segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Uma resposta protestante a uma polêmica católica



Matheus Viana

“O sentido das Escrituras só pode ser esclarecido pela interpretação autorizada do Magistério da Igreja”.

Foi com esta afirmação que o padre Paulo Ricardo abriu seu artigo Uma resposta católica a uma polêmica protestante, publicada em seu blog em 26 de maio de 2015. Ele tentou refutar um dos conceitos fundamentais da Reforma Protestante: Sola Scriptura. Não obteve êxito. Explico por quê. O Magistério da Igreja ao qual se refere tem seu fundamento na autoridade do papa – que ele chama de Romano pontífice, a personificação da autoridade exercida pela Igreja - no tocante a interpretação das Escrituras.

Basta conhecer um pouco de História da Igreja para ter contato com a verdade de que a maioria dos pontífices romanos após a nomeação de Bonifácio III no ano de 607 como Papa, na formulação de bulas e encíclicas, simplesmente ignorou as Escrituras e, consequentemente, a ortodoxia cristã.

A ortodoxia cristã considerada por este Magistério é, por si mesma, conflitante com a doutrina dos apóstolos (Atos 2:42). Pois ela se fundamenta na supremacia papal e no colegiado que ele preside. Mas a própria autoridade do Papa é contrária às Escrituras. Para maiores detalhes, recomendo a leitura dos livros O papado e o dogma de Maria, de Hernandes Dias Lopes e Heresia, uma história de luta pela verdade de Allister McGrath.

Vejamos o que afirmou o padre:

Os protestantes — assim como muitos católicos que se deixam levar por aquela famosa pergunta: "Onde está na Bíblia?" — precisam aprender que a Bíblia não caiu do céu. 300 anos antes da definição do Cânon, já existia uma única Igrejacatólica apostólica romana, para deixar claro — governada por bispos, sob a autoridade do Romano Pontífice. Já existia um Magistério antes mesmo que Constantino soubesse soletrar Roma. E é precisamente desse Magistério, cuja autoridade os protestantes adoram tomar para si, que podemos haurir a veracidade do Antigo e do Novo Testamento (cf. 1 Tm 3,15). Negá-lo equivale a negar as próprias Escrituras.

Esta igreja católica apostólica romana – o nome já é contraditório, pois se a Igreja é católica (universal), não pode ser romana - também não caiu do céu. Longe disso. A Igreja teve origem em Jerusalém, no glorioso evento do Pentecostes (Atos 2:1-40), três séculos antes. Fato que foi o cumprimento da profecia do Senhor Jesus a Pedro (Ev. Segundo Mateus 16:16-18). E aqui já se faz necessária a correção de um equívoco encontrado na tradição romana: quem é, de fato, o alicerce da Igreja.

Pedro, ao contrário do que a tradição romana afirma, não é a pedra fundamental da Igreja. Jesus é. Não sou em quem digo, tampouco outro cristão protestante no caráter de intriga da oposição, mas os próprios apóstolos (Cf. Atos 4:11-12, Efésios 2:20-22, I Pedro 2:6-8). O termo grego usado no trecho do Ev. Segundo Mateus 16:16-18, traduzido para Pedro é petrus, que significa pequena pedra. Já o termo traduzido como pedra na sentença “e nesta pedra edificarei a minha igreja (eklesia) é petra. Jesus é a rocha, a pedra angular. E isso o próprio Pedro, o “suposto primeiro papa”, afirmou.

Uma pergunta, no entanto, surge neste quesito: Como Pedro, afirmando que Jesus é a Pedra Angular da Igreja, concordou em ser o primeiro Papa e tomar para si – como substituto (vigário) - a autoridade que pertence somente ao Senhor Jesus (Cf. Ev. Segundo Mateus 28:18-19, Atos 2:36)? A resposta está clara em toda a Escritura: Ele não concordou com tal acinte. Ele foi, isso sim, um dos líderes da Igreja em Jerusalém juntamente com Tiago. Em Roma, liderou, juntamente com Paulo, a Igreja local.

Contudo, a Igreja que deve ser considerada como base canônica não é Roma, mas Jerusalém. Jesus, por Sua vez, não quis que Jerusalém fosse uma espécie de “Santa Sé”. Por isso disse aos apóstolos, o genuíno Magistério cristão: “E sereis minhas testemunhas em Jerusalém, na Judeia, em Samaria e até os confins da terra.” (Atos 1:8). Sua Igreja não nasceu para ser uma instituição corporativa munida de uma matriz, mas a Comunidade cristã.

Não era formada por cargos que constituíssem uma hierarquia de poder clerical, mas uma organização composta de funções diferentes a fim de que funcionasse como o Corpo de Cristo na Terra, conforme elucidou o apóstolo Paulo em I Coríntios 12. Jerusalém, embora tenha sido a primeira cidade a contar com esta Comunidade, não era considerada a Santa Sé – segundo o caráter aplicado pelo catolicismo romano -, mas o ponto de partida para a evangelização de todo o mundo (Ev. Segundo Marcos 16:15-16).

Usar os sérios equívocos que existem no seio de muitas denominações protestantes para reiterar a autoridade do catolicismo romano é um artifício falacioso. Sou protestante, mas denuncio os erros doutrinários e as heresias que deles emanam. Se você é um dos poucos que acompanham este blog, sabe disso. Um fato não anula outro. Os erros doutrinários cometidos pelos protestantes não anulam os equívocos criados pelo “Magistério da Igreja” citado pelo padre como adoração à Maria, culto de imagens, o papel do Papa como substituto de Cristo na liderança da Igreja entre outras...

