“Não tenho alegria
maior do que ouvir que meus filhos estão andando na verdade.” (3 João 4).
Matheus Viana
Podemos evocar, baseados no relato acima, a necessidade
que o ser humano possui de ter sua vida pautada em um padrão ético. Mesmo os
relativistas ou anarquistas têm esta necessidade. Do contrário, não
estipulariam tais alternativas como padrões de conduta para suas vidas. No
entanto, a primeira questão que precisamos responder é o que é, de fato, esta
“verdade”. Para um cristão, é Jesus, pois Ele mesmo afirmou: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida,
ninguém vem ao Pai senão por mim.” (Evangelho segundo João 14:6).
Sendo assim, para os cristãos, Jesus é o padrão ético de
Deus ao ser humano (Romanos 8:29). Alguns podem achar que, com tal afirmação,
estou reduzindo a pessoa de Cristo. Ledo engano. O conceito de ética é que está
deturpado. No século XIX, na esteira do iluminismo, a teologia liberal, na
pessoa de Albert Ritschl (1822-1889), afirmava que o cristianismo é, em
essência, a ética do amor. Ou seja, por Jesus ser, na visão liberal, o homem
que mais manifestou amor ao próximo (incluindo seus inimigos), o verdadeiro
cristão deve amar como Ele amou. Apesar de ser verdade, o problema é que para
Ritschl o cristianismo consistia apenas nisso.
O padrão ético que Jesus representa para os cristãos é
muito mais do que amar ao próximo, embora este seja um ponto crucial. O
apóstolo Paulo diz: “Sede meus imitadores
como eu sou de Cristo.” (I Coríntios 11:1). Este “imitar” não se trata simplesmente
de repetir uma ação ou atitude. Posso imitar alguém que, voluntariamente,
ergueu seu braço direito ao erguer meu braço direito. Mas tal atitude não é
resultado de eu pensar, sentir e muito menos ser como ela.
Em contrapartida, quando o apóstolo Paulo nos adverte a
imitarmos a Jesus, tal atitude é resultante de pensarmos (I Coríntios 2:16) e
sentirmos (Filipenses 2:5) como Ele. O agir é “mera” consequência. Este é o
grande desafio. Aqui emana a questão pertinente e crucial: Por que Jesus é o padrão
ético de Deus ao homem?
O apóstolo Paulo elucida: “Aos que escolheu, também os predestinou para serem conformes à imagem
de Seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos.”
(Romanos 8:29). Este propósito foi estabelecido antes mesmo de formar o ser
humano. Por isso o criou à Sua imagem (essência) e conforme a Sua semelhança
(comportamento). A partir disto, podemos definir o que chamo de trinomia humana. Antes do pecado, a
trinomia humana consistia em ser-pensar-agir
e, depois do pecado, em pensar-ser-agir.
Antes do pecado, o ser humano era à imagem de Deus. Ato
que consistia no habitar do Espírito de Deus (fôlego de vida/ruach) em seu
interior e Sua influência sobre ele. Por isso e também por não conhecer outra
“verdade” contrária à divina, pensava como Deus e, consequentemente, agia como
Ele por se comportar segundo Sua Palavra (vontade e preceitos). Mas o processo
que desencadeou no ato do pecado alterou esta trinomia.
Ao ouvir a ardilosa proposta da serpente e suas
conseqüências, completamente contrárias à verdade de Deus, o modo de pensar (razão)
do ser humano foi deturpado. Não é em vão que o apóstolo Paulo preconiza: “O deus deste século cegou o entendimento
das pessoas para não lhes resplandecer a luz do evangelho.” (II Coríntios 4:4).
E também: “Transformai-vos pela renovação
da vossa mente para que experimenteis qual seja a boa, perfeita e agradável
vontade de Deus.” (Romanos 12:2). Este modo de pensar equivocado levou o
ser humano a desejar o ilícito. O ato da desobediência foi mera consequência.
Para entendermos melhor este círculo vicioso, usaremos o princípio aristotélico
do ato/potência.
Segundo este princípio, tudo o que existe na natureza é o
ato daquilo que era em potência. Exemplo: uma árvore é o ato da potência que
havia na semente. Aplicando-o à conduta humana, o ser humano teve sua razão
corrompida, cujo modo de pensar o levou a desejar o ilícito. E o “simples”
desejar come-lo fez dele um desobediente em potencial, cuja potência desencadeou
no ato da desobediência. É por isso que o apóstolo Tiago adverte: “Cada um é tentado pela sua própria cobiça,
sendo por este arrastado e seduzido. Então este desejo, tendo concebido, dá à
luz ao pecado, e o pecado, após ter consumado, gera a morte.” (Tiago
1:14-15).
O primeiro passo do processo degradante que enredou o ser humano, no
entanto, foi ele se apartar do padrão ético de Deus – Jesus, o Logos divino – e se
apegar em uma “verdade” contrária, que nada mais é do que mentira. Desde então,
nos deparamos com outras “verdades” que pautam o comportamento humano, sejam
elas de cunho religioso, filosófico ou “científico”. Talvez você ache estranho
o fato de eu colocar o termo científico
entre aspas. Foi proposital, pois os argumentos científicos sempre são
utilizados com uma cosmovisão definida que funciona como fundamento. Na maioria
das vezes é o ateísmo com suas diversas variantes. Por isso devemos refletir sobre como obteremos o
conhecimento desta Verdade para que possamos nela andar...
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