“Quem traz uma candeia para ser colocada
debaixo de uma vasilha ou de uma cama? Acaso não a coloca num lugar
apropriado?”
(Evangelho segundo Marcos 4:21).
É incrível ler os ensinamentos de Jesus e
ver a forma inteligente como levava Seus ouvintes neles refletirem. O trecho
acima citado é um exemplo. É nítido, ao analisar tais palavras, que quem
traz consigo uma candeia possui um propósito em tal ação. E ele está
implícito na existência deste objeto. Surgem, então, as seguintes questões: O
que é uma candeia? Qual sua finalidade? Como utilizá-la?
Ela também é conhecida como candeeiro ou
candelabro (menorah), utensílio outrora utilizado no tabernáculo,
e posteriormente no templo, para iluminar. Contudo, para entendermos o que
Jesus quis dizer, não basta pensarmos nela apenas em sua função de iluminar,
mas em todas as suas características.
Comecemos, porém, com esta. Sabemos que a
luz também ilumina as trevas. Lembrando que trevas não possui existência como
substância (ontológica), mas é a ausência de luz. A luz originada pela Palavra
de Deus não foi apenas algo que iluminou. Na narrativa de Gênesis, trevas era o
vazio, e a luz era a manifestação do Criador, O Verbo, em seu ato de criar
(Gênesis 1:3, João 1:1-3). A versão hebraica de Gênesis 1:3, em sua forma
transliterada, diz: “Vayomer Elohim yehi or vayehi or”, cuja tradução
literal é: “Disse Deus: Seja luz e ele foi luz”. Assim, a criação foi (e
é) como que uma candeia que refletiu a luz do Criador (Salmos 19:1,
Romanos 1:18-19).
A primeira vez que algo relacionado à candeia
ou candelabro aparece na Bíblia – o que não significa que não
existia até então - é no livro de Êxodo, quando Deus ordena a Moisés sua
construção a fim de servir como utensílio tabernacular (Êxodo 25:31-37). Seu
devido funcionamento era à base de azeite puro de olivas batidas (Êxodo
27:20). É impossível não associar tal característica com o episódio de Jesus no
Getsêmani, que ficava no jardim das Oliveiras (Evangelho segundo Lucas
22:39-45). Ali, Ele foi esmagado em Sua alma para depois ser dilacerado em sua
carne. O azeite necessário para que sejamos iluminados é o Seu sangue
vertido no madeiro, resultado do fato de Ele ter sido, como homem perfeito,
completamente moído pelas nossas transgressões e iniquidades (Isaías 53:5,
Romanos 3:25), bem como a ação do Espírito Santo que nos foi concedido após
esta obra magna.
Jesus disse que somos a luz do mundo
(Evangelho segundo Mateus 5:14) que, por sua vez, está coberto por trevas
(Isaías 60:2). A expressão traduzida para o português como luz é fos,
que é derivada de fotós, de onde se origina a expressão foto. Fos
é a luz refletida para captação de uma imagem pelos olhos, o
refletir da imagem como um prisma. Portanto, somos candelabros que refletem a
luz (imagem) de Cristo. Assim como a luz do próprio Deus se manifestou em meio
às trevas na criação, somos chamados a refletir Cristo em um mundo repleto de
trevas. Eis o nosso mandato cultural ou culto racional.
Receber o azeite puro de olivas batidas,
portanto, simboliza o fato de nossa vida, por completo, estar fundamentada
no sacrifício de Cristo. É isso que Paulo afirmou em sua carta aos coríntios: “Pois
decidi nada saber entre vós, a não ser Jesus Cristo, e este crucificado.”
(I Coríntios 2:2). O que corrobora no fato de tomarmos a nossa cruz (Evangelho
segundo Mateus 16:24). Os apóstolos foram candelabros porque
participavam do sofrimento de Cristo. Refletir a luz de Cristo, no
entanto, é ser sua testemunha. (Relação entre Apocalipse 2:4 e Mateus
25:1-13) (Cf. João 1:8, Atos 1:8).
Jesus disse que os olhos são a candeia
do corpo (Evangelho segundo Mateus 6:22). O texto grego diz: “ó luxnós tou
somatos estin ó oftalmos”, cuja tradução literal é: “A lâmpada/candeia
do corpo é os olhos”. A expressão traduzida como candeia é luxnós que,
diferente de fos ou fotós, é a luz que ilumina, por isso é
traduzida como lâmpada ou candeia. Diante deste fato, devemos
questionar: Qual a luz que ilumina (fundamenta) a nossa cosmovisão? A
imagem de quê ou de quem ela tem refletido?
Continua...
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