Em suma, o padre tem razão em dizer que a Bíblia deve ser interpretada levando em consideração o Magistério da Igreja. Mas este Magistério é formado pelos apóstolos de Cristo e por seus sucessores, chamados de pais da Igreja, que permaneceram na ortodoxia elucidada pelo apóstolo Paulo aos cristãos em Éfeso: “No fundamento dos apóstolos e dos profetas, tendo Jesus como a Pedra Angular.” (Efésios 2:21). O que os pré-reformadores e reformadores fizeram foi restaurar a devoção a esta ortodoxia e, por conseguinte, o lugar de primazia que as Sagradas Escrituras, por serem o Legado do próprio Cristo, ocupa no Cristianismo. Reforma é diferente de revolta. Diferença que alguns católicos – e também protestantes – não sabem discernir.

Jesus disse que devemos examinar as Escrituras, pois dEle testificam (Ev. Segundo João 5:39). Era a estas Escrituras (Tanakh, o Antigo Testamento hebraico) que os apóstolos da Igreja se basearam para compor o Novo Testamento. Seus sucessores, por sua vez, se basearam na doutrina apostólica. Veja, por exemplo, o que diz um documento histórico da Igreja, chamado Didake, produzido no começo do século II por um autor desconhecido:

E vigia para que ninguém te afaste desta doutrina; do contrário, serás considerado sem disciplina. Se, com cuidado, fizeres estas coisas, estarás próximo do Deus vivo; se não o fizeres, estarás longe da verdade. Põe todas estas coisas em teu espírito e não perderás a tua esperança; ao invés, por estes santos combates, chegarás à coroa. Por Jesus Cristo, o Senhor que reina e é Senhor com Deus Pai e o Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém.[1]

Coisa que o Magistério que o padre - ao qual respeito e considero, principalmente pela oposição que tem realizado à doutrinação anticristã que se alastra no Brasil - se refere não faz. Pelo contrário, usou, ao longo da história, de uma autoridade conflitante com as Escrituras para formular uma ortodoxia que atenda os interesses da instituição romana, e não os do Reino de Cristo. Tenho muitos argumentos que comprovam tais fatos. Mas meu tempo e a sua paciência não permitem. Creio que este pequeno apanhado é, por hora, suficiente.

Sola Scriptura. Solus Christus. Soli Deo Glória.


[1] BERTHOLD, Altaner/ALFRED, Stuiber. Patrologia. – São Paulo. Ed. Paulinas, 2004. p. 89/91. 

5 comentários:

  1. kkkkk Nem se eu fosse PROTESTANTE (que Deus me livre) eu confiaria nesse texto... Vcs estão querendo enganar quem??? Protestantismo e achismo são sinônimos... até meu filho de 05 anos refuta um protestante!!!

    "...Basta conhecer um pouco de História da Igreja..." kkkkkk se tem uma coisa que protestante não sabe é de história... a não ser aquelas estorinhas inventada pelo próprio protestantismo... O mais engraçado é os protestantes quer saber de Igreja Católica mais do que a própria Igreja Católica!!!!kkkkkk

    Isso sim é uma piada!!!

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    1. marcelo, o problema do magisterio da igreja catolica e que de tempos em tempos o espirito santo revela ao papa doutrinas novas qeu nao estao na biblia nem na tradiçao oral,entao a cada seculo Deus revela uma doutrina nova? o Deus da igreja catolica e esquizofenico? entao a igreja catolica nao tem doutrina definida....

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  2. kkkkk Nem se eu fosse PROTESTANTE (que Deus me livre) eu confiaria nesse texto... Vcs estão querendo enganar quem??? Protestantismo e achismo são sinônimos... até meu filho de 05 anos refuta um protestante!!!

    "...Basta conhecer um pouco de História da Igreja..." kkkkkk se tem uma coisa que protestante não sabe é de história... a não ser aquelas estorinhas inventada pelo próprio protestantismo... O mais engraçado é os protestantes quer saber de Igreja Católica mais do que a própria Igreja Católica!!!!kkkkkk

    Isso sim é uma piada!!!

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    1. "Protestantismo e achismo são sinônimos". Sua afirmação já possui, de cara, um equívoco epistemológico grave. O que é protestantismo pra você. Não me diga que é apenas o movimento luterano. Pois esta é a ideia que os católicos, em sua maioria, possuem. Ignoram os pré-reformadores como Savoranola, Wycliff, e Hus...

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    2. "kkkkkk se tem uma coisa que protestante não sabe é de história... a não ser aquelas estorinhas inventada pelo próprio protestantismo... O mais engraçado é os protestantes quer saber de Igreja Católica mais do que a própria Igreja Católica!!!!kkkkkk".

      Quanta ignorância! Ser Católica é ser universal. O próprio nome Igreja Católica Apostólica Romana já é, além de contraditória em si mesma, um acinte. Sua afirmação já demonstra um sério desconhecimento semântico do termo. Você até tem direito de refutar o texto, mas dê o mínimo de argumentação coerente. Suas refutações não passaram de bizarrices apaixonadas. "Meu filho refuta um protestante". A tentativa de baixar o nível de debate já demonstra o nível do opositor. Fico no aguardo de refutações. Pois ainda não vi nenhuma. Por enquanto foi apenas blá, blá, blá. Quando a conversa for entre dois opositores de verdade, a gente conversa. Passar bem.

      Caso queira, desafio você a conversar (sério, sem bizarrices como a que você cometeu) sobre qualquer assunto relacionado à História da Igreja: surgimento do cristianismo, movimento apostólico, patrologia, patrística, surgimento da ICAR, escolástica, renascimento, inquisições, cruzadas, reforma protestante (que não é apenas Lutero, viu). Caso não consiga, você pode chamar seu filho de 5 anos.

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