Matheus Viana
A expressão “aprender na prática” é entoada como uma
espécie de mantra desde a existência humana. E não é para menos, pois faz parte
do processo de nosso desenvolvimento. O intrigante é que ela não ignora a importância
da teoria. Por exemplo, meu pai aprendeu a fazer muitas coisas “na prática”, ou
seja, mediante a observação de algumas ações realizadas por outro indivíduo.
Mas esta observação é considerada teórica, pois, ainda que não foi a livros ou
à prédica de alguém, foi algo passivo que se tornou algo prático.
Jesus certa vez disse:
“Na verdade, na verdade vos digo que o Filho por si mesmo não pode fazer
coisa alguma se não ver fazer o Pai; porque tudo quanto ele faz, o Filho o faz
igualmente.” (Evangelho
segundo João 5:19). Sim, Jesus fazia somente o que via o Pai fazer. Suas ações
eram resultantes de observação. É neste mote que o apóstolo Paulo advertiu: “Sede meus imitadores como sou de Cristo
Jesus.” (I Coríntios 11:1). Em outras palavras, olhem para as minhas ações
e, assim como eu busco ser, sejam (Romanos 8:29), pensem (I Coríntios 2:16),
sintam (Filipenses 2:5) e ajam como Jesus Cristo.
Esta observação elucidada por Jesus e por Paulo não é mera observação.
Paradoxal? Claro que é. Explico. Jesus fez, além daquilo que viu seu Pai fazer,
o que estava descrito na Lei e nos profetas. Conforme afirmou, Ele não veio
para abolir a Lei de Moisés, mas para cumpri-la (Evangelho segundo Mateus
5:17). Toda sua obra foi o cumprimento do que Deus, através dos profetas, tinha
dito ao povo. Não é em vão que, ao expirar na cruz, sentenciou: “Está consumado!” (Evangelho segundo João
19:30).
Entender este aparente paradoxo é crucial para a nossa fé e o
desenvolvimento de nossa salvação (Filipenses 2:12). Certa vez, em uma aula no
ensino médio, perguntei aos alunos se eles concordavam com a afirmação: a
teologia é inimiga da fé. Apenas um não concordou e outro ficou indeciso. O
restante concordou. Fiquei chocado.
Esta afirmação contraria o caráter do próprio Deus, pois Ele se revela
através de Sua Palavra. Jesus, conforme Ele mesmo afirmou, se faz conhecer
através das Escrituras (Evangelho segundo João 5:39). Ou seja, observar o que
Jesus faz, a fim de O imitarmos, sem o conhecimento das Escrituras (teologia) é
impossível. A fé torna-se inviável.
Você nutre fé em alguém que não conhece? Eu não. Seja sincero, você
também não. Como podemos crer em Jesus se não O conhecemos, ou no mínimo
ouvimos falar Dele? Quem afirma que a teologia é inimiga da fé, afirma que é
possível ter fé em Jesus sem conhece-Lo por intermédio de ouvir ou ler acerca
Dele. Além disso, Paulo elucida, em sua carta aos romanos, que a fé é
dependente da teologia. Contrariado? Então leia: “A fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus”. (Romanos
10:17). Ou seja, a fé vem pelo compartilhar da Palavra, seja ela oral ou
visual. Em outras palavras, a fé vem pela teologia.
Afinal, o que é teologia? O significado é óbvio: Theos (Deus) – Logos
(palavra/razão) = estudo sobre Deus. Mas Deus não é algo que pode ser estudado.
Conforme preconizou Immanuel Kant, Deus e Seus atributos são incognoscíveis. No
entanto, Jesus é a encarnação (Evangelho segundo João 1:12) e a imagem
(Colossenses 1:15) de Deus para que Seu conhecimento seja possível a fim de crermos
Nele. (Não deixe de ler o texto: Reducionismo
proposital).
O próprio Jesus disse que O conheceremos ao examinarmos as Escrituras
(graphás) (Evangelho segundo João 5:39). É exatamente este exame que recebe o
nome de teologia. Há quem diga que
teologia é o conjunto de matérias que consideram apenas o exercício da razão.
Isso não é teologia, é ciência da religião.
O apóstolo Paulo diz que é o Espírito de Deus quem nos revela o conhecimento
de Deus (I Coríntios 2:11). Mas esta revelação é mediante a Palavra. Observe o
ensinamento de Jesus: “Mas o consolador,
o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, vos ajudará, vos ensinará,
e vos fará lembrar de tudo o que tenho dito”. (Evangelho segundo João
14:26).
A revelação do Espírito Santo é determinada pelos ensinamentos de Jesus
registrados pelos apóstolos e demais escribas, como por exemplo, João Marcos,
autor do Evangelho segundo Marcos, e Lucas, autor do Evangelho segundo Lucas e do
livro de Atos. Em suma, na medida em que conhecemos a Jesus através da
revelação que o Espírito Santo de Deus nos concede mediante Sua Palavra
(ensinos, doutrinas e decretos = teologia), nossa fé se desenvolve.
Sendo assim, aprenderemos na prática a viver conforme Deus deseja que vivamos quando observarmos as Escrituras que testificam de Cristo. Exerceremos a teologia e teremos a nossa fé renovada a cada dia até atingirmos, conforme o apóstolo Paulo preconiza, a estatura do varão perfeito: Jesus Cristo (Efésios 4:13).
Sendo assim, aprenderemos na prática a viver conforme Deus deseja que vivamos quando observarmos as Escrituras que testificam de Cristo. Exerceremos a teologia e teremos a nossa fé renovada a cada dia até atingirmos, conforme o apóstolo Paulo preconiza, a estatura do varão perfeito: Jesus Cristo (Efésios 4:13).
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