Matheus Viana
Quem
é mais importante: Jesus ou a tradição religiosa? Há quem diga "nenhum dos dois". Mas os que confessam serem
cristãos responderão, com um ar de obviedade, que Jesus é o mais importante. No
entanto, muitos deles são traídos – ou desmentidos – por suas atitudes.
Em
certa ocasião, Jesus estava reunido com Seus discípulos, onde comiam sem lavar
as mãos (Evangelho segundo Marcos 7:8). O ato de lavar as mãos antes de comer
não era mera demonstração de higiene, mas observação de um rito de purificação.
A Bíblia diz: “(os fariseus e todos os
judeus não comem sem lavar as mãos cerimonialmente, apegando-se, assim, à
tradição dos líderes religiosos)”. (Evangelho segundo Marcos 7:3 – Nova Versão
Internacional).
Vendo
que os discípulos de Jesus comiam sem lavar as mãos, os fariseus e mestres da
lei questionaram: “Por que os seus
discípulos não vivem de acordo com a tradição dos líderes religiosos, em vez de
comerem o alimento com as mãos ‘impuras’?” (Versículo 5). Antes de
refletirmos sobre a resposta de Jesus, reflitamos sobre o questionamento que Lhe
foi dirigido.
O ato de lavar as mãos era uma demonstração da ênfase que a
religião judaica dava ao ritual. Jesus já havia alertado: “Onde está o seu tesouro, ali está o seu coração.” (Evangelho
segundo Mateus 6:21). Seus corações estavam na observância da lei. Eram devotos a ela e consequentemente a todos os rituais que dela emanava.
Por isso, não se atentaram ao fato de que estavam diante do próprio
Deus encarnado, ou seja, diante dAquele que pode purificar o interior do ser humano (Evangelho segundo João 15:3), já que a lei pode "purificar" apenas seu exterior.
Tais
atitudes não são diferentes das que encontramos atualmente. As doutrinas elaboradas
por homens, ainda que baseadas em facetas ou particularidades do Evangelho de
Cristo, possuem importância maior do que o próprio Cristo revelado através das
Escrituras (Evangelho segundo João 5:39). É triste, mas vejo cristãos devotos a
algumas destas doutrinas – que no atual contexto recebem nomes como visão, modelo entre outros – de modo a ignorar os que não as seguem. E
ainda se apropriam, de forma ilícita e deturpada, das Palavras de Cristo: “Quem comigo não ajunta, espalha.”
(Evangelho segundo Mateus 12:30). Pois é, acreditem: a Palavra de Cristo tem
sido usada como combustível para alimentar o ufanismo humano. Sim, trata-se de
um absurdo. Mas é a realidade...
Diante
deste quadro – deplorável, diga-se de passagem – Jesus disse: “Bem profetizou Isaías acerca de vocês,
hipócritas, como está escrito: ‘Este povo me honra com os lábios, mas o seu
coração está longe de mim. Em vão me adoram, seus ensinamentos não passam de
regras ensinadas por homens.”.
Que
admoestação atual! Jesus queria mostrar para eles que o reconhecimento e as
consequentes obediência e devoção ao Seu Senhorio sobre suas vidas são mais
importantes do que a observação da lei. Jesus deixou de observar vários
rituais, como por exemplo, guardar o sábado, não por ser um revolucionário
desobediente, mas para nos mostrar o que, de fato, é importante e preponderante
para um verdadeiro relacionamento com Deus: Ele. Por isso afirmou: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida,
ninguém vem ao Pai senão por mim.” (Evangelho segundo João 14:6).
A
Igreja atual acha que está se relacionando com Jesus pelo fato de obedecer, à
risca, doutrinas de homens. Todavia, Jesus deixou bem claro em Seu Evangelho
que, por mais que queira, não está. Pelo contrário, como Ele mesmo afirmou: “Vocês negligenciam os mandamentos de Deus e
se apegam às tradições dos homens.” (Evangelho segundo Marcos 7:8).
Não
confundamos tradição com padrão. Jesus é o padrão usado na formação do ser humano (Gênesis 1:27, Colossenses
1:15). Portanto, Ele é o padrão ao
qual devemos seguir (Romanos 8:29, Efésios 4:13). Não há lugar para
pluralismos. Contudo, pegar este padrão e usá-lo para elaborar métodos,
sistemas e “visões” não é segui-lo, mas criar subterfúgios, ainda que sejam
bíblicos, para angariar adeptos junto ao aprisco (leia-se denominação) de
modo a alimentar o triunfalismo latente.
Negligência.
Este é o nome que Jesus dá ao fato de nos submetermos às doutrinas humanas
(repito, ainda que baseada em preceitos bíblicos, como é comum) com o intento
de servirmos a Deus. Pois estamos deixando de lado o verdadeiro e pleno Evangelho: Jesus Cristo. Isto é engano. É, de acordo com o próprio Jesus, adoração
vã (Evangelho segundo Marcos 7:7).
Conforme o apóstolo Paulo
preconiza, a verdadeira adoração passa pelo exercício da consciência e pela
renovação de mente (Romanos 12:1-2). Não foi em vão que Lutero, lutando contra
as doutrinas papais contidas nas encíclicas que deturpavam o relacionamento
entre Deus e o ser humano na chamada Dieta de Worms, evocou as palavras do
apóstolo Paulo: “Levo cativo todo
pensamento, para torna-lo obediente a Cristo.” (II Coríntios 10:5). Que
nossa plena obediência seja a Cristo, o Logos
que se fez humano (Evangelho segundo João 1:14), e não de doutrinas humanas
derivadas dEle. O original e completo é sempre melhor. Portanto, não nos
contentemos com menos do que Jesus, o Cristo, pois Ele não é apenas o mais
importante, é essencial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário