segunda-feira, 7 de maio de 2018

O admirado rejeitado - Parte I

Matheus Viana


“O bom filho para casa volta”, preconiza o adágio popular. Jesus viveu uma experiência similar. Lucas foi enfático em sua narrativa: “Ele (Jesus) foi a Nazaré, onde havia sido criado, e no dia de sábado entrou na sinagoga, como era seu costume” (Evangelho segundo Lucas 4:16). Antes disso, porém, Lucas detalhou que Jesus voltou para a região da Galileia “no poder do Espírito” (Vs. 14).

O que vem em sua mente quando ouve ou lê esta expressão? O que, de fato, significa estar sob o poder do Espírito? Não pretendo, por conta de minha incapacidade, dar uma resposta definitiva. Mas desejo que nos atentemos ao que a Escritura afirma a respeito. Esta narrativa segue uma cronologia. Jesus foi batizado por João no rio Jordão, onde o Espírito Santo veio sobre Ele (Evangelho segundo Lucas 3:22). Depois, foi conduzido pelo Espírito Santo ao deserto para ser tentado pelo Diabo (Evangelho segundo Lucas 4:1), por ser parte do plano da redenção ao que Se submeteu. Portanto, vemos dois elementos vividos por Jesus estando sob o poder do Espírito: Ser batizado e provado.
     
O fato de Jesus ser batizado por João representou Sua plena submissão ao Pai. Pois Ele não tinha pecados dos quais se arrepender e ser purificado. Por não ter nascido da semente humana, era imaculado. Assim, estar sob o poder do Espírito é ser plenamente submisso ao SENHOR. Infelizmente, esta é uma verdade que tem sido deturpada. O significado empregado a esta expressão possui uma conotação muito maior de entretenimento do que de submissão. O modelo de devoção cristã em voga prioriza a experiência sensorial em detrimento da transformação interior que culmina em uma devoção integral e constante. “Sentir” arrepios por estar na “unção” é mais desejado do que a plena obediência a Deus – através da observação à Sua Palavra - gerada pela contrição que o Espírito Santo realiza no coração do ser humano.
     
Jesus foi à Galileia no poder do Espírito e... “Ensinava nas sinagogas”. Tal fato não é mera coincidência. Não há manifestação do poder do Espírito que não culmine em ensino. O apóstolo Paulo exortou a Igreja em Corínto, que fluía nos dons do Espírito, contra as divisões e imoralidades que seus membros exerciam.  Em sua advertência, afirmou: “E foi com fraqueza, temor e com muito tremor que estive entre vocês. Minha mensagem e minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria, mas em demonstração do poder do Espírito”. (I Coríntios 2:3-4 – Ênfase acrescentada). Este poder do Espírito se referiu ao seu ensino e testemunho de vida perante os membros daquela congregação.
     
Jesus estava no poder do Espírito diante daquela sinagoga em Nazaré. Sua atitude, que evidenciou tal fato, foi o ensino da Escritura. E Seu ensino foi justamente sobre viver sob a ação do Espírito. Nele podemos ver quais são as evidências. O fato de Jesus escolher o texto escrito pelo profeta Isaías não foi em vão. Ao ler a sentença “O Espírito do SENHOR está sobre mim”, explicitou o fato de que Ele era o Messias (ungido) de Deus. Pois o pensamento que permeava as mentes dos judeus ali reunidos era sobre a expectativa da vinda do Messias. O Espírito do SENHOR repousava sobre pessoas específicas, com finalidades específicas. E Jesus queria deixar claro que Ele era o cumprimento daquela profecia (Vs. 21). Munido desta autoridade, Ele soprou este mesmo Espírito sobre Seus discípulos logo após Sua ressurreição, e também em Pentecostes, a fim de que eles continuassem Sua obra (Atos 1:8).
     
Desta forma, podemos ver que a primeira demonstração de estar sob o poder do Espírito é “pregar boas novas aos pobres” (Evangelho segundo Lucas 4:18), o que é comumente relacionado ao ato de evangelizar. No entanto, podemos exercer evangelismo sem, contudo, pregarmos as boas novas aos pobres. O cerne da questão está na mensagem. A expressão traduzida como boas novas é evangelion. O que é pregar boas novas aos pobres? Fazer e ensinar o que Jesus fez e ensinou (Atos 1:1).
     
É possível pregar outro evangelho que não seja o de Jesus Cristo? Sim, é possível. É possível estar no poder do Espírito e pregar outro evangelho que não seja o de Jesus Cristo? Não, não é possível. É possível, então, estar sob o poder do Espírito e não pregar as boas novas aos pobres? Não, também não é possível. Mas qual é, afinal, a mensagem destas boas novas? Nascimento (encarnação), morte (cruz) e ressurreição (glorificação e Senhorio) de Jesus, o Cristo. Quando algum destes elementos é extraído da mensagem, ela é deturpada.
     
Uma pessoa sob o poder do Espírito proclama liberdade aos cativos. Esta proclamação, no entanto, é resultado de o proclamador ser livre e viver como tal. Por isso o apóstolo Paulo afirmou: “Onde está o Espírito, aí há liberdade...” (II Coríntios 3:17). No entanto, esta palavra tem sofrido uma severa mudança em seu significado. A liberdade apregoada pelo sistema secular é completamente conflitante com a que o Espírito Santo nos concede. Eis o conflito...

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