Matheus Viana
Mas há os que questionam: “E o mal que assola pessoas inocentes? E
quando pessoas boas sofrem de câncer, por exemplo? E uma criança que nasce
debaixo do veredicto de uma enfermidade?”. Para indagações como estas há apenas
uma resposta: Não há ninguém que seja inocente. O apóstolo Paulo elucida que
todos pecaram (Romanos 3:23) e que, por isso, não há um justo sequer (Romanos
3:10). Jesus certa vez afirmou ao jovem rico que o abordara: “Não há ninguém que seja bom, a não ser
somente Deus.” (Evangelho segundo Lucas 18:19).
Analise o comportamento de uma criança qualquer! Desde a tenra idade,
mesmo sem a consciência plena de sua existência e da vida de forma geral, ela
age de forma egoísta. Ou seja, pratica – ainda que de forma instintiva – o mal.
Pois todo ser humano já nasce debaixo da regência do pecado. O salmista
preconiza: “Em iniquidade fui formado, e
em pecado me concebeu minha mãe.” (Salmos 51:5).
O ser humano pratica o mal no exato momento em que abandona o Bem
supremo, que é Deus e, portanto, pode vir apenas dEle. Na teologia
judaico-cristã, quando estudamos os atributos de Deus, os comunicáveis e os
incomunicáveis, vemos dois tipos de santidade: kadesh e kadosh. A que
Deus comunica ao ser humano, e consequentemente deseja que ele viva, é Kadesh. Já a santidade que
pertence somente a Deus, que significa a plena ausência do mal, é Kadosh.
Os apóstolos, ao chamarem os crentes de “santos”, estavam falando do primeiro tipo (kadesh) e em seu primeiro estágio: separados. Ou seja, separados de
toda ação e padrão ético provenientes dos pensamentos contrários à Palavra de
Deus (Romanos 12:2, II Coríntios 4:4) para começarmos a nos santificar até
atingirmos a estatura do varão perfeito (Efésios 4:13). O apóstolo Tiago
afirmou ao ensinar sobre o ciclo do mal: “Quando
alguém for tentado, jamais deverá dizer: ‘Estou sendo tentado por Deus’. Pois
Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta.” (Tiago 1:13). Deus
não pode ser tentado pelo mal porque nEle não há mal algum.
O mal, no entanto, não é algo criado. Conforme elucidou
Agostinho em seu livro O livre-arbítrio, ele não possui existência própria (ontológica). Nada mais é do que a corrupção
(deterioração) do bem. O ser humano se afastou do Bem maior quando abandonou a
verdade de Deus e aceitou uma proposta contrária (Gênesis 3:5-8). Sua mente foi
contaminada por ouvir um argumento ardiloso.
Com a mente contaminada, seu coração foi corrompido.
Consequentemente, suas ações também foram. Por isso o apóstolo Paulo adverte: “O que receio, e quero evitar, é que assim
como a serpente enganou Eva com astúcia, a mente de vocês seja corrompida e se
desvie da sincera e pura devoção a Cristo.” (II Coríntios 11:3).
O registro de Gênesis diz: “O Senhor viu que a perversidade do homem tinha aumentado na terra e
toda inclinação dos pensamentos de seu coração era sempre e somente para o mal.”
(Gênesis 3:6). Tal fato foi desdobramento do ser humano ter se apartado do Bem
Supremo devido ao uso indevido da liberdade que lhe foi concedida.
O veredicto que recebeu como consequência de sua escolha foi
completo, ou seja, não atingiu apenas o ser humano, mas toda a natureza: “Visto que você deu ouvidos à sua mulher e
comeu do fruto da árvore da qual ordenara que não comesse, maldita é a terra
por sua causa.” (Gênesis 3:17). O universo entrou em colapso. Desastres
naturais como terremotos e tsunamis, por exemplo, são desdobramentos deste
fato.
Contudo, assim
como o ser humano é responsável pelo mal que existe no mundo (Romanos 5:12), é também de nossa inteira responsabilidade aplacarmos o mal que seja possível. O
filósofo britânico Edmund Burke preconizou: “para que o mal vença, basta que o
bem não faça nada”. O apóstolo Tiago, no entanto, milênios antes, advertiu: “Aquele que sabe fazer o bem e não o faz,
nisso peca.” (Tiago 4:17). Tal advertência é baseada nos ensinamentos de Jesus:
“Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês
querem que eles lhes façam.” (Evangelho segundo Mateus 7:12).
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