A
sociedade atual está cada vez mais formatada pela vã e insana tentativa de
destruir absolutos, que também recebe o nome de relativização. Seu principal alicerce é a máxima de Protágoras: “O
homem é a medida de todas as coisas”, que é entoada como um mantra e obedecida
com uma devoção religiosa. O conceito de mundo
preconizado por Arthur Schopenhauer, de que ele é a representação da vontade do
homem, é o plus complementar. Por isso
o filósofo afirmou que o mundo em que vivemos é fruto da ação de nossas
vontades sobre ele. Sendo assim, o mundo é moldado pela vontade do homem. Logo,
a “verdade” sobre si mesmo e sobre a realidade onde vive também é. A completa
hegemonia humana.
Soma-se a esta torre de Babel a união equivocada dos conceitos de liberdade e autonomia. Simbiose semântica que sustenta o antropocentrismo vigente.
Há, entretanto, o contraponto. Ao nos depararmos com o conceito de que verdades
gerais (universais) não existem, mas apenas as “verdades” que cada ser humano
constrói para si (particulares) e que, apesar de divergentes, devem ser
consideradas como complementares; podemos afirmar: Se nenhuma verdade pode ser
descartada, a verdade de que existem verdades universais também não pode. A
resposta “Esta é a sua verdade” não cola. Pois, ainda que você não a considere,
tal fato não anulará sua existência. A própria afirmação de que “não existem
verdades absolutas” é absoluta para quem a faz. Assim, existem absolutos que
não serão extintos pelo bradar exaustivo de máximas relativistas, como as
citadas nas linhas acima. O fato de que o ser humano tem necessidade de
encontrar a verdade, por exemplo, é um absoluto que não pode ser relativizado.
Feita esta breve análise, é possível
detectar a relação ambígua entre verdade e
vontade que hora funciona como uma
dialética de causa e efeito e outra como dualismo. Na primeira,
a “verdade” é construída – seja ela: (1) a partir de uma narrativa criada, (2)
uma mera distorção da realidade ou (3) as duas alternativas funcionando de
forma simultânea - a partir da vontade humana.
Já na segunda, a verdade, por funcionar
como uma antítese, é preterida diante
da vontade humana. Foi sobre esta relação que o apóstolo Paulo elucidou, em sua
carta a Timóteo: “Pois virá o tempo em
que não suportarão a sã doutrina; ao contrário, sentindo coceira nos ouvidos,
juntarão mestres para si mesmos, segundo
os seus próprios desejos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade,
voltando-se aos mitos” (II Timóteo 4:3-4 – Ênfases acrescentadas).
Estes dois aspectos que compõem a relação
entre verdade e vontade não constituem um único movimento. Ou seja, é um erro
dizer, por exemplo, que o materialismo histórico-dialético é fundamentado no
primeiro aspecto enquanto o existencialismo pós-moderno fundamenta-se no
segundo. Tanto o materialismo quanto o existencialismo possuem, em seus
respectivos bojos, os dois aspectos. Nem mesmo a Ideologia de gênero escapa.
Ao mesmo tempo em que ela cria “verdades” através de uma leitura sociológica do
ser humano, considerando, sobretudo, o sentimento
(subjetivo) que o indivíduo possui em relação ao gênero – sendo que o
conceito de gênero utilizado é
completamente destituído do sexo biológico - segundo o qual se define; ela
desconsidera, em detrimento deste mesmo sentimento,
as verdades biológicas (objetivas) que o abarcam.
A supremacia da vontade tem dado o tom do
“cristianismo” atualmente vigente. Pois ela - a vontade - tem sido o principal
elemento utilizado como ferramenta para a interpretação da Escritura. Prática a
qual chamo de hermenêutica da
conveniência.