segunda-feira, 10 de abril de 2017

O brilho das candeias - Parte I

Matheus Viana




“Quem traz uma candeia para ser colocada debaixo de uma vasilha ou de uma cama? Acaso não a coloca num lugar apropriado?”

(Evangelho segundo Marcos 4:21).



É incrível ler os ensinamentos de Jesus e ver a forma inteligente como levava Seus ouvintes neles refletirem. O trecho acima citado é um exemplo. É nítido, ao analisar tais palavras, que quem traz consigo uma candeia possui um propósito em tal ação. E ele está implícito na existência deste objeto. Surgem, então, as seguintes questões: O que é uma candeia? Qual sua finalidade? Como utilizá-la?



Ela também é conhecida como candeeiro ou candelabro (menorah), utensílio outrora utilizado no tabernáculo, e posteriormente no templo, para iluminar. Contudo, para entendermos o que Jesus quis dizer, não basta pensarmos nela apenas em sua função de iluminar, mas em todas as suas características.

    

Comecemos, porém, com esta. Sabemos que a luz também ilumina as trevas. Lembrando que trevas não possui existência como substância (ontológica), mas é a ausência de luz. A luz originada pela Palavra de Deus não foi apenas algo que iluminou. Na narrativa de Gênesis, trevas era o vazio, e a luz era a manifestação do Criador, O Verbo, em seu ato de criar (Gênesis 1:3, João 1:1-3). A versão hebraica de Gênesis 1:3, em sua forma transliterada, diz: “Vayomer Elohim yehi or vayehi or”, cuja tradução literal é: “Disse Deus: Seja luz e ele foi luz”. Assim, a criação foi (e é) como que uma candeia que refletiu a luz do Criador (Salmos 19:1, Romanos 1:18-19).

    

A primeira vez que algo relacionado à candeia ou candelabro aparece na Bíblia – o que não significa que não existia até então - é no livro de Êxodo, quando Deus ordena a Moisés sua construção a fim de servir como utensílio tabernacular (Êxodo 25:31-37). Seu devido funcionamento era à base de azeite puro de olivas batidas (Êxodo 27:20). É impossível não associar tal característica com o episódio de Jesus no Getsêmani, que ficava no jardim das Oliveiras (Evangelho segundo Lucas 22:39-45). Ali, Ele foi esmagado em Sua alma para depois ser dilacerado em sua carne. O azeite necessário para que sejamos iluminados é o Seu sangue vertido no madeiro, resultado do fato de Ele ter sido, como homem perfeito, completamente moído pelas nossas transgressões e iniquidades (Isaías 53:5, Romanos 3:25), bem como a ação do Espírito Santo que nos foi concedido após esta obra magna.

    

Jesus disse que somos a luz do mundo (Evangelho segundo Mateus 5:14) que, por sua vez, está coberto por trevas (Isaías 60:2). A expressão traduzida para o português como luz é fos, que é derivada de fotós, de onde se origina a expressão foto. Fos é a luz refletida para captação de uma imagem pelos olhos, o refletir da imagem como um prisma. Portanto, somos candelabros que refletem a luz (imagem) de Cristo. Assim como a luz do próprio Deus se manifestou em meio às trevas na criação, somos chamados a refletir Cristo em um mundo repleto de trevas. Eis o nosso mandato cultural ou culto racional.

    

Receber o azeite puro de olivas batidas, portanto, simboliza o fato de nossa vida, por completo, estar fundamentada no sacrifício de Cristo. É isso que Paulo afirmou em sua carta aos coríntios: “Pois decidi nada saber entre vós, a não ser Jesus Cristo, e este crucificado.” (I Coríntios 2:2). O que corrobora no fato de tomarmos a nossa cruz (Evangelho segundo Mateus 16:24). Os apóstolos foram candelabros porque participavam do sofrimento de Cristo. Refletir a luz de Cristo, no entanto, é ser sua testemunha. (Relação entre Apocalipse 2:4 e Mateus 25:1-13) (Cf. João 1:8, Atos 1:8).

    

Jesus disse que os olhos são a candeia do corpo (Evangelho segundo Mateus 6:22). O texto grego diz: “ó luxnós tou somatos estin ó oftalmos”, cuja tradução literal é: “A lâmpada/candeia do corpo é os olhos”. A expressão traduzida como candeia é luxnós que, diferente de fos ou fotós, é a luz que ilumina, por isso é traduzida como lâmpada ou candeia. Diante deste fato, devemos questionar: Qual a luz que ilumina (fundamenta) a nossa cosmovisão? A imagem de quê ou de quem ela tem refletido? 


Continua...

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