanto, saiba que Deus não é homem para que minta, nem filho do homem
para que se arrependa (Números 23:19). Ele não mudará Seus absolutos, por isso
Ele é o mesmo ontem, hoje e será eternamente (Hebreus 13:8).
Resumindo, Jesus é a favor
da vida. Logo, expressamente contra o aborto. Isso é absoluto para um cristão.
Não há quem lute, no caso do aborto, pelo feto. Por isso o próprio Deus luta.
Sendo assim, prefiro observar o que Jesus disse certa vez: “Quem comigo não ajunta, espalha.” (Evangelho segundo Mateus
12:30). Em outras palavras, não há como ser cristão e ignorar o absoluto de que
Deus é contra o aborto por ser a favor da vida, principalmente dos indefesos e
dos que não têm capacidade de exercer a escolha de viver.
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