Liberdade é o conjunto de direitos a serem usufruídos e deveres
a serem cumpridos. A sociedade atual, no entanto, define liberdade como exigência de direitos e a abolição
de deveres, vistos como instrumentos de opressão.
Esta definição, por sua vez, é fruto de um conhecimento adquirido pelo fato de
a emoção governar a razão. Lembremo-nos do processo de
sabedoria para visualizarmos melhor este conceito.
Informação -------------- Conhecimento
------------------- Prática
(Senso-percepção) Cognição
Emoção --------- Razão
Desejos Lei/ética – categorias de pensamento
Instintos Consciência
Montesquieu preconizou: “Todo homem é livre para fazer o que a lei o
permite fazer”. Tal afirmação está à sombra da afirmação de Jesus Cristo: “Conhecereis a verdade, e a verdade os
libertará” (João 8:32). Esta lei a
que Montesquieu se referiu é uma postulação da razão. Ou seja, o governo da
razão - que estipula a lei e o exercício de legislar sobre ela - sobre a emoção
– instintos e desejos – a fim de refreá-la. Esta postulação, todavia, consiste
no processo de cognição. A questão a qual precisamos refletir é: Sobre quais
pressupostos uma lei é estipulada?
Conforme Jesus afirmou, a verdadeira
liberdade é produto do conhecimento da Verdade (Jesus – Verdade substantiva e
seus absolutos), a fim de que ela governe nossa razão. Consequentemente, nossa
razão, governada pela Verdade, rege nossas emoções (paixões, instintos). O
resultado não pode ser outro senão a plena liberdade (completamente contrária à
autonomia) em contraposição à sermos escravos de nossos instintos e paixões.
O ideal da revolução francesa consistiu,
na esteira do humanismo renascentista, no renascer de um novo homem, chamado de virtú,
que formaria uma nova sociedade pautada
na vontade geral de Rousseau. Este novo significa a plena destituição de
todos os valores e conceitos preconizados e estabelecidos pela tradição
cultural e pela religião, por serem elementos coesos. A revolução fracassou.
Mas o ideal permanece, mudando apenas a forma como ele se tornaria realidade.
Com o fracasso do radicalismo bélico e
genocida dos jacobinos e napoleônicos, o movimento revolucionário partiu do
idealismo hegeliano, que por sua vez veio na esteira do criticismo kantiano. O
objetivo seria alcançado pela constante transformação do homem e da sociedade
através da dialética tese-antítese.
Contudo, esta transformação, conforme reza a teoria, acontece no espírito do homem, que é a síntese entre o
corpo e a alma. Mas isto também não deu certo, pois a tão desejada síntese não foi alcançada, apesar do
profetismo escatológico de Hegel em relação ao curso da história. O fato de a síntese sempre se transformar em tese para ser contraposta a uma antítese, tornava-a uma utopia. A tão
desejada transformação da sociedade aconteceria como consequência do homem
alcançar esta – inalcançável - síntese
em seu espírito. Ou seja, nunca.
A “solução”, segundo Marx e Engels, seria
a mudança do caráter abstrato do idealismo, mantendo a mesma dialética, para o
materialismo. De acordo com tal proposta, a transformação não acontece a partir
das ideias contidas no espírito, mas
no que ele faz, em suas ações, que Marx nomeou de práxis. A tese seria, à
semelhança da revolução francesa, a tradição cultural e a religião (cristã); e
a antítese seria os valores e
conceitos revolucionários, necessários para a construção de um novo homem e,
consequentemente, uma nova sociedade.
Neste mote, Nietzsche elucidou sobre a
construção não apenas de um novo homem,
mas do super-homem pautado em sua vontade de poder. Nela, o homem não
poderia se render à sua razão (consciência), mas sim ao livre fluir de seus
instintos e desejos que pulsam em seu interior. Insano, para ele, seria tentar
conter tal impetuosidade. Uma completa inversão psicótica. A razão, segundo
ele, é um obstáculo incapaz de conter o turbilhão das paixões. A coisa mais
“sensata” a se fazer, então, é se entregar ao domínio das emoções e ao mesmo tempo usá-las como instrumentos de domínio. Concluindo: o super-homem de Nietzsche é dominado
pelas suas emoções e, consequentemente, usa-as como plataforma de domínio sobre
outros. Assim, leis não são
postulações da razão, mas das emoções.
Eis o paradoxo: A liberdade atual consiste em viver dominado pelos instintos e
desejos. Em outras palavras, pelas emoções. E o pior escravo é aquele que não
tem consciência de seu atual estado. Não foi em vão que o nazismo, por exemplo,
visou doutrinar de modo a saturar as emoções das pessoas com o sentimento pelo nacionalismo alemão e pela supremacia ariana. Marx e Engels,
algumas décadas antes, usaram a mesma fórmula, tendo como conteúdo o sentimento revolucionário – o
combustível da práxis - dos que
compõem o proletariado.
Deus criou o ser humano para ser livre. Tal liberdade, no entanto, consiste na escolha de se submeter à vontade de Deus e desfrutar do propósito que Ele estabeleceu. A advertência de não se alimentar do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gênesis 2:17) foi o limite para que o homem não a perdesse. Pois a morte relatada ali se daria – como se deu – em vários níveis. Morte da infinitude da vida, morte da plena comunhão com Deus, morte da pureza e santidade... Morte da liberdade. O homem pós-moderno interpreta escravidão das emoções como liberdade. Sintoma da interpretação equivocada das realidades individual, coletiva e universal. O motivo: distanciamento da Verdade que as fundamenta, Jesus Cristo.
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