Matheus
Viana
A
primeira interação de Deus com o homem, após este ser constituído como ser vivente, foi a emissão de Sua bênção
e, logo em seguida, uma instrução. A
narrativa bíblica é concisa: “Deus os
abençoou e lhes disse: ‘Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a
terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre os
animais que se movem pela terra.’” (Gênesis 1:28).
O
que foi este abençoar? O soprar de Seu
fôlego de vida (Gênesis 2:7). A
partir do momento em que o homem recebe o fôlego divino, torna-se um ser
consciente de sua existência. Mas tal
consciência, por si só, não foi suficiente para a obtenção da consciência do propósito de sua existência. Algo que
ocorre progressivamente e que evidencia a importância da instrução (ensino). É
inevitável, diante deste quadro, o seguinte raciocínio: Sei que existo. Mas,
por que e para que existo?
Este
é o drama que o ser humano busca responder. Ele é a origem de todas as filosofias
e ideologias. A instrução de Deus, que nada mais foi do que o revelar de Seu
propósito ao homem, foi – e é – a resposta. Por isso o ensino é fundamental em
nossa relação com Deus e, consequentemente, com o nosso próximo.
Há
características fundamentais na instrução (ensino) de Deus ao homem. São elas:
Autoridade e ordem. Tal instrução foi imperativa,
e não meramente elucidativa como propõe
a pedagogia “laica”. Como resultado da degradante relativização dos absolutos
divinos, a autoridade tem sido
reduzida a um construtivismo improdutivo, que faz a criança raciocinar apenas
sobre suas experiências sensoriais e cognitivas, mesmo que ela não tenha a
capacidade de aplicar sentido e significado a elas.
Conforme
elucidei no livro Culto racional, a relação
com a criação (natureza) é resultado da relação com o Criador. Antes de
providenciar-lhe a experiência oriunda da relação com a criação, Deus fez com
que o homem se relacionasse com o Criador. E este relacionamento é baseado em Espírito (fôlego de vida) e em verdade (instrução). Foi neste mote que
Jesus instruiu a mulher samaritana sobre o culto racional (Evangelho segundo João 4:24). Toda
racionalidade sã é resultado da relação do homem com a razão divina
(sobrenatural).
Não
há pedagogia sem ordem. Deus
organizou a criação para colocar nela sua criatura principal. A instrução de
Deus foi feita mediante ordens (imperativos) a fim de que o homem, ao recebê-las,
as transmitisse a toda a criação. Antes de soprar Seu fôlego de vida sobre o
homem, Deus fez seu corpo do pó da terra. Houve uma ordem criacional. E esta
ordem, em todos os âmbitos, é oriunda de um imperativo: “Disse Deus: ‘Haja luz!’ E houve luz.” (Gênesis 1:3). A narrativa
bíblica é clara. Deus colocou ordem no caos separando luz e trevas e também águas
debaixo do firmamento das águas de cima dele (Gênesis 1:4-7).
Este
princípio de ordem estava presente na instrução de Deus ao homem. Por sua vez,
não existe ordem sem autoridade. Aqui é preciso diferenciar,
para conceituarmos ordem, mandato e organização. Toda organização é resultante de um mandato
(imperativo), seja ele de nós para nós mesmos ou de terceiros. Um mandato é
emitido por alguém que exerce... autoridade.
Logo, todo mandato tem como origem o de Deus à Sua criação, incluindo o homem.
A
degradação atual, principalmente nos âmbitos social e moral, é consequência da
degradação intelectual (considerando implicitamente a espiritual). E esta é
resultado da abordagem pedagógica utilizada em nosso contexto. Pois toda autoridade, pelo fato da sociedade contemporânea
agir sob a regência do materialismo histórico/dialético, é vista como opressora. Sem autoridade, não há ordem no processo do pensamento, que por sua vez
leva ao conhecimento. A dificuldade da presente geração em organizar, de forma
sistemática, seus raciocínios e consequentes aprendizagens é a suma
demonstração deste caos.
O
conhecido provérbio bíblico preconiza: “Ensina
a criança o caminho em que deve andar.” (Provérbios 22:6). É notório o fato
de que não é possível separar autoridade
da atividade pedagógica. São aspectos coesos, implícitos um no outro. É desta
autoridade que emana a ordem. Baseado
nela, a criança, quando for adulta, não errará sua conduta.
A
proposta da serpente ainda ressoa. Ela relativizou, perante Eva, a autoridade
de Deus, primeiro transformando-a em autoritarismo; e depois transformando as
verdades absolutas em mentiras e vice-versa. Transfiguração de conceitos e
valores que o apóstolo Paulo denunciou em sua carta aos romanos (Romanos 1:23-25).
A figura do professor em sala de aula está cada vez mais desprovida de
autoridade, assim como a dos pais em suas casas.
Esta
autoridade não pode ser confundida
com autoritarismo. Vemos que a
autoridade de Deus sobre o homem, fundamento de Sua instrução a ele, tinha como
intento prover sentido à sua existência a fim de que vivesse de maneira plena. Sem
tal instrução, o homem estaria perdido em meio àquele vasto paraíso, pois não
saberia o que fazer, muito menos o porquê de estar ali. Não é este o panorama
da sociedade pós-moderna?
Sem
sentido, o homem está perdido no labirinto de sua existência. Na tentativa de
sair deste emaranhado, cria filosofias as mais diversas possíveis. Existencialismo
e niilismo são apenas alguns exemplos. Mas não logra êxito em tal empreitada. Pois são
filosofias baseadas em pressupostos que ignoram o aspecto principal do
pensamento: autoridade de Deus, fonte de toda autoridade (Cf. Evangelho segundo Mateus 28:18-19).
Pensamos
porque em nosso cérebro ocorre um complexo processo neural através das sinapses.
Este processo obedece as leis e princípios eletroquímicos. Quando este processo
“desobedece” estas leis, há desordem. E esta desordem causa males ao ser humano
que a possui. O mesmo princípio aplica-se a todo o nosso corpo.
O
Universo funciona através de leis físicas. A interação entre elas dá-se por uma
ordem. Quando o ser humano pecou,
esta ordem foi, de certa forma, comprometida (Gênesis 3:17). Mas a misericórdia
de Deus, manifesta através da Graça comum,
mantém a ordem no universo, apesar da degradação humana.
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