Matheus Viana
“Ai de vós, mestres da lei e fariseus,
hipócritas!”
(Evangelho segundo Mateus 23:13). Tais palavras saíram dos lábios de Jesus. E
conforme Ele mesmo preconizou: “A boca
fala do que está cheio o coração” (Evangelho segundo Mateus 12:34). O
coração de Jesus estava farto da devoção incoerente que, afirmando – e
acreditando – obedecerem a Deus, os alvos de Sua severa repreensão exerciam e, com isso, desviavam os
homens cada vez mais Dele.
Na
esteira desta narrativa, proponho-lhe: Imagine qual seria a realidade dos
judeus se Jesus não proferisse tais palavras, mas ficasse em silêncio! Imagine
se Ele agisse conforme muitos dizem: “Jesus, fique na sua, cuidando de sua vida
e ensinando Seus discípulos! Deixe os fariseus e os mestres da Lei com os seus
erros para lá!”. Em outras palavras: “Permaneça no limbo do silêncio!”.
Imagine
se os apóstolos – os primeiros discípulos de Jesus Cristo - fizessem silêncio
frente às seitas que ameaçaram a Igreja cristã, que se espraiava por todo o
império romano, como os judaizantes, os gnósticos, os libertinos e os
nicolaítas! Imagine se Justino - o mártir -, Orígenes, Irineu entre outros se
calassem diante do escárnio que a fé cristã sofreu! Imagine se Atanásio
permanecesse em silêncio diante da heresia ariana que pervertia a Pessoa de
Jesus Cristo durante o concílio de Niceia!
Imagine
se Jan Huss, em Praga, e John Wycliff, na Inglaterra, permanecessem em silêncio
em relação ao abandono das Escrituras por parte da igreja romana! Imagine se
Lutero permanecesse em silêncio em relação às indulgências e a tantos outros
erros e abusos cometidos pela mesma instituição religiosa durante o papado de
Leão X!
Jesus
foi chamado de blasfemo (Evangelho segundo Mateus 26:65). Os apóstolos foram
considerados apóstatas e pertencentes de uma seita chamada Caminho. Em outras palavras: hereges. Jan Huss foi queimado como
um... herege. Lutero, até hoje, assim como os protestantes, independente da
vertente ao qual pertençam, são considerados pelos católicos romanos como
traidores e hereges.
Qualquer
semelhança não é mera coincidência. “Se você quiser viver o Evangelho, viva-O
de forma particular e deixe a gente viver o nosso evangelho”. Este é limbo do
silêncio atual proferido, como um mantra, por muitas denominações evangélicas e
direcionado às vozes que analisam as condutas do cristianismo vigente com a
ortodoxia descrita nas Escrituras. Jesus veio para cumprir a plenitude da Lei de
Deus (Evangelho segundo Mateus 5:17). Por isso foi enfático e direto (Evangelho
segundo João 6:25-29). Foi público, abrangente e sem rodeios (Mateus 23:1-38). Tal
firmeza O levou a se lamentar sobre Jerusalém. Pois a exposição do Evangelho,
embora firme, sempre é feita em amor. Os apóstolos, por terem recebido este
ensino, também.
Vejam
a orientação do apóstolo Paulo aos filipenses: “Pois, como já lhes disse repetidas vezes, e agora repito com lágrimas,
há muitos que vivem como inimigos da cruz de Cristo” (Filipenses 3:18).
Como sabemos, estas cartas corriam as igrejas de várias cidades e eram lidas aos
fiéis durante o culto público e coletivo. Ao seu discípulo Timóteo, advertiu: “Evite as conversas inúteis e profanas, pois
os que se dão a isso prosseguem cada vez mais para a impiedade. O ensino deles
alastra-se como câncer; entre eles estão Himeneu e Fileto. Estes se desviaram
da verdade, dizendo que a ressurreição já aconteceu, e assim a alguns pervertem
a fé” (II Timóteo 2:17).
João,
o apóstolo do amor, não agiu diferente no tocante à manutenção da ortodoxia
cristã. Falando sobre os anticristos de sua época, afirmou: “Eles saíram do nosso meio, mas na realidade
não eram dos nossos, pois, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; o
fato de terem saído mostra que nenhum deles era dos nossos. (...) Quem é
mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo?” (I João 2:19-20 e
22). Há várias outras citações. Mas não quero deixar o texto exaustivo.
O
argumento usado para arrefecer as vozes dissonantes é o do “Não se levante
contra uma autoridade instituída por Deus!”. Sendo assim, não devemos nos
levantar contra os abusos do governo, em qualquer uma de suas esferas; o
impeachment da Dilma foi “coisa do cão”; e não devemos nos levantar contra o Ministério
da Educação (MEC), por exemplo, no tocante à imposição da ideologia de gênero,
entre vários outros artifícios que visam o estabelecimento de uma sociedade
anticristã. Pois o Sr. Ministro da educação é uma autoridade. E toda autoridade
é instituída por Deus, e por isso devemos obedecê-las, não é verdade? Não completamente, de acordo com Atos 5:19. Como é
possível se levantar contra estas autoridades e, ao mesmo tempo, sustentar o
discurso do “não se levante contra as autoridades”? O nome disto foi dito por
Jesus: hipocrisia.
Jesus
afirmou que Ele possui toda a autoridade nos céus e na terra (Evangelho segundo
Mateus 28:18). Assim, só é munido de autoridade quem permanece Nele. Como
permanecer Nele? Vivendo, de forma íntegra, segundo o Seu Evangelho. Quem não
estiver de acordo com Ele, ainda que não tenha deixado de ser pecador (Cf. I
João 1:8), o que é completamente diferente de não abandonar a vida de pecado,
não possui autoridade diante de Deus, ainda que a tenha diante dos homens.
A
cúpula religiosa que Jesus enfrentou estava munida de autoridade diante dos
homens, mas não diante de Deus (Evangelho segundo Marcos 7:6-9). A da época dos
apóstolos, idem. A igreja romana que classificou de hereges Huss, Wycliff e
Lutero, não estava munida da autoridade de Deus, por mais que o Papa falasse ex-cathedra por ser o “vigário de Deus
na terra”, pois havia abandonado o
Evangelho de Cristo.
Posso
imaginar Lutero, diante de alguns representantes da cúria romana, na dieta de
Worms em 17 de abril de 1521. Após ser forçado a renunciar seus escritos,
sermões e as 95 teses que fixara quatro anos antes na Catedral de Wittemberg,
sob a ameaça de morte, disse: “Levo minha consciência cativa à obediência de
Cristo”. Nesta mesma ocasião, propôs que aqueles representantes da cúria
dissessem a ele onde seus escritos, sermões e teses estavam contra as
Escrituras. Não havia nada errado.
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